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Entrevista aos Helloween

Helloween é mais uma banda lendária com a qual tivemos o prazer de falar. Tivemos a oportunidade de falar com Sascha (guitarrista) em tom muito amigável. A banda alemã, agora reunida com Michael Kiske e Kai Hansen, parece mais forte do que nunca, até mesmo em tempos conturbados como estes. Eis o que Sascha teve a dizer:

M.I. –  Olá Sascha, obrigado por nos concederes esta entrevista, é uma honra. Como é que tens passado, tendo em conta as circunstâncias atuais com a situação da COVID-19? Presumo que as coisas estejam a começar de ficar um pouco mais fáceis na Alemanha?

Olá, Portugal! Sim, está tudo a ficar mais fácil porque é verão e os números estão a baixar, portanto as pessoas estão agora de bom humor. É notório que existe um pouco de esperança e uma luz ao fundo do túnel. Sabe bem e estou muito empolgado com o lançamento do nosso álbum, portanto, sim, apesar das circunstâncias, este é um ótimo momento.


M.I. – Em que medida é que a produção do autointitulado álbum "Helloween" foi afetada, se é que foi afetada?

Não, na verdade a única coisa que foi afetada foi a sessão da mistura porque queríamos voar até Nova Iorque, mas não foi possível naquela altura. Felizmente, já tínhamos concluído as gravações e tivemos um pouco de sorte nisso. A produção não foi afetada, mas tivemos mais tempo para trabalhar nas misturas porque queríamos lançar o álbum mais cedo e não foi possível. Por isso, passámos mais tempo a concluir o produto, a tomar decisões sobre as capas e a trabalhar no vídeo de Skyfall.


M.I. – Portanto, este álbum é um trabalho com 12 faixas, sendo que à data desta entrevista apenas Skyfall teve direito ao lançamento de um vídeo. Existem planos para o lançamento de mais vídeos deste álbum num futuro próximo? Como têm reagido os fãs a Skyfall até agora?

Sim, Fear of the Fallen teve um vídeo com letras e haverá outro single a caminho. Devo dizer que temos vindo a receber reações muito boas por parte da imprensa, o que é algo fantástico, porque quando estamos no processo de concluir um álbum, não conseguimos dizer se esse álbum é bom ou mau; estamos simplesmente muito envolvidos na criação e não conseguimos decidir se se trata de um bom ou mau álbum. Por isso, quando recebemos as reações da imprensa, as coisas prometeram muito. Em seguida lançamos o Skyfall e os fãs ficaram loucos, portanto, sim, tenho a dizer que tem sido muito empolgante e mal posso esperar para ver o que vem a seguir.


M.I. – E tu? Estás feliz com o resultado? Existe algo que, agora que o álbum foi concluído, gostarias de mudar?

Sou sempre a favor da mudança (risos). Mal consigo ouvir os nossos álbuns quando ficam prontos, porque nunca estou satisfeito. Sou um perfeccionista e, com o Kai na banda, vemos as coisas pela mesma perspetiva. É essa a nossa natureza, sabes? Nunca será algo perfeito, mas a história tem mostrado que as coisas não devem ser perfeitas para ti; devem ser perfeitas para os fãs e para a banda e, no fim de contas, quando as bandas pensam que os álbuns não são assim tão bons, os fãs acabam por adorá-los, o que pode fazer com que eu acabe por mudar a minha opinião. Mas, como já disse, enquanto criador e estando tão envolvido na criação, é muito difícil ficar satisfeito.


M.I. – Então, não estás satisfeito com algumas coisas. O que mudarias em específico no álbum?

Não sei, se o ouvisse agora mesmo, depois de termos gravado tudo o que gravámos, acho que já não o conseguiria ouvir porque tivemos imensas revisões das misturas. Depois, tivemos uma pausa de 2 meses e em seguida tivemos uma sessão com os jornalistas e essa foi a primeira vez em que tivemos a oportunidade de ouvir o álbum na íntegra e foi também a primeira vez em que pensei "Espera, isto até está muito bom". Antes disso, não estava muito seguro do resultado e acabei por ficar muito surpreendido. 
Existem sempre partes que se podem mudar e ao ouvir as músicas pensamos "há algo que poderia ficar um pouco mais audível aqui" ou "onde está o solo de guitarra?", mas depois vemos outras pessoas a ouvir e verificamos que elas não reparam em coisas desse género. Conheço cada parte destas músicas, trabalhei em todas as músicas deste álbum, portanto entendo que o mundo exterior ouça o álbum de uma forma um pouco diferente.


