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Entrevista aos Apolo 70




Os Apolo 70 são uma das mais recentes bandas do panorama português. O trio, cujo principal objectivo é fazer música para dançar, lançou recentemente os seus primeiros trabalhos. Três EP’s que exploram diferentes momentos da noite – “00:00”, “03:00” e “06:00” – são um excelente pontapé de saída para conhecermos uma das bandas que certamente irá dar muito que falar no meio português.

M.I. - Quem são os Apolo 70? Apresentem-se para quem ainda não vos conhece.

Nuno: Então, vou começar por mim, o meu nome é Nuno Coelho. Durante o dia sou engenheiro informático, aliás, neste momento estou a usar o PC do trabalho para fazer esta entrevista. Depois, à noite, sou baixista dos Apolo 70.
Diogo: Eu sou o Diogo, também tenho um trabalho, e sou baterista dos Apolo 70.
Jorge: Eu sou Jorge e toco guitarra, por agora só guitarra, epá e nós somos um grupo de amigos que já tocam juntos há bastante tempo.
Nuno: Há mais de 10 anos.
Jorge: Já passámos por outras bandas, aprendemos a tocar juntos, e pronto, acho que é isso quem nós somos. Depois de outros projetos, agora estamos aqui neste, com um conceito mais próprio.


M.I. - Disseram que já tocam juntos há mais de 10 anos, mas a banda em si só existe há dois, certo?

Diogo: Nós tínhamos para aí 16 anos quando nos conhecemos e começámos a tocar. Já lá vão 10 anos. E foi sempre interessante, porque ao longo do desenvolvimento... Sei lá, eu sou um bocado poético, mas, ao longo do desenvolvimento das nossas vidas, sempre fomos mantendo a banda “qb”, não tanto, se calhar a banda em concreto, mas a nossa relação e a vontade de continuar a fazer música. E depois com o desenvolvimento dos nossos gostos e da nossa forma de ser, fomos sendo puxados e empurrados para um lado ou para o outro. A dada altura, o nosso projeto anterior, que éramos nós os três e mais dois amigos, parou de fazer sentido, a música em si já não nos dizia muita coisa, e decidimos terminar. Depois começámos este projeto, uma coisa mais direta, mais crua, só nós os três. Um bocadinho reduzidos ao fundamental de uma qualquer banda de rock: um baixo, uma bateria e uma guitarra, e nasceram os Apolo 70, já com um sentido de frescura e de exploração que nós sempre fizemos a nível sonoro e musical, mas já com um rumo, com uma direção que é a questão da música de dança.
Jorge: Em comparação, os outros projetos eram bastante mais amadores. Com este, pronto, quando nos juntámos já tínhamos uma visão daquilo que queríamos e uma melhor visão de como fazer as coisas logo desde o início. Lá está, na outra banda nós começámos aí desde os 16 anos e, pronto, ia avançando organicamente, mas não havia, por exemplo, a questão de ter uma imagem estabelecida. Lá está, não havia esse conceito. Se calhar aqui até houve um “Full Circle”, na perspetiva em que nós começámos por tocar coisas muito na onda do Rock alternativo, Grunge, etc. Depois, pronto, passámos aí para uma fase mais Rock Psicadélico, Progressivo... assim, um progressivo mais Old School. Se calhar o progressivo manteve-se, mas o psicadélico foi-se à vida. E, pronto, para continuar aquilo que o Diogo estava a dizer, o outro projeto era bastante mais amador. Neste nós temos mais uma visão de tudo, daquilo que somos e para onde que queremos ir.


M.I. - Como surgiu o nome Apolo 70?

Jorge: É um centro comercial em Lisboa, ali ao pé do Campo Pequeno, e pronto, nós roubamos diretamente o nome, sem grandes rodeios. Eu na altura trabalhava ali naquela zona, ali Entrecampos/Campo pequeno e ia todos os dias beber café à hora de almoço, mesmo ao lado do Apolo 70. Epá, gostei do nome, comecei a magicar e depois, pronto, eu sugeri-lhes e ficámos com o nome do centro comercial. (risos)


M.I. - Não tem nada que ver com astronomia ou o espaço, então?

Diogo: Tem a ver, no sentido em que a aprovação veio porque toda a gente gostou do nome. E a verdade é que é Apolo 70 por causa do centro, mas pode não ser. Eu, por exemplo, gostei do Apolo exatamente por isso, porque me leva um bocado à exploração espacial. Então achei graça também a essa possibilidade de no futuro fazer qualquer coisa com isso. Era um nome que abria muitos horizontes e muitas portas, e isso foi uma coisa que também me fez, logo à partida, gostar do nome. E o centro também é icónico o suficiente para isso.
Nuno: Só um aparte engraçado. Nós até temos uma história um bocado complicada com nomes de bandas nos nossos últimos projetos e Apolo 70, até agora, é o melhor, sem dúvida alguma. (risos)


M.I. - Como é o vosso processo de composição?

