About Me

Entrevista aos Noctiferia

Com mais de 20 anos de carreira, os Noctiferia são um dos fundadores da subcultura do metal esloveno e uma das bandas mais internacionais e reconhecidas da Eslovénia.
Com um estilo difícil de descrever, a banda percorre os vários espectros do metal industrial, sinfónico, black e death, havendo sempre qualquer coisa que agrade a qualquer fã dos géneros mais extremos. E essa é a sua força que, aos poucos, vai conquistando os palcos europeus.
Este foi o ano de fazer, de novo, algo diferente e lançam Reforma, um álbum de covers e de tributo a Laibach, a lendária banda eslovena formada nos anos 80.
Estivemos à conversa com os Noctiferia para conhecer um pouco mais sobre a história da banda e saber o porquê do lançamento de um álbum de tributo.

M.I. - Ei! Como estão? Com saúde e em segurança? Obrigado por responderem às nossas questões.

Ei! Obrigado pela preocupação. Estamos todos bem.


M.I. - Então vamos começar… Para quem não vos conhece, podem explicar quem são os Noctiferia? Como se conheceram, porque decidiram começar uma banda ...?

Formámos a banda no liceu, gravámos a primeira demo em 1996 e fizemos o nosso primeiro concerto em 1997, abrindo para os Enslaved. No começo, éramos influenciados, principalmente, por Morbid Angel e pela cena metal escandinava. A partir daí, começámos a experimentar mais com a música que criámos e hoje é uma mistura de black, death, groove, industrial, ambiental, etc... Basicamente, criamos a música que nós próprios gostamos. Como estamos em atividade há mais de 20 anos, também fizemos digressões pela Europa e China com grandes nomes e tocámos em alguns festivais bem conhecidos.


M.I. - Qual a origem do vosso nome? Nos primeiros anos passaram por Emetica. Porquê a mudança?

Como mencionámos antes, quando gravámos a nossa primeira demo, estávamos sob a influência da cena black metal e naquela época o nome combinava bem connosco. Em parte, foi uma sugestão de um amigo. Não é o nome que escolheríamos hoje, mas é o que é.


M.I. – Vocês são uma banda muito atmosférica. Experimentam muito e raramente mantêm o que fazem antes. Já tiveram vocais femininos, sintetizadores, flautas... Como se caracterizam? Acham que se encaixam num estilo específico?

Por usarmos muitos sons diferentes e nos inclinarmos para o som do metal moderno, fomos rotulados como uma banda de metal industrial mas, honestamente, nunca nos considerámos, realmente, uma banda industrial. Não nos caracterizamos, os outros é que fazem isso. E não, não nos encaixamos apenas num estilo de música.


M.I. - Quais são as vossas maiores influências musicais e de onde tiram as ideias para as canções?

Hoje, as ideias vêm, principalmente, de improvisos e alterações em casa. No início, poderia dizer-te a influência de cada uma das nossas canções, mas hoje a maior influência é a própria vida.


M.I.- O vosso último álbum de originais foi em 2016. Após um intervalo de quatro anos, decidiram por uma homenagem. Porquê?

Foi uma decisão espontânea. No início, planeámos um pequeno projeto de uma canção. Mais tarde, tornou-se em três canções e, em seguida, um álbum inteiro. Seguimos a corrente como sempre fizemos mas desta vez, já estamos a trabalhar no próximo álbum de estúdio.


M.I. - Talvez a resposta seja muito óbvia, mas… Porquê Laibach?

São a única banda eslovena, ativa internacionalmente, que nós, como banda, admirávamos quando éramos adolescentes e isso transparece nos nossos trabalhos anteriores. Além disso, eles merecem.


M.I. - Reforma é uma constelação de estrelas! Conta com a participação de David Vincent (ex-Morbid Angel, Vltimas) Atilla Csihar (Mayhem), Jorgen Munkeby (Shining)… Foi misturado e masterizado por Henrik Udd (At The Gates, Bring Me The Horizon…) e a arte é de Jean-Emmanuel "Valnoir" Simoulin (Ghost, Behemoth, Amorphis…). Como conseguiram trazer tantos nomes para este álbum?

Todos eles, exceto o Henrik, têm uma coisa em comum - são todos grandes fãs de Laibach. E ficaram muito felizes e honrados por fazer parte deste projeto e nós também.


M.I. - Quanto tempo demorou a gravar este álbum? Foi fácil transformar as canções e dar a vossa marca pessoal?

Não tínhamos um plano exato, por isso, o álbum levou quase três anos para ser concluído. Curiosamente, criar as nossas próprias versões das canções foi surpreendentemente divertido, é por isso que terminamos com sete delas.