M.I. – A última vez que Helloween lançou um álbum, foi em 2015 com "My God Given Right". Nessa altura, ainda não estavam reunidos com Michael Kiske e Kai (já vamos abordar isto em mais detalhe). Para além disso, que outras diferenças podemos verificar entre este álbum e "My God Given Right"?

Em primeiro, devo dizer que passámos mais tempo na produção, o que fez uma diferença enorme. O Charlie foi, também, essencial para a realização deste álbum. Ele conhece-nos muito bem, já que trabalhou também com o Michael e o Kai nos seus álbuns a solo, portanto conhece-nos a todos e sabe como retirar o melhor de cada membro; isso foi uma grande ajuda. Além disso, elaborou um grande plano que todos aprovámos. Disse que, no início, quando começámos a produção, gostaria de recriar aquilo que viu ao vivo no espetáculo do Wacken (2018), que foi um espetáculo incrível para nós. Ele disse "fiquei abismado pela vossa energia e pela magia que aconteceu em palco, portanto quero recriar esse ambiente no álbum; quero todos os guitarristas a tocar em todas as músicas e que atuem como se cada um fosse o único guitarrista de solos. Iremos gravar todas as ideias que tenham".  Foi o que fizemos em primeiro e, quando concluímos as primeiras 5 faixas, enviámos todo o material para o outro estúdio em que estava o Kai, ele assumia o controlo destas faixas enquanto nós trabalhávamos nas 5 faixas seguintes e, depois de todas as faixas estarem concluídas, voámos até Tenerife, gravávamos com o Mike e depois decidíamos que partes e faixas de cada membro em combinação poderiam recriar o espírito desse espetáculo. A meu ver foi muito interessante! 
Também recorremos a muitas técnicas de gravação, que não tivemos a oportunidade de utilizar em 2015 uma vez que não tivemos tempo para isso, porque normalmente gravamos tudo em 3 meses e depois voltamos à estrada. Desta vez, foi-nos possível fazer muito mais na produção. E durante esse processo, fizemos muitas coisas porreiras. O Dani entrou em contacto com um antigo amigo do Ingo, conseguiu o antigo set de bateria do Ingo e começou a gravar com isso, o que para mim foi uma ideia verdadeiramente brilhante. Além disso, fizeram gravações em fita, o que é muito pouco habitual hoje em dia, além de ser algo muito moroso. Portanto, fizemos coisas deste género, com material das guitarras, com as vozes e acho que se pode ouvir tudo isso no álbum.


M.I. – Existem, portanto, muitas peças no puzzle que se combinam?

Sem dúvida, e é aí que entra um bom produtor. Enquanto membro de uma banda, podes ter uma ideia do que queres, mas é muito bom ter alguém a combinar tudo em conjunto. Além disso, diria que os Helloween são uma banda muito caótica. Penso que somos uma das últimas bandas de rock n’ roll nesse sentido. As bandas modernas são altamente disciplinadas e rigorosas e buscam apenas a perfeição, ao passo que a magia dos Helloween vem da imperfeição. O que queremos não é fazer algo demasiado perfeito, mas ao mesmo tempo muito perfeito, porque perdemos muito tempo em detalhes.


M.I. – Existe alguma música neste álbum que considerarias a tua favorita e porquê?

Essa é sempre uma pergunta complicada, porque a resposta muda com o tempo. É sempre difícil escolher uma favorita, mas agora que já tive tempo para pensar sobre isso, diria que o álbum é muito forte na sua totalidade. O início e o fim são muito fortes. Depois, há outros aspetos que sobressaem, portanto é um álbum muito forte no seu todo.


