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Entrevista aos Downfall of Gaia


Os alemães Downfall of Gaia lançaram o seu sexto álbum de estúdio pela Metal Blade Records, no dia 17 de março.
O novo álbum “Silhouettes Of Disgust” oferece uma mistura dinâmica e texturizada de crust punk e pós-black metal mergulhado em elementos atmosféricos, levando-os a novas e emocionantes direções. O registo inclui o regresso do guitarrista Peter Wolff e vozes femininos, cortesia de Lulu Black.
As letras são todas baseadas na vida quotidiana e nas lutas com as quais todos lidamos.
A Metal Imperium conversou com o Dominik e o Peter sobre o último lançamento da banda, a próxima tournée e o desejo de voltar a Portugal. Leiam aqui...

M.I. - Em primeiro lugar, obrigado por dedicarem o vosso tempo a responder a estas perguntas.
O Dominik tem algum sangue português a correr-lhe nas veias... será que esta “herança” influenciou de alguma forma o som dos Downfall of Gaia?

Dominik - Quem me dera, mas não! Mas estou sempre feliz por tocar alguns concertos nesse país. Bem, até agora só tocámos no Porto duas vezes e foi no Amplifest. Mas ambas as vezes foram incríveis!


M.I. - Este ano marca o 15º aniversário da banda... quais eram as vossas expetativas quando começaram? Foram alcançados?

Dominik - Para ser honesto, no começo o nosso objetivo principal era lançar a nossa música em vinil e encontrar uma editora que nos quisesse ajudar a lançar a nossa música. E ir para a estrada, é claro.
Felizmente tudo isso deu certo, devido a muitas pessoas incríveis - desde editoras a todas as pessoas da cena DIY que organizam concertos para nós em toda a Europa.


M.I. - Como surgiu a ideia de formar uma banda? Por que sentiram a necessidade de partilhar a vossa música com o mundo?

Dominik - Não há muita história por trás disso. Estávamos todos em bandas antes, que realmente não progrediram. Em 2006, o Anton e eu formamos os Toxic Nation, que se tornaram nos Downfall of Gaia em 2008, depois do Peter se juntar à banda.


M.I. – Os Neurosis têm sido uma influência para a banda. Mas quais outras bandas/músicos vos influenciaram a querer ser músicos também?

Dominik - Eu não diria que houve um artista em particular que nos fez querer fazer música, foi mais toda a cena. Viemos da cena DIY/punk que nos influenciou como pessoas, mas também como banda no nosso som. Todo o movimento nos inspirou a querer fazer parte e contribuir.


M.I. - O novo álbum chama-se “Silhouettes of Disgust”. Quão diferente foi a gravação deste álbum quando comparada com “Ethic of Radical Finitude”? Enfrentaram alguma restrição ou problema por causa do Covid e da guerra ucraniana?

Peter - Não posso dizer muito sobre a diferença com as gravações de "Ethic of Radical Finitude" porque eu não fazia parte da banda na época. Mas talvez esta seja a maior diferença: o nosso engenheiro de gravação adoeceu alguns dias antes da data marcada para a gravação de "Silhouettes of Disgust". Tivemos que encontrar uma solução e, no final, gravamos as guitarras, o baixo e as vozes nós mesmos no meu estúdio. Estamos muito felizes que o Timo recuperou bem do Covid e conseguiu misturar o nosso disco.


M.I. - O baterista da banda, Mike, é dos Estados Unidos. Ter um line-up com membros de diferentes cidades é complicado, mas de diferentes países e continentes deve ser mais difícil ainda. Como lidam com isso?

Dominik - Claro, a internet facilita muitas coisas. Mesmo que não moremos nas mesmas cidades ou países, estamos sempre em contacto. Também na composição, a internet é uma grande ajuda e podemos enviar e receber arquivos e editá-los. E se uma tournée for planeada, nós reunimo-nos e ensaiamos alguns dias antes de começar. A única coisa que realmente é ruim é o aspeto financeiro. E não podemos fazer concertos únicos porque não compensa e não queremos trazer o Mike para apenas um concerto. Mas, no geral, não é tão complicado quanto parece.


M.I. - Como acontece o processo de composição/gravação NOS Downfall of Gaia? Vocês tocam juntos online ou quê?