M.I. - Uma das histórias mais conhecidas de Laibach é a atuação na Coreia do Norte. Gostariam de ter essa experiência?

Seria interessante, com certeza, mas como temos algumas informações privilegiadas, provavelmente recusaríamos essa experiência.


M.I. - Receberam algum feedback de Laibach?

Todos eles ouviram o álbum e recebemos elogios de Jani Novak.


M.I. - Todos os vossos álbuns foram distribuídos por uma editora diferente. Porquê?

Os dois últimos foram lançados pela mesma. Para os outros, foi principalmente o resultado de circunstâncias diferentes. Algumas fizeram um trabalho muito mau com a promoção, outras nunca nos pagaram, etc.
Estamos sempre à procura de um parceiro confiável que, muitas vezes, é difícil de encontrar na indústria musical.


M.I. - Qual é o vosso álbum de covers favorito de todos os tempos? Dentro ou fora do metal.

Não é um álbum, mas War Pigs dos Faith No More é a canção que eu ouvia quando era criança sem saber que era um cover e gostei dela! Ultimamente, What Else Is There? dos Enslaved está demais!


M.I. - Como é o processo de composição das vossas canções? Quanto tempo demora? Quem faz o quê?

Demora quando não temos prazos. Tudo começa com o riff de guitarra e então começamos as camadas. As letras são as últimas. A maior parte da música até agora tem sido escrita pelo Igor, o Gianni faz demos da bateria e outras ideias rítmicas e as letras são feitas, principalmente, por mim.


M.I. - Como está, atualmente, o metal esloveno? Que bandas podem recomendar?

Está vivo e com mais bandas do que nunca. Há muitos concertos com bandas locais e temos um dos melhores festivais de metal do mundo, o Metaldays. A mais nova adição à cena são os Skyeye - heavy metal com um futuro brilhante pela frente.


M.I. - Em 2015, foram a primeira banda eslovena a tocar no Wacken Open Air. Foi uma surpresa ou já esperavam? Como é que isso aconteceu? Como correu, qual foi a reação do público ...?

Foi uma surpresa. Sabíamos que era uma coisa grande, mas tínhamos um concerto num festival na noite anterior, a 1300 km de distância, por isso, andámos na estrada a noite toda e chegámos cansados ​​ao Wacken. O concerto foi ótimo, podes conferir no Youtube. Muita gente, ótimo ambiente, apenas sem tempo de palco suficiente. Em suma, uma grande experiência e muito lamacenta!


M.I. – Já fizeram digressões com grandes nomes. Qual te marcou mais? Alguma história divertida de algo incomum que tenha acontecido?

Talvez a digressão mais memorável tenha sido a europeia com In Flames. Éramos a única banda de apoio e tocávamos para mais de 3000 pessoas, todas as noites. Além disso, eu tive o Vorph dos Samael a trazer-me papel higiénico num posto de gasolina búlgaro, a meio da noite; a visita a Auschwitz com Mayhem e com o nosso vocalista vestindo um capuz Zyklon-B, sem intenção (N.A.: Zyklon B era uma marca de um pesticida à base de ácido cianídrico e nitrogénio. O nome deriva dos substantivos alemães dos ingredientes principais e a letra B, uma das suas diferentes concentrações. Este composto foi escolhido por proporcionar, com eficiência, uma morte rápida. O produto é conhecido pelo seu uso na Alemanha nazi, câmaras de gás instaladas em Auschwitz-Birkenau outros campos de extermínio); o Rob Barrett (guitarrista dos Cannibal Corpse) conduzir a nossa carrinha, porque era não é permitido fumar erva no autocarro da digressão, etc.


M.I. - Planos para o futuro? Alguma digressão planeada? Quer dizer, quando o mundo voltar ao normal...

Esperávamos fazer uma digressão no final deste ano, mas teremos que mudar tudo para 2022 por causa de toda a merda que está a acontecer no mundo agora.


M.I. - Quando podemos esperar um novo álbum de Noctiferia? De originais, quero dizer.

Estamos a trabalhar nisso e está planeado para ser lançado no final do próximo ano ou no início de 2023.


M.I. - Quase a terminar… Últimas palavras para os nossos leitores?

Obrigado a todos pelo apoio! Oiçam o Reforma e os três vídeos que fizemos até agora, mas mais em breve.
Fora isso, fiquem seguros, paz e amor.


M.I. - Mais uma vez, obrigado por responderem às nossas perguntas. Espero vê-los em breve num palco. Se for em Portugal, melhor ainda. Continuem a fazer o que fazem tão bem e fiquem seguros.

For English version, click here

Entrevista por Ivan Santos