M.I – Portanto, a banda reuniu-se com Michael Kiske e Kai Hansen há três anos e, com tantos membros na banda, quão difícil foi produzir este álbum? Como é que flui o processo criativo na banda?

Para nós é muito simples, porque temos muitos compositores na banda, o que é algo muito bom. Noutras bandas, existem um ou dois membros que dão as orientações à banda. Nos Helloween, temos muitos líderes numa só banda e é algo que funciona. Normalmente, todas estas várias personalidades fortes numa só banda acabariam por se atirar às gargantas uns dos outros, mas não é o que acontece e funciona. Há ego suficiente para que possamos discutir pelas coisas que realmente importam, num bom sentido, mas tudo acontece de forma muito respeitosa e isso é o mais importante aqui e é por isso que tudo funciona. As pessoas concentram-se sempre na banda, mas temos um gestor connosco desde 2004, que nos acompanha nas digressões e que trata de nós. Temos a nossa equipa, temos o Charlie, temos tantas pessoas que nos conhecem há tanto tempo que somos já uma família. E isso torna tudo mais fácil. 


M.I. – Do que conseguimos perceber, o Michael não quis contribuir como compositor para o álbum. Sendo uma figura com tanto destaque, por que motivo é que isso aconteceu?

Ele falou connosco desde o início e disse que estava a ter alguns problemas com isso, porque estava a gravar muitas músicas acústicas e não tinha a certeza de que deveria contribuir como compositor. Ele e eu temos uma excelente relação e tentámos algumas coisas com o seu material acústico, mas devido ao timing, não nos foi possível concluir. No entanto, consideramos que são coisas que podem funcionar no futuro. Ele simplesmente não teve tempo para desenvolver as suas ideias, mas tenho a certeza de que será algo que irá acontecer mais para a frente.


M.I. – O que foi que trouxeram para a banda no seu todo? Na tua opinião, que tipo de impacto tiveram na química da banda, uma vez que agora temos mais 2 vocalistas, um dos quais também um guitarrista (Kai Hansen). Como é que isso funciona?

O Michael e eu, como já disse, temos um laço muito forte. Ele é uma pessoa espetacular e muito sensível, o que é algo de que gosto muito e, aquilo que realmente trouxe à banda, é a sua voz mágica. Lembro-me da primeira vez em que ensaiámos a Eagle Fly Free e ele simplesmente sentava-se no chão com o seu microfone e aquilo soava como se estivéssemos em 1987. Fiquei com arrepios e até pensei "que raio é que se está a passar aqui?". E depois o Andi aceitou tudo muito bem e foi como se fossem bons amigos, sabes? Foi muito bom vê-los em harmonia um com o outro. Até as suas vozes se combinam muito bem: o Andi mais agressivo e o Michael mais limpo e técnico… é algo que produz bons resultados, portanto vê-los a divertirem-se em palco e a darem-se bem, é incrível.
Em relação ao Kai, diria que trabalhamos muito bem também, porque aquilo de que gosto muito nele é o facto de ter tanta energia. Poderia até dizer que ele tem mais energia do que muitos jovens guitarristas por aí. Foi isso que ele trouxe. Ele disse "Não quero apenas tocar um par de músicas, um par de clássicos, em palco; quero tocar tudo" e gostei muito dessa ideia, porque caso contrário não seria uma reunião de uma banda em palco. Foi assim que acabámos por ser 7 membros nos Helloween. A certa altura durante a digressão até perguntámos ao nosso gestor "poderíamos no futuro deixar isto dos 'Pumpkins United' e chamar-lhe apenas Helloween?", porque por esta altura já todos sabem que nos reunimos e que nos sentimos como uma banda.


M.I. – Desde que o Michael e o Kai se juntaram, viajaste com eles na digressão Pumpkins United. Fala-nos mais sobre isso, como é que surgiu esta ideia e qual foi o ponto de maior destaque da digressão em particular?

