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Reportagem: Leprous, Monuments e Kalandra @ Lisboa ao Vivo - 21.02.23


O dia 1 de março de 2019 ficou marcado - para muitos fãs de Leprous - por ter sido a data do seu último concerto antes de a pandemia parar o mundo. Agora, sensivelmente 3 anos depois, a ilustre banda norueguesa voltou à Sala Lisboa ao Vivo, que, entretanto, mudou de local, para mais um espetáculo arrebatador, depois de, no dia anterior, ter demonstrado a sua mestria no Hard Club.

O espetáculo, casualmente, ficou marcado para o dia de Carnaval, por isso, não foi um dia de trabalho para muitas pessoas, o que pode ter justificado o facto de, meia hora antes da abertura de portas, um mar de gente já se encontrar a fazer fila nas imediações da sala de espetáculos. Tal presença massiva de público no início desta noite de concertos foi referida pela vocalista dos Kalandra, Katrine Stenbekk, que agradeceu às pessoas por estarem presentes tão cedo. A sala estava praticamente cheia para assistir a uma boa atuação por parte deste quarteto compatriota dos Leprous, pois destacou-se devido à voz bonita e suave da cantora, que acompanha uma sonoridade atmosférica e melancólica. A música do grupo demonstrou ser muito agradável, tendo sido bem recebida pela plateia.
 A ligeiramente mais rockeira "Naive" e a mais dinâmica "Ensom" foram as faixas que mais se destacaram numa boa estreia, que ficou na retina, apesar de não ofuscar de modo algum o brilho dos segundos noruegueses da noite.

Com uma sonoridade bem mais encorpada - diria mesmo a mais pesada da noite - os Monuments protagonizaram uma performance extremamente positiva e contagiante. A banda britânica apresentou um alinhamento baseado principalmente no seu último álbum, "In Stasis", que foi lançado em 2022 e que marcou a estreia de Andy Cizek, o atual vocalista. Este mostrou-se bem entrosado no grupo, quer nos temas mais recentes, quer nas faixas mais antigas, tendo assumido a liderança e se mostrado interventivo a incentivar o público a participar na festa. No final, Andy demonstrou o seu apreço pela recetividade dos presentes ao fazer um sinal de coração com as suas mãos. O metalcore progressivo da banda, debitado por esta banda da qual o criativo guitarrista John Browne é o único elemento sobrevivente, mostrou a sua pertinência, justificando-se por isso uma futura presença deste quarteto em nome próprio. Andy Cizek afirmou estar grato por estar em Portugal, e muitos dos presentes seguramente também ficaram agradecidos por esta atuação, que terminou com bastante público a saltar ao som de "The Cimmerian".

Os Leprous parecem estar extremamente confortáveis com a sonoridade e a força de "Aphelion" e "Pitfalls" - os seus últimos dois álbuns - tendo dedicado dois terços da atuação a temas desses trabalhos. O resultado final foi esplêndido, com o público a corresponder de forma apoteótica. De espetáculo para espetáculo, o grupo norueguês parece ter angariado mais fãs em Portugal, o que pode ser explicado pela grande qualidade das suas performances, bem como pela qualidade dos seus álbuns e dos seus temas. Einar Solberg lembrou-se de que tinha atuado na sala Lisboa ao Vivo no último concerto do grupo antes da pandemia, mas reparou que o palco é mais amplo e ficou um pouco confuso. O cantor tinha razão, porque tanto o palco como o espaço propriamente dito são maiores do que a antiga sala de espetáculos onde haviam tocado.

Do último disco destacaram-se temas como "Castaway Angels", que Einar dedicou às pessoas fortes da Ucrânia, "Out of Here" e "Nighttime Disguise". "Below", que teve direito a um público a cantar o tema a plenos pulmões e a uma enormíssima ovação no final, bem como "Alleviate", que teve um Einar Solberg a brilhar em grande plano, e "The Sky Is Red", que encerrou o concerto com uma grande demonstração de qualidade por parte de todos os músicos, são temas fortíssimos do penúltimo álbum que já era previsível fazerem parte de qualquer concerto presente e futuro do grupo. A meio do espetáculo, a banda deu a oportunidade ao público de escolher entre quatro temas: "Running Low", "The Valley", "The Silent Revelation" e "Stuck". Quem quisesse ouvir cada um desses temas tinha de levantar o braço quando Einar dissesse o nome da respetiva música. Como a escolha ficou muito repartida entre "The Valley" e "Stuck", o vocalista decidiu atirar uma garrafa para o público e quem a apanhasse teria direito a escolher entre um desses dois temas. A escolha recaiu no clássico do álbum "Coal" para satisfação de muitos dos presentes.

Faixas inevitáveis como "The Price", "From the Flame" e "Slave" foram tocadas numa noite em que o vocalista perguntou aos presentes se queriam mais "uma música" e depois se queriam "mais dez", sendo que estes responderam afirmativamente. Na verdade, aquela atuação de noventa minutos por parte dos Leprous teve uma excelência tal que o público seguramente não se importaria de ouvir mais uma hora e meia de música.

Texto por Mário Rodrigues
Agradecimentos: Free Music Events