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Reportagem: Vagos Metal Fest (3º Dia) @ Quinta do Ega, Vagos 05.08.2023


Este era o terceiro e último dia do festival, e como tal, esperava-se que os festivaleiros queimassem os últimos cartuchos. E olhando para o recinto, um pouco antes da primeira banda do dia subir, já se viam muitos metaleiros, aliás um número que facilmente triplicaria ou quadruplicaria a assistência do dia anterior para as mesmas horas.

Agruparam-se para testemunhar desde logo os Pull the Trigger, vindos diretamente de Faro. Entraram com “2.0”, o single de 2020 da banda, e nos primeiros instantes foi inegável a inspiração de Korn, tanto na forma como o vocalista se dedicou à sua arte, como no baixo aquele slap percussivo que nos lembrou imediatamente o Fieldy dos Korn. Em “Warrios” abriram oficialmente a época de mosh para o último dia do festival, e ainda a primeira Wall of Death da tarde. Durante o terceiro tema “Underestimated” ocorreu uma falha no som, sendo que a assistência demonstrou que estava com a banda, e após alguns breves minutos a banda voltou à carga. Ainda apresentaram material do próximo álbum, que deverá estrear ainda este ano, com “Riot”. Nesta canção tivemos um breve flashback de Linkin Park. Avançaram para “Sickstraw” e terminaram a sua estreia (muito bem conseguida) no Vagos com “Shut Up”. A sonoridade é claramente Nu Metal, remetendo consecutivamente para Korn. Excelente energia que circulou do palco e por todos os que quiseram abraçar ao máximo este último dia de festival.

Em seguida, foi tempo para um Thrash Metal à moda antiga com os Praetor, que vieram mostrar o seu álbum homónimo de 2023. A banda contém membros do Luxemburgo e França, e ainda o vocalista português Hugo Centeno. Apresentaram-se com “Pitch Black” e é óbvio que estávamos a ouvir Thrash. Seguiram para “Screens”, “No Return” e “Enemy”, e até aqui a voz assemelhou-se a um misto entre James Hetfield (da era pré Black Album) e Chuck Billy, e a sonoridade dos restantes membros pareceu algo tirado da Califórnia nos anos dourados do Thrash Metal. “Mass Extinction”, o primeiro single da banda, onde Hugo Centeno pediu ajuda ao público, que de forma incessante entregou-se aos moshes. Ainda houve tempo para “Precious Time” e finalizaram com “Dormant Brain”, esta última com videoclipe oficial (avisou-nos o vocalista). A sonoridade foi claramente retirada do movimento Thrash Metal da Califórnia nos anos 80, bem renascida e muito convidativa. A energia e a comunicação foram abundantes, o que levou a que muitos se fossem agrupando para vivenciar este momento.

A terceira banda do dia foram os ingleses Urne. Estes deram início à atuação estreando ao vivo dois temas “The Flood Came Rushing In” e “Burden” que irão constar no próximo álbum, A Feast on Sorrow, que deverá ser lançado ainda este mês. Os últimos temas deste espetáculo foram “Sperpent & Sprit” e “Desolate Heart”. O som foi uma amálgama musical, que nos fez viajar pelo Stoner e Doom, com elementos de Death e de Prog, alternando com linhas mais melódicas e ainda uma presença de puro Hardcore, fechando com muita 'sujidade' obrigatória em Sludge. O trio de Londres deixou bem vincada a sua estreia, e certamente quererá voltar cá.

O próximo concerto ficou a cargo dos Process of Guilt e como tal esperava-se uma viagem pelo Doom nacional. Iniciaram a performance com “Scars” e “Victims” do mais recente álbum de 2022, Slaves Beneath the Sun. A viagem começou e foi neste álbum que ficámos na próxima meia hora. Avançaram para “Breath”, onde houve um novo corte de som no palco Hidromel Lucitanea, e novamente a plateia mostrou-se super compreensiva e apoiou a banda. O grupo retomou como se nada tivesse ocorrido, e finalizou a sua passagem no festival com “Host”. A musicalidade da banda foi mágica: uma fusão fenomenal de Doom com Death, fomos arrebatados com uma distorção a la Sludge e fomos trazidos de novo à realidade com elementos de Industrial, mantendo sempre uma atmosfera mista. Esta é uma banda com muita experiência de palco, e isso foi mesmo muito evidente no Vagos.