Peter - Acho que nunca tocamos juntos, mesmo que tenhamos escrito músicas juntos na sala de ensaio. Sempre acontecia que o Dominik ou eu já tínhamos preparado alguma coisa. Com Silhouettes of Disgust, o processo de composição foi feito principalmente digital. O Dominik e eu conversamos muito antes sobre o que queríamos fazer e trocamos as nossas ideias antes de começarmos a escrever as músicas. Depois disso, mantivemos contacto próximo e continuamos a enviar novos rascunhos um ao outro. No final, encontramo-nos os quatro na sala de ensaio durante uma semana e juntamos tudo.


M.I. - Quando penso no título, penso imediatamente em todo mundo que tem nojo da sua própria imagem, por causa de todos os corpos e vidas “perfeitos” nas redes sociais e o impacto negativo das redes sociais na vida das pessoas. O que passou pela vossa cabeça quando criaram “Silhouettes of Disgust”? O que vos inspirou?

Dominik - Basicamente, o título do álbum é o resumo perfeito para o tema do álbum. O nosso baixista Anton surgiu com o nome enquanto procurávamos um título para o álbum. O álbum conta a história de 8 pessoas diferentes, com 8 histórias diferentes, como moradores de uma metrópole fictícia. Cada pessoa tem as suas próprias preocupações e lutas: solidão, vício, medo do amanhã, pressão da sociedade/trabalho e outros, a compulsão quotidiana de que todos estão à mercê de gostarem ou não. Coisas que muitos de nós provavelmente conhecemos muito bem. Tens de alinhar de alguma forma ou cais. Todos os dias estás cercado por tantas coisas que desejas evitar e odiar, cercado por todas essas "Silhuetas de nojo".


M.I. - Normalmente inspiram-se na vida para escrever as letras. De que assuntos as letras tratam desta vez? O que vos inspirou?

Dominik - Como disseste, é apenas a vida quotidiana normal. As minhas experiências e sentimentos pessoais. Como mencionado na pergunta anterior, para este álbum são apenas coisas básicas que acho que cada um de nós conhece ou experimentou.


M.I. - Escrever letras significativas e ótimas não deve ser fácil. Existe um contexto ou cenário especial no qual precisas de estar para poder escrever? Sempre gostaste de escrever? Quanto tempo geralmente leva para escrever uma letra completa? Ela surge em etapas ou vem completa?

Dominik - Para ser honesto, para mim é um processo bastante exaustivo. Eu não sou do tipo que escreve textos num livro todos os dias ou algo assim. Eu só escrevo quando se trata de um álbum. Caso contrário, é claro, tais pensamentos estão sempre presentes, mas na minha cabeça e não na forma escrita. Isso é outra coisa. Mas quando escrevo, estou muito focado e também é a única coisa que faço naquele momento. Portanto não trabalho adicionalmente em guitarras ou algo assim, a minha cabeça está totalmente virada para as letras. Não há um prazo fixo para isso, às vezes flui, às vezes leva mais tempo e não faço nada. Mas um álbum completo leva várias semanas com certeza.


M.I. - A arte da capa é completamente diferente do que eu esperava, pois não parece ter nenhuma ligação com o título, pois não há silhuetas à vista. Importas-te de explicar a sua ligação com a letra/título e álbum em geral?

Peter - Para nós, a imagem da capa é o cenário perfeito para o conceito do disco e reflete muito bem os sentimentos e a atmosfera das músicas. Poderia ser um bom ambiente para todas as silhuetas do nojo.


M.I. - Os fãs parecem estar extremamente animados com os singles que já foram lançados: “Bodies as Driftwood” e “Existence of Awe”. Quão animada está a banda com o resultado final?

Dominik - Estamos definitivamente muito felizes com o resultado do álbum. Mas é isso é o que digo agora. Para poder julgá-lo completamente com distância, definitivamente preciso de mais tempo. Mas agora está tudo bem.


M.I. - Este é o quinto lançamento da banda pela Metal Blade Records, e parece que esta aliança funciona bem para ambas as partes. A banda recebeu ofertas de outras editoras entretanto ou continuam com a Metal Blade porque eles são definitivamente a melhor opção para vocês?

Peter - É claro que houve outras opções e ofertas neste tempo, mas estamos muito felizes com a Metal Blade e não há absolutamente nenhuma razão para mudarmos para outra editora. Além disso, pessoal da Metal Blade tornaram-se bons amigos nossos e é um prazer trabalhar com eles e também conhecê-los pessoalmente!


M.I. - A banda já marcou uma tournée em abril com os Deathride e Implore para divulgar este álbum, além de alguns concertos e festivais. Quão animados estão por estar de volta à estrada depois de 3 anos?

