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Entrevista aos Paganizer

Beyond the Macabre é o último álbum dos suecos Paganizer e o 12.º trabalho em 23 anos. Uma daquelas carreiras e um daqueles álbuns que satisfaz todas os pontos daqueles que anseiam pelo “velhinho” Death Metal sueco.
Estivemos à conversa com o fundador (vocais e guitarra) Rogga Johansson, um senhor com inúmeros projetos e mais de 100 lançamentos sob a sua alçada.

M.I. - Olá! Daqui é o Ivan! Obrigado por esta entrevista. Sei que estão ocupados. Parabéns pelo último álbum. Para mim, o melhor que já fizeram. É o The Tower of the Morbid, mas alguns degraus acima. Muito mais refinado. Uma demonstração pura da brutalidade sueca.


Obrigado! Ainda bem que gostas.


M.I. - Já agora… Dás muita importância às críticas ao teu trabalho? Tendes a pensar nelas ou a trabalhar de forma a não fazer de novo, algo que os críticos ou mesmo os fãs, não gostaram muito?

Bem, realmente, não. Quer dizer, é sempre bom ter uma boa crítica , mas também é bastante divertido obter uma crítica a retalhar tudo. Não me importo com o que as pessoas pensam da minha música contanto que, pelo menos, pensem alguma coisa. É melhor ter pessoas que não gostam do que pessoas que não pensam nada. Acho que os únicos comentários que realmente importam são os teus próprios, o que achas que poderia ser alterado na próxima vez, coisas com as quais não estavas contente.


M.I. -  - No início da vossa carreira lançavam álbuns com mais frequência. Agora, estão mais espaçados no tempo. Algum motivo específico?

Diria, simplesmente, que é porque as editoras querem assim. Se dependesse de nós, lançaríamos um álbum todos os anos, como fazíamos antigamente. Mas, hoje em dia, as editoras precisam de mais tempo para vender as coisas. O mercado de álbuns é menor, e eles querem vender para recuperar o dinheiro antes de venderem outro, o que eu entendo perfeitamente. Nós também estamos mais velhos, com famílias e alguns têm muito trabalho etc. Não é nada que nos queixemos muito, mesmo que seja divertido lançar um álbum por ano.


M.I. -  – Sobre o último álbum… Qual é o tema principal de Beyond the Macabre? O estado do mundo, com a pandemia, confinamentos, etc., influenciou a escrita?

Ah, pergunta difícil, (risos). Acho que foi como sempre, letras sombrias, às vezes com uma sensação de filme de terror e, outras vezes, com um toque existencial. Não sentimos que queríamos ou precisávamos mudar nada, por isso, não há letras especialmente por causa da pandemia ou algo assim.


M.I. -  - Qual é a grande diferença entre Beyond the Macabre e The Tower of the Morbid?

Talvez músicas um pouco melhores? Um pouco mais avançadas e mais melodias incorporada aqui e ali. Além disso, a produção é melhor e acho que, no geral, é um álbum um pouco melhor.


M.I. -  – O álbum termina com o épico “Unpeaceful End”… Duas perguntas: a música conta com a participação de Karl Willets. Como surgiu essa colaboração?

O que significa essa música no final do álbum? Alguma inquietação? Ficou algo por dizer/fazer?
Acho que consegui o contato do Karl através do Dave Ingram e como o Karl queria entrar no álbum mais recente de Paganizer, perguntei-lhe diretamente se ele queria ser convidado numa música e ele disse que sim. Disse-me que geralmente não fazia muitas participações, mas que se sentiu feliz em fazer isso por nós, por isso, foi uma coisa muito porreira e que fez meu dia.
Não acho que diga nada de especial, (risos). Escrevemos para ter uma boa música de encerramento e é sobre uma pessoa muito má, simplesmente conseguindo o que quer, sendo levada por demónios, acho eu. Mas acho que poderia ser a última música de Paganizer, mas aparentemente não foi, já que estamos a trabalhar, neste momento, no próximo álbum.


M.I. - A capa foi desenhada pelo Juanjo Castellano. O que lhe disseram para ele fazer com que entendesse a vossa ideia? O que querem transmitir através da capa?

Acho que a ideia básica foi discutida algumas vezes, para a frente e para trás e acabamos por lhe dar o nosso aval. São basicamente almas guerreiras vikings ascendendo à alteridade ou algo assim. Queríamos uma capa de death metal realmente boa e, como sempre, o Juanjo fez o seu melhor e saiu a matar.


M.I. - O tempo passa por todos... Com mais maturidade, olhando para trás e comparando com o momento presente, quais são as grandes diferenças que encontras no teu estado de espírito, motivação, facilidade em ter ideias para músicas, etc?