Os Heidevolk trocaram de lugar com os Midnight devido a questões logísticas. Começaram com “Hagalaz” e “Klauwen Vooruit” do novo álbum Wederkeer, de 2023. Apresentaram-se com um poderoso “Bom dia Vagos”, e esta foi a única frase dita em português, das várias interações, sempre muito animadas, que foram fazendo, nesta sua estreia em Portugal. Tocaram “Winter Woede” e “Einde Der Zege” dos álbuns Velua e Batavi, respetivamente, e até aqui provaram que o facto de terem 2 vocalistas funciona na perfeição. Perguntaram à plateia se estava a divertir-se e pediram barulho, e barulho foi aquilo que a banda recebeu. Viajou-se até 2018 com o tema “A Wolf in my Heart” e voltou-se ao novo álbum com a ‘quase ritualística pré-batalha viking’ “Schildenmuur”, e com a “De Strijd Duurt Voort”. Tocaram a música que dá o nome ao novo trabalho “Wederkeer” e “Saksenland” de 2008. Voltaram a 2023 com “Drink met de Goden (Walhalla)”, avisando que existem dois lugares onde é possível beber com os deuses: Valhala ou em VAGOS. E terminaram este divertido, energético e poderoso concerto com “Vulgaris Magistralis” (cover da banda Normaal) e “Nehalennia”. Houve tempo para mosh e crowd surfing, como é habitual num concerto de metal. Só que isto foi viking metal, e como bons vikings que os metaleiros em Vagos são, sentaram-se no chão e foi tempo de remar, remar e remar, tudo para honrar estes asgardianos musicais. A sonoridade da banda holandesa encontra-se claramente na cena do Folk e Viking Metal, mantendo uma tónica de festa – e foi festa que trouxeram. Diversão à moda viking!

Momento para os fãs do metal progressivo e do djent, momento para Monuments. Com um atraso de 10 minutos, mas quase ninguém notou, e mostraram-se logo com a música “Cardinal Red” do trabalho mais atual da banda, de 2022, In stasis. Apresentaram-se e prosseguiram para “Origin of Escape” de 2014 e “Degenerate” de 2012, e com tamanha energia que os metaleiros ora deixaram-se ir numa onda mosh pits, ora surfaram essa própria onda. Voltámos ao novo álbum com “False Providence” e “Opiate”. Trocaram de afinações para nos apresentar “Leviathan” de 2018. O final foi dado por “I, The Creator”, e que final pois Vagos em peso deliciou-se com um temeroso pit e muito, mas mesmo muito crowdsurfing. É djent all over the place! O som foi labiríntico, os compassos complexos mostraram-se um desafio mental para se conseguir dançar, no entanto a energia da banda é de tal forma que cada um à sua maneira encontrou forma de abanar a cabeça. Com muito tapping, com muito slap e uns vocais rasgados que se cruzam em vocais melódicos. Os Monuments remem-nos para outras bandas do género, como por exemplo Periphery. Os temas do novo álbum, tocados ao vivo, foram feitos com colaboração com Mick Gordon, o que lhes confere um toque subtil, porém bem recebido, de industrial. Contudo, fora do setlist ficou o single mais recente “Nefarious”. Excelente passagem e o público demonstrou o seu apreço entoando o nome da banda quando o concerto findou.