Nuno: Normalmente, a maneira como nós funcionamos é: a grande força motivadora, ou a grande força motriz por trás da banda é o Jorge. Ele normalmente traz as ideias de uma forma crua, e depois o processo acaba por ser pegar nas ideias que ele tem, fazer uma filtragem e, depois todo um processo de refinação, até se tornarem músicas com partes completas, e com letras. Ora bem, isto não é um processo estrito em pedra. Nenhum de nós é impedido de trazer músicas para o projeto, mas aqui, não me importo de dizer, a grande força motriz por trás do projeto é o Jorge, e processo flui dessa forma.
Diogo: Sim, surge uma maqueta, de uma série de riffs, de sequências, de coisas que o Jorge achou interessante. Mostra-nos, depois estamos ali um bocadinho em brainstorming, pegando no que foi feito. Inicialmente muito à base da Jam, hoje em dia já conseguimos ser um bocadinho mais focados, porque já gostamos de tratar o nosso som de uma forma um bocadinho mais...
Nuno: O processo já está mais automatizado.
Diogo: Sim, um bocadinho mais direto. Já temos mais noção do que é que as coisas vão ser ou gostaríamos que fossem, e vamos construindo na base disso. Sempre fazendo pequenos inputs, vamos fazendo umas coisas, “aqui fica diferente”, “ali fica diferente”, “fica assado, fica cozido”. E pronto, começam a surgir as ideias. Por norma, o instrumental primeiro, acho que até é o que nós valorizamos mais nas nossas músicas. Sentimos que, para ser uma música, o instrumental
tem que estar muito forte. Depois partimos para a letra em força, e aí, às vezes mesmo em força, tirada a ferros. (risos) Para criarmos as melodias, as harmonias das vozes... porque nós também gostamos de sentir a voz como um instrumento.


M.I. - Como abordam as vossas letras? Têm uma mensagem específica a passar ou preferem pensá-las apenas como sons? E como abordam a voz, no geral, porque nenhum de vocês é cantor assumido e acabam por cantar os três sem nenhum se destacar de forma mais convencional.

Jorge: É assim, acho que é isso que tu disseste. Apesar de nós destacarmos, se calhar, uma voz mais do que as outras, continuando aquilo que o Diogo disse, nós somos mais instrumentistas do que propriamente vocalistas. Eu acho que qualquer um de nós, mesmo o Nuno, que é a voz principal, damos todos mais importância aos nossos instrumentos do que à voz, tanto que nós até nem damos assim tanta ênfase às melodias vocais. Pronto, há umas músicas em que sim, isso surge naturalmente e achamos que fica melhor, mas normalmente o nosso primeiro instinto é ir por um lado mais “spoken word”, mais gritado. Até porque a nossa música também são mais exercícios de ritmo do que propriamente melodia ou harmonia. Agora estamos a começar a trabalhar umas coisas que se calhar são mais interessantes melodicamente. Estes 3 EP’s que estão cá fora, tendo em conta que nós queremos fazer é música de dança, é a isso que damos mais importância e isso acaba também por se transpor para a voz. Acabamos por dar um pouco mais importância à métrica e à parte rítmica do que propriamente à parte melódica e harmónica. Em relação às letras, para este EP, quando nos surgiu o conceito foi muito fácil chegar ao resto das letras. Nós queríamos que as letras que nós fizéssemos espelhassem 100% a forma como nós queríamos que as pessoas vissem a nossa música, ou seja, nós queremos fazer música para dançar, música agressiva para dançar. Pronto, com instrumentos mais tradicionais de Rock. Portanto, desde o início começámos logo a pensar que queríamos escrever sobre noite, sobre saídas à noite, sobre dançar e depois quando chegámos aqui ao conceito dos 3 EP’s do decorrer de uma noite, aí pronto, ainda mais óbvias se tornaram as letras das músicas. Eles [conceito e letras] surgem aqui um pouco lado a lado. Nós primeiro, com essa ideia de que queríamos escrever sobre a noite, escrevemos 2 letras para 2 músicas, que foi a “Bailetalha” e a “Paranóia”, e depois também foi a partir dessas músicas que surgiu aqui o conceito para os 3 EPs, do decorrer de uma noite. Vimos aí que tínhamos, por assim dizer, a capa e a contracapa de um possível conceito do género. Mas, pronto, obviamente que nós queremos diversificar, não é? Não queremos estar a escrever sobre saídas à noite para sempre, nem há assim tanto faz dizer sobre isso. (risos) Mas para estes primeiros trabalhos em que estamos a aparecer e queremos passar a nossa mensagem, a forma como que as pessoas nos vejam muito concretamente é de “é para dançar” e estar associados e colados à música de dança, surgiu aqui muito naturalmente. Temos de falar sobre noite, temos de falar sobre dançar, que é aí que se ouve música de dança.
Diogo: Sim, acho que uma coisa curiosa agora vai ser ver para onde é que as coisas vão partir. Liricamente, estes 3 EP’s tinham uma ideia bem definida e nós tínhamos, como o Jorge estava a dizer, uma mensagem para transmitir, que sabíamos qual era. Acho que a parte mais interessante agora nos próximos tempos, enquanto estivermos a fazer...
Jorge: Agora as pessoas já sabem qual é a nossa base, podemos construir sobre isso.