A ideia surgiu de forma natural. Era algo que se estava a desenvolver há anos. Um membro da nossa gestão estava em produção em conjunto com o Dennis Ward, que é outro produto no nosso álbum mais recente, e eles acabariam por criar os Unisonic com o Michael Kiske e eu viria a juntar-me a eles mais tarde. Pela mesma altura, o Kai estava com os Gamma Ray nas nossas digressões de Helloween, portanto claro que houve conversas no sentido de acontecer uma reunião e o Kai alinhou. Portanto, pensámos que se talvez o Michael voltasse ao mundo do Metal – o que viria a acontecer mais tarde com os Unisonic – quem sabe, talvez conseguíssemos unir esforços e tentar fazer com que isso acontecesse. Tivemos um encontro onde nos juntámos todos e foi muito bom, portanto decidimos começar e ver o que poderia acontecer.


M.I. – Com o novo álbum, presumo que estejas ansioso por voltar aos palcos para o promover. Existem alguns planos para novos espetáculos ao vivo em breve? Algum plano para Portugal? 

Se tudo correr bem, planeamos sair em digressão pela Europa no início de abril do próximo ano. Espero mesmo que aconteça, mas não quero ficar muito empolgado, porque nunca se sabe nos dias de hoje. Já adiámos uma digressão duas vezes e, para além de querer promover o álbum, tenho muitas saudades de sair em digressão. Quero apenas atuar em palco e divertir-me, sabes?


M.I. – Como é que foi estar que em Portugal da última vez? Não estive no espetáculo de Pumpkins United, mas estive na primeira edição do Vagos Metal Fest.

Foi fantástico! Na Europa, os países de língua latina são os mais doidos e adoramos isso! Adoramos atuar nesses países.


M.I. – Ora, sobre ti em particular, Sascha, tens estado com a banda há já quase 20 anos. Como é que descreves a tua viagem com os Helloween até agora o que mudou na tua vida desde que te juntaste?

A mudança aconteceu logo no início. Tudo mudou a partir daí. Tinha 25 anos quando me juntei à banda, era ainda muito novo. Nem sequer tive tempo de me adaptar e foi tudo muito estranho também. Nessa altura, quando me juntei à banda, já nem sequer estava na cena do Metal, sabes? Fazia parte de projetos em estúdio e nunca cheguei a saber que os Helloween estavam à procura de um guitarrista. Então, o Charlie telefonou-me e disse "Não sei se estás interessado em voltar à cena do Metal, mas os Helloween estão à procura de um guitarrista e acho que te darias muito bem com o Michael Weikath; ele poderá inclusive vir a telefonar-te nos próximos dias". Depois, 30 minutos mais tarde recebi essa tal chamada e, nesse dia eu estava ansioso por me encontrar com uma rapariga com quem andava e já estava atrasado, portanto disse-lhe ao telefone "Olá, olha, tenho alguma pressa, portanto diz lá o que é que queres, porque tenho de ir embora" (risos). Isto agora pode parecer estranho para os fãs de Helloween, mas o que aconteceu é que ele me disse que ficou muito impressionado por essa atitude, porque ele estava a receber uma quantidade enorme de cassetes de demonstração e de candidaturas de excelentes guitarristas que queriam a vaga e depois aparece este tipo a quem ele telefona e lhe diz "Pá, liga-me mais tarde". Portanto, mais tarde acabaríamos por voltar a falar por telefone e acabaríamos por passar horas a falar e criámos uma grande ligação. A partir desse momento, a minha vida acabaria por mudar! Desde então, aconteceram muitas coisas loucas e não tive tempo de me adaptar. Só me apercebi de que fazia parte da banda quando fizemos uma sessão de fotos e um vídeo. Foi quando percebi "Epá, faço parte da banda, há algo a acontecer". Por essa altura, sentia-me basicamente um guitarrista de estúdio e depois tudo aconteceu muito rápido. Estávamos prestes a atuar no Brasil, e eu nunca tinha estado antes no Brasil, portanto a minha vida mudou totalmente e só ganhei noção disso anos mais tarde. São muitas coisas para processar, principalmente para um jovem. Desde então, acabei por me descobrir e me recriar várias vezes. Esta agora é a minha família.