Depois chegou o momento para o espetáculo de Belphegor, e ao conversar com os festivaleiros, sabia-se que esta era uma das bandas mais aguardadas do dia. Então foi com “The Procession” (música com que andam a começar as atuações desde março) que vieram apresentar a sua mistura de Black e Death Metal. Seguiram-se “Baphomet” e “The Devil’s Son” do álbum Totenritual” de 2017. “Santus Diaboli Confidimus” e “Belphegor – Hell’s Ambassador”” foram as próximas, sempre mantendo uma identidade distintiva, que se passeia entre o Black e o Death, sempre com maior ênfase no Black em termos estéticos. Do álbum de 2014 tocaram o tema que dá nome ao disco “Conjuring the Dead” e “Pactum in Aeternum”. Continuaram com “Lucifer Incestus” do álbum homónimo, e fecharam com 3 temas do álbum mais recente de 2022 The Devils, sendo esses “Virtus Asinaria – Prayer”, “The Devils” e “Totentanz – Dance Macabre”. Não é comum, em bandas de sonoridade mais Black Metal, assistir a um público tão energético como se viu em Belphegor. Os espectadores perderam a cabeça ao som da banda e entregaram-se por completo, participando em enormes pits e um exagerado crowdsurfing.  Foram blast beats que nos perfuram a alma e tremolos que nos fazem vibrar no ritmo vertiginoso. Intros bastante atmosféricas sempre carregadas de uma aura negra e misteriosa que rapidamente se transforam em riffs pesados e frenéticos. Uma banda que não desilude, e que une fãs do Black e do Death, e que seguramente terá conquistado outros ouvidos.

Em seguida foi altura para muita dissonância, com os Imperial Triumphant. Os nova-iorquinos vieram mostrar novamente em Portugal o seu Blackened Death Metal, com muito (ênfase no muito) Avant-Garde. Abriram com “Champ Change” e “Metrovertigo” do seu mais recente disco, Spirit of Ectasy, de 2022. Passaram ao álbum de 2020 Alphaville para tocarem “Atomic Age” e aqui fomos bombardeados com um som distintivamente dissonante e atmosférico, no fundo foi conduzir a música por sons ainda não navegados. Depois foi a vez de “Devs Est Machina”, tema do álbum de estreia da banda. Voltaram ao Alphaville com “Trasmission to Mercury”, sendo inegável a inspiração do género jazz, certamente dado o local de nascimento da banda. Finalizaram com 2 temas do álbum de 2018 Vile Luxury, “Chernobyl Blues” e “Swarming Opulence”. A musicalidade da banda é bastante experimental e de fusão. Colecionam características de diversos géneros e infundem-nos no seu Black Metal, que parece ser a espinha dorsal das suas músicas. Uma banda para os adeptos, tanto do Black, Death e da música experimental.

Chegámos depois ao cabeça de cartaz do último dia da edição de 2023 do Vagos Metal Fest, Triptykon – Performing Celtic Frost. Abriram com a frenética “Into the Crypts of Rays” que é a primeira faixa do primeiro trabalho de Celtic Frost de 1984. Tocaram também os clássicos como “Dethroned Emperor”, “Morbid Tales”, “The Usurper”, "Visions of Mortality", “Suicidal Winds”, “Return to the Eve” “Procreation of the Wicked”, “(Beyond the) North Winds”, “Nocturnal Fear”, “Circle of Tyrants”, “Visual Aggression” e “Dawn of Meggio” – ou seja os temas mais emblemáticos dos dois primeiros álbuns dos Celtic Frost. Foi incrível ver a cara de felicidade dos fãs que se reuniram para testemunhar este evento único, felicidade essa que cruzou diversas gerações. Tom G. Warrior foi interagindo, ainda que pouco, tendo aproveitado esses momentos para agradecer de forma muito singela como 'We love you, thank you for being so kind'. Os fãs continuaram a mostrar o seu carinho e veneração pela banda. Houve tempo para algum crowd surfing, contudo a maioria permaneceu no seu lugar, de forma a conseguir respirar ao máximo esta oportunidade, talvez única na vida, de escutar pela voz do próprio Tom G. Warrior temas históricos. Os Triptykon finalizaram este concerto com a “Necromantical Screams”. Foi um concerto repleto de clássicos dos Celtic Frost (do álbum Morbid Tales e To Mega Therion).  Os Celtic Frost nunca pisaram os palcos lusitanos, pelo que esta foi a melhor forma de vivenciar uma das mais influentes bandas do metal, não é a banda original, e todos o sabem, mas ninguém melhor que Tom G. Warrior para poder realizar um evento especial como este. Os Celtic Frost são considerados por muitos, um dos pais do Black Metal. A sua música influenciou os jovens da Flórida a criarem o Death Metal, e inspirou a península escandinava, mais concretamente a Noruega, a criar a segunda onda de Black Metal. Foi mágico; foi nostálgico; foi música.