M.I. - Antes de perguntar sobre ideias para o futuro, já explicaram o conceito destes três EP’s, mas porquê esta a decisão em vez de lançarem apenas um álbum?

Diogo: Foi uma coisa que surgiu de forma algo natural, nós na altura também em conversa com outras pessoas que nos ajudaram neste processo criámos um bocadinho uma base para o que iriam ser os nossos lançamentos e como é que iríamos fazer a coisa e transmitir esta ideia que nós tínhamos. E depois com o material que já tínhamos, conseguimos identificar que realmente a coesão não era das 9 músicas em si, mas tínhamos coesão, musical e a nível de mensagem e desta ideologia dos EP’s, três a três, ou seja, 1 grupo tripartido de uma ideia e de um tipo desonoridade. E acho que foi um bocadinho por aí.
Jorge: Eu acho que estes nossos três EP’s revelam a fase em que estamos. Pronto, são 3 EP’s de uma banda a começar, que ainda não sabem o que é que são. Nós tínhamos o nosso conceito de fazer música para dançar e, dentro disso... Com muitas influências, que pelo menos eu, estava a ter na altura, foi quando comecei a apaixonar-me por coisas como techno etc. Portanto, quis transpor isso para o meu instrumento. Foi muito por aí que surgiu esta ideia, e depois também por outras coisas, mas pronto, sabíamos que queríamos fazer música para dançar e, pronto, disparámos para todos os lados. No início até estávamos, se calhar, a fazer mais coisas ligadas ao afro. Fizemos as 3 músicas que constituem o primeiro EP, a “Bailetalha”, a “Estação” e a “Cidade”, todas ali com influências de afrobeat, kuduro, etc. Depois também fizemos umas músicas com mais influências de Krautrock e coisas, se calhar, um pouco mais habituais no mundo do Rock ou influências de coisas como Gang of Four, The Pop Group, coisas bastantes anos 70, que já tinham feito esse tipo de misturas com música de dança e com o Punk. E pronto, isso foi dar ao terceiro EP, as coisas mais cruas, mais diretas. Também aí, se calhar, estão as nossas influências um pouco mais progressivas e os nossos exercícios rítmicos um pouco mais aventureiros. E depois também, obviamente, experimentámos umas coisas um pouco mais psicadélicas e um pouco mais aéreas. E foi dar aqui ao segundo EP, onde temos as outras músicas. Portanto, é como o Diogo disse, nós podíamos ter feito um álbum, mas eu gosto de ter aqui uma filosofia de “All Killer, No Filler”, ou seja, podíamos ter um álbum, mas não ia ser coeso. É muito mais coeso assim, é uma experiência de audição muito mais coesa, dividindo por estes 3 EP’s. E depois, claro que isto também é vantajoso nos tempos modernos, em que estamos dependentes de streaming e estar constantemente a lançar e a fazer barulho. Portanto, também nos pareceu uma estratégia de lançamento e de aparecer, fazer barulho, adaptado aos tempos modernos.


M.I. - Quais são as vossas maiores influências, diretas ou indiretas? O Jorge já falou no gosto pelo techno, punk...

Nuno: Há overlaps, diria. Há partes que temos em comum, e há partes que são mais características de cada um de nós. Por exemplo, na parte da música eletrónica, o meu primeiro gosto por música eletrónica veio com o Trance e durante muito tempo foi basicamente Trance. Mas depois comecei, à pala um bocado do Jorge e também de amigos nossos, a gostar de Techno e House e assim de outros estilos da eletrónica. Depois, dentro da parte do Rock, eu basicamente sou uma pessoa que gosta de ouvir tudo o que vai desde os anos 60, até hoje em dia, de música alternativa. O meu grande amor, tenho dois,são o Blues e a Psicadélicas dos anos 60, mas gosto de ouvir Punk, gosto de ouvir Hard Rock, Metal inicial, música alternativa atual... Não sei, já ouvi tanta coisa e gosto de ouvir tanta coisa que é difícil dar “pinpoint”, mas é um bocado por aí. Sempre à procura de coisas novas também.
Diogo: Mas, por acaso, divergimos um bocadinho de gosto. Se tivéssemos de categorizar os nossos gostos musicais, seriam respostas diferentes, mas uma coisa que nos mantém assim próximos é que todos nós temos uma abertura musical muito grande. Então qualquer género é bem-vindo. Os géneros não definem qualidade. Eu, por exemplo, a nível eletrónico, nunca tive tanto esse apego. Tive ali uma fase, mais na adolescência, em que o drum and bass foi uma coisa. Na altura em que apareceu dubstep, aquilo era tudo muita marado e muito frito, então fui puxado para esse tipo de sonoridades assim um bocado agressivas. Mas nunca tive essa ligação tão forte. Se calhar um bocadinho mais virado para o Rock mais tradicional. Também o Punk e o Grunge, mas a electrónica nunca me puxou muito. A verdade é que depois, quando começamos a interagir uns com os outros, e às vezes há partilhas e há sempre muita abertura, nós conseguimos sempre encontrar ali um terreno em comum, mesmo que sejam coisas que não tenham nada a ver umas com as outras. Acho que isso também é uma das razões para conseguirmos sempre chegar a partes de músicas e a coisas que estamos a compor, que facilmente conseguimos concordar os três que é por ali que a música deve seguir.