M.I. – Depois de tantos anos, como consegues manter a criatividade a fluir para os riffs habitualmente fortes e melódicos a que estamos acostumados nos Helloween? A que influências, se existentes, recorres para encontrar inspiração?

Para mim, pessoalmente, existem muitas coisas que me podem influenciar. Pode ser voltar ao material antigo de Helloween, pode ser sair em digressão... tenho tantas atividades que me influenciam imenso! Por exemplo, há 12 anos, comecei a trabalhar como fotógrafo de moda e ninguém nesta área sabe que sou um dos guitarristas de Helloween. Isso é muito inspirador quando voltas à música, porque conheces todos estes doidos na cena da moda com uma "vibe" diferente e outro sentido de arte, e isso pode inspirar-me para a minha arte e para outros projetos musicais. Não me fico por uma cena, preciso sempre de experimentar coisas diferentes e isso é verdadeiramente inspirador para mim.


M.I. – Enquanto guitarrista de Helloween, podes ser facilmente considerado um exemplo a seguir para muitos jovens guitarristas por aí. O que gostarias de partilhar para que eles possam alcançar o mesmo sucesso que tu?

Paixão, diria que a paixão é a coisa mais importante. E que nunca deixem de sonhar. Sei que muitas pessoas não gostam que diga isto, porque outras pessoas dizem algo do género "Não, é trabalho árduo" e eu respondo "Bem, sim, mas o trabalho árduo é a base de tudo". Claro que é preciso trabalhar de forma árdua para chegar a algum lado, mas acima de tudo penso que, enquanto músico, é necessário viver o sonho e nunca parar de sonhar. O que realmente acontece ao longo do caminho é que muitas pessoas ficam com inveja, não querem ver outras pessoas a serem bem-sucedidas e podem destruir sonhos. Não deixem que isso aconteça. Já estive desse lado, as pessoas tentaram fazer isso comigo e apenas digo: mantenham a paixão, continuem a ser apaixonados sobre aquilo que fazem e nunca parem de sonhar. É o vosso sonho, a vossa vida e mais ninguém decide a vossa vida.


M.I. – Disseste que já passaste por isso. Como é que aconteceu e em que contexto aconteceu?

Acontece sempre, nunca para. Quanto mais sobes, mais as pessoas te tentam puxar para baixo. Venho de uma pequena região onde todos se conhecem e, quando comecei, era o chamado de jovem talento, passando por estúdios na minha região como guitarrista com 16 anos e a gravar álbuns com pessoas mais velhas. Era um dos músicos mais jovens na minha cidade que trabalhava profissionalmente. Portanto, quando atingi um certo nível, muitas pessoas ficaram com inveja e tentaram demover-me, e fui sempre contra isso. Sempre acreditei em mim, embora isto acontecesse muitas vezes. Existem sempre conflitos. Por vezes, há inseguranças e perguntas-te sempre "E se eles têm razão?". Isto nunca para. Quanto mais subires, mais pessoas acabarão por surgir e tentar fazer com que falhes. Já vi muitos jovens músicos a desistir. Eram amigos meus muitos talentosos na minha juventude, eram até mais talentosos do que eu, mas desistiram porque não conseguiram lidar com a pressão. É muito triste. Portanto, quando me pedes conselhos para os jovens músicos, digo: nunca desistam, nunca mesmo. E nunca acreditem no que as pessoas vos dizem. É a vossa vida, nunca sabem quando é que pode acabar. Continuem a trabalhar no vosso sonho. Não tem nada a ver com as vossas capacidades. E isso é o que acho tão entediante na música, principalmente na cena do Metal de hoje em dia. Parece que se tornou nos Jogos Olímpicos! Tudo se resumo à rapidez e à perfeição com que consegues tocar. Com este álbum, provámos que a imperfeição é a perfeição. Adoramos imperfeições porque somos humanos. Por isso, com esta tendência de sermos tão perfeitos, tudo se tornou entediante. Apesar de tudo, não culpo ninguém por isso e às vezes chega até a ser impressionante, mas o rock n’ roll não tem nada a ver com isso. 


M.I. – Com uma carreira tão longa nos Helloween, ainda tens algum objetivo por alcançar?