Acho que, mentalmente, vou ter sempre 19, (risos). Sou praticamente o mesmo, bebendo algumas cervejas e escrevendo alguns riffs, montando uma música. Pensei que ficaria cada vez mais difícil ao longo dos anos mas parece que estou faço a mesma coisa e é porreiro. São riffs simples, música simples e letras simples também, mas ainda acho divertido.


M.I. - No começo, naturalmente, havia muitas comparações com as bandas de Death Metal suecas. Essas comparações ainda acontecem ou achas que Paganizer já está na sua própria categoria?

Devo dizer que nunca soámos como nenhuma outra banda e não digo isso porque acho que somos criativos ou especiais, porque não somos. Mas nunca tentámos soar como Estocolmo ou Gotemburgo. Apenas fizemos alguns versos do tipo crust e colocámos algumas melodias aqui e ali, tivemos alguns riffs pesados e saiu como nós soamos. O nosso som não lembra outra banda realmente. Pelo menos, acho que não. Somos mais simples, mais básicos e mais estúpidos, (risos).


M.I. - O vosso nome vem da repulsa que sente pela religião organizada e “corporativa”. Mas isso que não são religiosos de todo? Mais de 20 anos depois, ainda faz sentido ser rotulado de “pagão”?


Acho que talvez não sejamos pagãos, se queres que isso signifique que estamos a praticar alguma forma pagã de religião. Somos muito contra a opressão que a religião traz e, por isso, acho que o nosso nome é ótimo para nós.


M.I. - A formação da banda tem sido relativamente estável. Mesmo que escrevas (Rogga) a maioria das letras e melodias, ter ao lado as mesmas pessoas por tanto tempo, que se conhecem tão bem, simplifica os processos de gravação? Por outro lado, não existe o risco de entrar em “automatismos” e não pensar muito nas coisas e apenas obedecer?

Sim, tivemos apenas dois bateristas ao longo das décadas, o Jocke e o Fiebig, por isso, somos bastante estáveis. Vivemos numa cidade pequena que é um pouco longe de cidades maiores, e estou feliz por termos conseguido ficar juntos, mesmo que às vezes tenha sido difícil. Isso torna as coisas realmente simples, mas não sei se isso torna as coisas obsoletas ou automáticas. Quer dizer, afinal, é o mesmo processo de composição repetidas vezes sem conta. Acho que funciona para nós.


M.I. - Rogga… Com tantos projetos ao mesmo tempo (Paganizer, Bloodgut, Dead Sun, Echelon, Eye of Purgatory… Os últimos Battle Axis, Catacomb, Formaldehydist…), como encontras tempo para tudo? Como geres o teu trabalho e o que dás prioridade?

Mais importante: como decides quais as letras e melodias que vão para cada projeto? Quando escreve algo, já está pensando nalgum deles ou depois vês qual se encaixa melhor?
Na verdade, só gravei um novo álbum de Revolting este ano. Não fiz nada além de escrever para Paganizer. Mas sim, acho arranjo sempre tempo, escrevo música muito rápido. Talvez seja essa a resposta.
Normalmente, apenas sento-me e decido para qual projeto escrever. Mas é claro que às vezes escrevo riffs ou talvez uma música inteira, e depois penso em qual o projeto em que a canção se encaixaria melhor.


M.I. -  Já tocaram, pelo menos, uma vez em Portugal. Braga, acho. O que te lembras dessa altura, o que achaste do público português e quando poderemos vê-los novamente em terras lusitanas?

Sim, foi mesmo! Lembro-me que foi um ótimo concerto, apesar de termos alguns problemas iniciais com o equipamento, principalmente com minha guitarra, mas foi resolvido passado um tempo. O local era porreiro, lembro-me que bebemos muitas cervejas Super Bock e que havia um tipo que estava com o cão dele no concerto... Pensei que não deve ter sido muito bom para os cães ouvirem. O concerto foi ótimo e a multidão incrível. Adoraria repetir e tocar em Espanha e Portugal, 20 anos depois. Talvez pergunte ao Rober de Machetazo, quem era o manager da digressão e se deveríamos fazer isso de novo.

M.I – Concertos, digressões, festivais… Onde vão este ano e no próximo?

Nada planeado até agora. Tivemos um grande tempo de inatividade e apenas há alguns meses, começamos a ensaiar, novamente, com Paganizer. Penso que no ano que vem, será quando começamos a preparar-nos e tentar fazer alguns festivais ou concertos de fim-de-semana.


M.I. - Há pouco disseste que estavam a preparar o próximo álbum… Quando o podemos esperar?

Sim, de facto, estamos a ensaiar agora. Nove das dez músicas estão terminadas. Planeamos gravar o álbum talvez em dezembro, com alguma sorte.


M.I. -  Ok, última pergunta: o que você está a tocar agora no teu carro?

Furbowl – The Autumn Years. Um dos meus álbuns favoritos. Se não ouviste, ouve.


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Entrevista por Ivan Santos