M.I. - Como é que se veem no futuro? Tanto do ponto de vista musical, se já têm coisas planeadas para lançar ou ideias na gaveta; como do ponto de vista da carreira da banda. Gostam de planear isso mais ou menos a longo prazo, ou preferem “go with the flow”? Como olham para o futuro da banda?

Jorge: Primeiro, começando pelo futuro mais próximo...
Nuno: Eu acho que a gente não olha assim tão a longo prazo. Não faz sentido. 
Jorge: É, acho que é isso. Nós temos aqui algumas ideias para um futuro a curto prazo, que ainda nem nós sabemos aquilo que vão dar. É assim, nós temos muitas ideias, mas ainda não sabemos, lá está, mais uma vez, como é que elas vão ficar. Podemos ter um álbum eclético, podemos ter 2 álbuns coesos, podemos ter 5 EP’s ainda mais coesos. (risos) Portanto, é assim, neste momento temos muitas ideias e, sem dúvida, que o objetivo, se calhar aí, era o álbum. Trabalhar todas estas ideias até termos, lá está, com a filosofia de “All Killer, No Filler”, deitar fora aquilo que não importa e fechar um álbum forte. Essa é ideia principal, mas ainda estamos numa fase muito inicial para saber dizer com certeza que vai ser isso já. Ainda mais futuro próximo, queremos é começar aí a dar mais concertos, promover ainda mais aqui estes três EP’s, também ainda têm muito para promover. Se calhar, aí para breve, já também abrindo um pouco o véu, há de estar aí uma coisita nova a sair. Fica assim no ar o que pode ser. (risos) Mas de música nova, ainda estamos a explorar. Temos essa ideia de um álbum, mas ainda não o temos, por assim dizer. A longo prazo, acho que nenhum de nós sabe dizer, acho que nem sei dizer sobre a minha própria vida, quanto mais sobre a banda. (risos) Um dia de cada vez. 
Nuno: Exato, acho que isso é algo que, por acaso, é comum a todos. Não vamos olhando muito para o longo prazo. É fazer planos dentro do razoável, dentro de um ou dois anos, acho que é o que faz sentido. Depois, outra coisa que também acho que faz sentido dizer é que nós, felizmente, como somos uma banda independente, não temos nenhuma pressão externa para fazer música. A música é feita ao nosso gosto, e isso, hoje em dia, posso dizer que é algo raro de acontecer. E, pronto, dito isso, todas as portas estão abertas. E agora é basicamente o que o Jorge disse, ainda não sabemos a nossa direção.
Jorge: Continuando isso que estás a dizer, eu disse isto, mas é uma coisa que, temos estas músicas, se calhar para o ano estamos a lançar qualquer coisa, se calhar só lançamos daqui a cinco anos. Porque é isso, não sentimos essa pressão. Pronto, ainda, a bem ou a mal, nenhum de nós depende da música para sobreviver. (risos) Por isso, estamos confortáveis. Para o bom e para o mau, porque também não temos todo o tempo que queríamos para nos dedicarmos a 100%. Portanto, não sentimos mesmo qualquer pressão, queremos que seja o mais rápido possível, porque temos esse entusiasmo e estamos entusiasmados com as coisas novas que estamos a fazer, e queremos partilhá-las rápido. Mas lá está, quando estiver bom o suficiente para isso.
Diogo: É, acho que é o melhor possível, o mais rápido possível, mas sem pressa.
Nuno: Como alguém disse alguma vez, não haja pressa, mas não se perca tempo. (risos)


M.I. - Parece uma forma extremamente poética e bonita de acabar. (risos) Muito obrigado pelo vosso tempo e boa sorte para o futuro!

Jorge: Obrigado!

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Entrevista por Francisco Gomes