De momento, com esta pandemia, estou apenas grato por tudo o que aconteceu até agora. Claro que tenho objetivos, mas com os Helloween estou apenas curioso de ver até onde é que isto vai. Vivo no momento e estou feliz por termos concluído este álbum, e está a ser muito recebido pelo que consigo perceber. Estou por sair em digressão. Se existe algo que devemos aprender desta pandemia é que não devemos fazer planos (risos). Devemos continuar a fazer o que temos feito e sermos felizes o máximo que conseguirmos. Quero apenas viver o momento, sabes?


M.I. – Olhando em retrospetiva, existe algo de que te arrependes na tua carreira?

Se existe algo, é de que quando era mais jovem, tivesse tido a capacidade de processar o que estava a acontecer mais cedo para que pudesse ter desfrutado de tudo isso mais cedo também. Isto é, os primeiros dois álbuns e digressões de Helloween foram extremamente difíceis de processar porque isto se tornou numa grande parte da minha vida. Houve muita pressão e quando me juntei à banda não sabia nada de nada sobre pressão. Não sabia que havia expectativas a cumprir ou antigos fãs a chatearem-me. Por isso, foi algo novo para mim ter de lidar com toda esta pressão e, ao mesmo tempo, ter de proporcionar músicas de alta qualidade. Isto é, encontrei um grupo de pessoas muito talentosas, principalmente o Michael e o Andi. O Andi é uma máquina compositora. Quando ouvi as suas primeiras demos, fiquei tão impressionado que acabei por querer ser tão bom como ele. Isto era todo um outro nível e uma chamada à realidade. Era tanta coisa para processar e analisar… Ao mesmo tempo, vi pessoas a compararem-me e a dizerem-me quem é que devia ou não devia ser. São aspetos que demoram a processar, mas felizmente consegui e agora com o Kai e o Michael de volta ficou tudo melhor. As últimas digressões, por exemplo, foram espetaculares, com os Scorpions e os Whitesnake… foi de loucos! Por vezes lembro-me do Sascha com 14 anos e digo "Quem diria!" (risos).


M.I. – Ora, tu sendo alemão pareces a pessoa ideal para responder a isto, mas vemos uma grande quantidade de bandas de Heavy Metal a sair da Alemanha. De Kreator e Rammstein a Destruction e Helloween, claro, e muitas mais. O que é que tem a Alemanha em particular que contribui para o sucesso de tantas bandas por aí?

Diria que é mais ou menos a disciplina, talvez. Ou talvez o sonho. Isto é, basicamente, toda a história do rock n’roll se baseia no que aconteceu nos Estados Unidos ou no Reino Unido nos anos 60 ou 70. De alguma forma, as bandas alemãs foram muito inspiradas por isso e de alguma forma tentaram adicionar algo. Em algumas bandas, isso torna-se muito claro, principalmente no caso de Rammstein! É mais alemão do que a Alemanha (risos). É verdadeiramente interessante que tenha funcionado! Lembro-me de uma das primeiras cassetes com várias músicas misturadas que o meu tio me deu e que tinha Scorpions. É ainda um país pequeno, mas é certamente interessante que tenha funcionado, porque a Alemanha não é propriamente um país muito orientado para o rock n’roll, sabes? (risos).


M.I. – Sascha, gostaríamos certamente de vos ver a todos nos nossos palcos portugueses em breve. Existe algo que gostarias de dizer aos nossos fãs?

Espero que possamos todos sair desta pandemia e voltar aos espetáculos. Estou muito orgulhoso de todas estas pessoas em trabalhos difíceis. No ano passado, tive de ficar no hospital e verifiquei que as pessoas que lá trabalham são verdadeiros heróis, portanto não me queixo muito sobre a situação de não poder atuar ao vivo, mas espero mesmo que isso possa acontecer e espero que todos se mantenham sãos e salvos. No fim de contas, será um mundo melhor.


M.I. – Muito bem, Sascha, muito obrigado pelo teu tempo dispensado, foi uma grande honra para todos nós.

Obrigado!

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Entrevista por João Guevara