Peter - Estamos mais do que felizes por ir em tournée novamente e fazer alguns concertos! Tocar ao vivo sempre foi uma grande parte da nossa banda e sempre foi muito importante para nós. Claro que a vida mudou muito e não é possível fazer tantos concertos como antigamente, mas é sempre um prazer para nós e uma parte importante. Também estamos ansiosos para tocar com os nossos amigos dos Implore e Deathrite!


M.I. – Os Downfall of Gaia parecem tocar principalmente na Alemanha e nos países vizinhos e nos EUA. Quais são as principais diferenças entre uma tournée na Europa e uma tournée nos Estados Unidos?

Peter - Acho que a principal diferença é que fazer tournées na Europa é muito mais confortável. O promotor reserva um lugar para nós dormirmos e temos comida no local. Nos Estados Unidos, geralmente não há nada organizado para a banda além do concerto em si. Fora isso, ambos são muito divertidos e esperamos poder voltar aos Estados Unidos em breve!


M.I. – Há alguns anos, vocês disseram que seria um sonho realizar uma tournée na Austrália e no Japão. Esse sonho já foi realizado em 2015. E agora qual é o sonho da banda em relação às tournées?

Dominik - Sim, felizmente pudemos fazer uma tournée por esses países em 2015. Foi uma ótima experiência e definitivamente algo da lista de desejos! Para mim, pessoalmente, eu diria Canadá. Esse ainda é um dos países que eu realmente gostaria de ver e tocar. Isso seria fixe! Quem sabe!?


M.I. - A banda tocou no Amplifest no Porto em 2013. Lembras-te de alguma coisa desse festival em particular? Alguma ideia de quando poderão estar de volta?

Peter - O Amplifest foi um grande prazer para nós naquela época e foi muito emocionante tocar nesse grande festival. Também me lembro de gostar muito do Porto, era um belo cenário para o festival! Definitivamente voltaríamos ao Amplifest se houvesse uma oportunidade!


M.I. - Li algures que os Downfall of Gaia adorariam fazer uma tournée com os Altar of Plagues se eles se reunissem. Por quê essa banda em particular? O que há de tão atraente neles?

Peter - Para ser honesto, não sei onde falamos sobre isso numa entrevista, mas eu definitivamente gostaria de fazer uma tournée com os Altar of Plagues se eles voltarem. É uma das minhas bandas de black metal favoritas de todos os tempos e eles tiveram uma grande influência em mim como músico e também nos Downfall of Gaia.


M.I. - Hoje em dia, algumas tournées nem chegam a Portugal por questões de logística e é triste ver isso acontecer. As tournées são lucrativas para as bandas ou a maioria das bandas “perde” dinheiro para fazer tournées e promover álbuns?

Peter - Acho que hoje em dia é difícil lucrar com uma tournée. É principalmente um ponto de equilíbrio.


M.I. - O facto do vocalista/guitarrista da banda trabalhar na indústria da música, na All Noir Promotion, é uma vantagem para a banda de alguma forma?

Dominik - Já que estamos com a Metal Blade Records, nem tanto, para ser honesto. Claro, eles já trabalham com uma rede absolutamente profissional.


M.I. - A vida de um músico é tão excitante e glamorosa quanto se imagina?

Peter - Acho que não. Talvez para os grandes músicos e estrelas que realmente ganham muito dinheiro com a sua música.


M.I. - O lema “sexo, drogas e rock n’ roll” ainda se aplica hoje em dia ou deveria haver um novo?

Peter - Acho que em tempos como estes, quando o mundo está tão fodido e tanta merda acontece, um slogan egocêntrico como esse não é o mais apropriado. Além disso, como banda nunca tivemos esse slogan porque a nossa música sempre foi uma parte importante da expressão da nossa consciência política.


M.I. - Conhecem alguma banda portuguesa que acham que vale a pena ouvir?

Dominik - Tenho que admitir que não conheço muitas bandas portuguesas de metal, mas GAEREA, por exemplo, vale a pena ouvir com certeza!


M.I. - Tudo de bom para os Downfall of Gaia e todos os outros projetos em que os membros da banda estão envolvidos. Gostariam de partilhar uma mensagem final com os leitores da Metal Imperium e fãs dos Downfall of Gaia?

Peter - Muito obrigado por nos receberem na Metal Imperium!

Ouvir Downfall Of Gaia, no Spotify

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Entrevista por Sónia Fonseca