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Reportagem: Resurrection Fest @ Viveiro, Espanha - 01.07.2022 | Dia 3


Com os dias a rolarem o Resurrection foi-se revelando cada vez mais interessante. Mesmo com alterações a decorrerem. Foi o dia mais quente do festival, em termos de temperatura, quando já se sabia que a chuva iria aparecer nos seguintes.


O calor sentiu-se logo na actuação de Caliban. Embora terminando com o set cortado pela organização, por ultrapassarem o tempo, os germânicos fizeram um concerto recheado de energia, logo com um wall of death ao segundo tema. Uma versão para «Sonne» de Rammstein e muita energia, marcaram a actuação, no Main Stage. Antes, já The Raven Age, banda com o filho de Steve Harris, tinha animado o Ritual Stage.


Foi impressionante a forma como o palco principal se encheu de público para Jinjer. Uma das maiores enchentes em todo o festival e certamente a maior durante o período diurno. A banda de Tatiana Shmailyuk entregou um concerto sóbrio e conseguiu evitar o panfleto político. Claro que o gigantesco backdrop, com o nome do grupo nas cores ucranianas e a eventual referência à guerra, bem como agradecimentos à comunidade internacional, não deixavam muita margem para perceber a situação, mas tudo feito de forma elegante e no momento correto. À parte o drama, Tatiana continua a ser um furacão em palco, a desenvolver-se entre músicos de qualidade superior. Para a história.
Numa habitual manobra, o fim do concerto no Main Stage, deu lugar a dois eventos.


No Ritual Stage os datados Ill Niño, pouco relevantes nos dias de hoje. Para o Desert Stage, na globalidade o palco com melhores apostas futuras, chegaram os surpreendentes El Altar Del Holocausto. Virão a Portugal em agosto e são de visionamento obrigatório. Desde o visual exótico, à atitude em palco, apesar das vestes, passando pelo som, entre post rock, drone e progressivo, o grupo tem tudo que pode interessar a stoners e afins. Integralmente instrumentais, comunicam em excesso através do som e postura. Um mergulho no circle pit foi um dos pontos altos que terminou com uma voz off gravada, agradecendo a presença dos fieis.



Rise Against eram uma das bandas mais esperadas do dia. Zach Blair foi… monótono. Sim, agradaram aos fãs. Sim, o concerto teve muitas luzes e foi irrepreensível. Sim Zach, quase no final, veio cantar um tema com o público. Mas até isso já estava a ser preparado pela segurança logo no início do concerto. Um punk rock, caramelizado e devidamente formatado para agradar às massas. Pouco inspirador. Todo um discurso politicamente correcto, em que cada tema servia para uma dissertação a propósito. A formatação das falas revelou-se, quando por duas ou três vezes falou da pandemia, esquecendo claramente a guerra em curso. Apenas quase no final se lembrou de referir Jinjer e a luta na Ucrânia. Entre baladas e temas punk panfletários o concerto foi-se desenrolando. Uma energia que só agarrou mesmo os fãs.

Amenra estava previsto para esta noite, mas cancelaram, sendo substituídos por Hangman’s Chair, com estes a tocarem ao mesmo tempo que Celeste. Um dos casos raros em que estilos próximos se conjugaram ao mesmo tempo. A opção foi Celeste e resultou bem, pois foi um dos melhores concertos do festival. Os franceses atuaram quase sem luz, imersos numa névoa e com luzes na cabeça. Plasticamente bem conseguido, como espetáculo, foi, no entanto, o drone sludge em formato black, que se revelou a estrela da noite. Há uma nova vaga de black metal, muito dentro do blackgaze que vem de França, pós-Alcest e Celeste representa-o bem.


Seguiu-se Sabaton. Simplesmente espetacular. Os suecos podem não ter o heavy metal mais elaborado, caindo por vezes na monotonia, no que toca a construção musical, mas entregam um espetáculo visual digno de memória. Imenso fogo de artifício, um tanque em palco e uma encenação própria para cada tema. Num alinhamento centrado nas grandes guerras mundiais, tal como os últimos discos, houve espaço para temas rápidos, baladas e muito humor. Joakin é um frontman natural e, em contraste com Rise Against, apesar de todo o aparato, num cenário por vezes até excessivo, o discurso anti-guerra e sobre a guerra do cantor, conseguiu ser muito mais natural e convincente que o dos norta-americanos.

Depois de um concerto avassalador, embora com menos público que Jinjer ou Rise Against, foi a vez de Decapitated arrasarem no palco secundário. No Desert eram Lionheart. Apesar dos esforços, ou talvez pelo tardio da hora, foram poucos os que restaram. Pena porque ambas as bandas estavam a dar boas prestações.


Reportagem por Freebird
Agradecimentos: Resurrection Fest