Reportagem: Praying Mantis, Oxido e Rage and Fire @ RCA Club, Lisboa

Talvez seja necessário ser um verdadeiro fã de heavy metal para perceber a importância de assistir a um concerto dos Praying Mantis. Não se trata de uma banda qualquer, o conjunto tem quase 50 anos de idade, mais de uma dezena de álbuns editados e são uma das poucas bandas, ainda no ativo, conhecidas por pertencerem àquilo que ficou conhecido como new wave of british heavy metal. O seu mais recente álbum, Katharsis, é o motivo para esta tournée ibérica que arrancou precisamente no nosso país. A acompanhá-los nestas datas pela península estão os Óxido e para este concerto em particular juntaram-se ainda os Rage and Fire, que assentaram como uma luva no cartaz.

Coube precisamente aos Rage and Fire darem o pontapé de saída nesta noite que prometia muito. Apesar de serem uma banda ainda recente, esta é composta por músicos experientes e toca um heavy metal clássico, com duas guitarras a solarem alternadamente, apoiadas por uma bateria e um baixo fortes. “Rage and Fire” e “Black Wind”, ambos temas da sua demo de estreia, foram os interpretados no arranque da atuação destes lisboetas. Um concerto enérgico, que, excluindo o facto de um dos pratos da bateria ter tombado logo no primeiro tema, correu sem percalços. “20th Century Man”, um dos que constará no álbum de originais que está para breve, mostrou ser mais rápido e o público gostou. “The Last Wolf” foi a música escolhida para a despedida da banda, com a promessa de interpretarem um tema dos W.A.S.P. num próximo concerto.

Alguma curiosidade pela atuação dos espanhóis, Oxido, talvez por eles cantarem em castelhano, algo que não sendo de todo inédito, ainda provoca alguma estranheza aos mais fiéis apreciadores da língua inglesa. Essa desconfiança, se a houve, ficou rapidamente posta de lado. Vindos de Pamplona, os Oxido conquistaram de imediato o público presente: não só pela qualidade da sua música, mas também pela simpatia da banda, principalmente do vocalista Iñigo de Miguel, que esteve sempre muito comunicativo. Com um heavy metal tradicional, percebeu-se logo ao primeiro tema, “Cicatrizaré”, que a guitarra de Feli Jiménez tem um papel crucial nas composições destes veteranos. Temas dos seus três álbuns de originais foram interpretados, com lugar até a uma balada, “Me Falta Viento”, dedicado ao público feminino presente na sala. “Mal Vino” tornou-se caricato pois o vocalista segurava uma garrafa de água, imagem que contrastava sobremaneira com o que estava a cantar. O público parecia estar a gostar bastante da atuação dos Oxido. Prova disso foi quando o vocalista, já na reta final, perguntou se queriam ouvir mais um, ou dois temas, a resposta ter sido a segunda opção, optando a banda por interpretar três músicas, todas elas muito boas: “Sonarás”, “Eléctricos” e “Oxidados”, dedicada a todos os que, apesar da idade, se recusam a deixar de apoiar o heavy metal.

Faltava o “prato principal”, por assim dizer, e o toque para reunir foi dado pelo baterista dos Praying Mantis, através de um forte assobio que conseguiu conquistar a atenção de todos os presentes. Logo de seguida a restante banda entrou sobre fortes aplausos. Havia muita ansiedade por escutar a coleção de temas clássicos que os manos Troy e companhia acumularam ao longo de décadas. “Praying Mantis” foi apenas a primeira dessas malhas, nem parecia que havia um álbum novo para apresentar e foi preciso esperar pelo quinto tema: “Cry For the Nations”, logo seguido de “Closer to Heaven” para ouvirmos duas músicas extraídos de Katharsis. É espantoso, porém, como mesmo estas novas composições “cheiram” tanto aos anos 80. Algo também espantoso, para não dizer magnifico, prende-se com a voz de John Cuijpers. Que vozeirão impressionante. Trata-se de um excelente vocalista que encaixa na perfeição na música dos Praying Mantis, dando-lhe ainda mais qualidade. Tal como na atuação dos Oxido, também houve direito a uma balada, esta com quase 30 anos, “Dream On”, para de seguida serem dados os agradecimentos ao público e os parabéns pela bonita Lisboa, cidade que a banda aproveitou para passear e conhecer melhor.
Estávamos a chegar à parte final do concerto, um daqueles que parece estar a passar depressa de mais. Mesmo a propósito, “Times Slipping Away” antecedeu a tão aguardada “Captured City”, que mexeu muito com todos os presentes na sala, que ajudaram a cantá-la. Poderíamos dizer que se o concerto tivesse terminado após aquele tema, a maioria dos presentes sentir-se-ia realizada, mas tal não aconteceu. Sem cinismos, os Praying Mantis disseram que não iam abandonar o palco, apenas para voltarem momentos depois. Anunciaram que iam tocar mais três músicas - para contentamento de todos os que estavam a assistir -, que foram: “Letting Go”, “Simple Man”, um original dos Lynyrd Skynyrd que surpreendeu todos e, por fim, para terminar da melhor forma possível, uma música incontornável: “Children of the Earth”.
Muito mais poderia ser ainda acrescentado, tratou-se de outra excelente noite de heavy metal, daquelas que a Metals Alliance tão bem sabe proporcionar ao público português.