Foi momento para ouvir os Midnight, e após o momento de recordação que se teve com os Triptykon, tivemos uma certa continuação de uma sonoridade que se passeia pelo Speed e Black. Abriram com “All Hail Hell”, tema de 2012 com uma sonoridade que nos remete para o Speed Metal mais clássico, com aqueles toques de Rock ‘n’ Roll. Foram até 2020 com “Fucking Speed and Darkness”, voltavam a 2012 com “Black Rock ‘n’ Roll e para 2022 com “Szex Witchery” e em todas sentimos aquela vibe do Speed Metal, sendo as temáticas a puxar mais para o Black. Em seguida tocaram “Satanic Royalty” do álbum homónimo de 2011, e ainda desse trabalho entregaram “Lust Filth and Sleaze”. Avançaram até 2017 com “Poison Thrash”, recuaram a 2014 para “Evil Like a Knife” e retrocedam ainda mais para “I am Violator”. Tiveram direito a mosh e circle pits incessantes por parte do público, que retribuiu a energia que fluíu da guitarra, baixo, bateria e, claro, da voz. Passaram por “You Can’t Stop Steel” e “Who gives a fuck?”, e terminaram a sua estreia com “Unholy and Rotten”. Este foi um Speed Metal moderno, com inspiração no clássico. A sonoridade tem uma forte inspiração temática no Black Metal, mas bebe muita inspiração também no Thrash e no Hardcore. Esta é mais uma banda que certamente cativa, cativou ou cativará fãs de diversos géneros.

Dizer que Serrabulho foi o pós-festa seria fugir à verdade, pois Serrabulho é a festa! E foi festa em Vagos. Quem conhece a banda sabe ao que vem, no entanto há sempre surpresas. Uma máquina de espuma é disposta do lado esquerdo do palco, e já se esperava diversão. Chegaram às duas da manhã e subiu ao palco Rato da saga Balas e Bolinhos, e que começou a introdução cómica do concerto. A banda entrou em palco e Carlos Guerra disse “Vagos!”, e depois entrou-se no grindcore típico de Serrabulho, foi Grind mas acima de tudo foi diversão. Com ajuda do público começam a entoar muito calmamente o refrão da nova música “E pudesse eu Cagar de Outra Forma”. Seguiram-se muitos temas emblemáticos, e a banda foi sempre muito animada, e Carlos Guerra passou mais tempo fora do palco, a criar ele mesmo um circle pit que rapidamente contagiou os adeptos da festa. Os que não entravam no pit mergulharam animadamente na espuma. Ainda se ouviram mais músicas novas como “Grind e Grossa”, “Love Parade” e “Cripple Bitch”, sendo que esta última contou com Carlos Guimarães dos Caminhos Metálicos, na guitarra. Houve mais convidados como Alda Fernandes, cantora de músicas infantis, para cantar “O Gato Pompom”, e Maria Pereira, baixista dos Capela Mortuária, que acompanhou a banda na guitarra ao som de “Caguei na Betoneira”. Foi tempo ainda para um “apita ao comboio” à volta do recinto encabeçado pelo frontman da banda. A banda fechou a sua passagem com uma já famosa ‘Ass of Death’, com o Rato a ser esmagado pelos metaleiros de Vagos. Muita festa da espuma, bolas de praia e almofadas (e o seu enchimento) por todo o lado, quem não se quis divertir ao juntar-se à festa, seguramente deliciou-se a ver os outros a divertir-se. Não podia ter havido melhor forma de fechar o Vagos Metal Fest 2023.

Foi uma excelente edição do festival, e é caso para dizer que Vagos foi mesmo a capital do Metal durante estes dias. A próxima edição promete, e ficaremos aguardar por mais nomes.

Texto por Marco Santos Candeias

Agradecimentos: Amazing Events