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Entrevista a Louise Lemón


Lifetime of Tears definitivamente é um marco histórico na carreira de Louise Lemón. A Rainha de Death Gospel lançou outro álbum sombrio, mas totalmente romântico. Sempre trabalhando da escuridão para a luz, músicas como “Shattered Heart”, “Tears as Fuel” e “Pure Love” conseguem sempre capturar o vazio e o sentimento de um coração partido.
Com uma relação íntima com Barcelona, ​​Louise conversou com a Metal Imperium, para sabermos um pouco mais sobre o novo álbum, as suas influências musicais e os seus próximos projetos.
As suas emoções podem ser ouvidas através da sua encantadora e noir voz, que vibra em muitos de nós que enfrentamos, hoje em dia, problemas na vida, onde o amor é uma das emoções mais poderosas.

M.I. - Já faz algum tempo que conversamos. Como tens andado?

Estou muito bem. Estou muito feliz que meu disco tenha sido lançado. Já faz um tempo, então eu sinto-me muito bem por finalmente tê-lo lançado.


M.I. - Quem é a Louise Lemón?

Ela sou eu, no sentido de que existe uma grande vulnerabilidade e autenticidade no que faço e ao mesmo tempo sinto que há um grande poder em mim ou nela. Eu trabalho com este tipo de espetro de ser muito, muito sincera e, ao mesmo tempo, quanto mais sincera sou, mais poderosa fico, e essa sou eu. A música que faço é um espaço onde podes sentir talvez emoções negativas ou difíceis, mas neste espaço tornas-te mais forte. É assim que eu estou com o que eu faço.


M.I. - És frequentemente comparada com a Chelsea Wolfe e Emma Ruth. E Lana del Rey com a vibe de rock psicadélico dos anos 60 e 70?

As minhas influências são mais rock dos anos 60 e 70, música folk. Entendo as comparações com a Chelsea ou algo assim, mas para mim é muito distante.
Eu acho que este disco e meu disco anterior têm muito mais groove. Trabalho muito com amplificadores antigos, instrumentos de verdade, esta é a minha base, visto os órgãos serem o meu som favorito. Acho que, para mim, o que ouço muito para compor o disco é Fleetwood Mac. Essa é mais a minha base para o que eu faço e sou uma grande fã.


M.I. - Por quê o lado mais sombrio do amor?

Tenho pensado nisso e acho que, de certa forma, como te disse, gosto de ser uma pessoa muito sensível como tu. Tens muitas sensações. As coisas ficam muito fortes e também sou uma pessoa que gosta de paixão. Quero ouvir a música no volume máximo. Quero que a vida valha a pena e às vezes um coração partido parece mais do que o amor verdadeiro. O amor é mais sereno e o desgosto é muito intenso. Não sei por que me sinto atraída por isto.


M.I. - Ao fazer uma retrospetiva, a Louise de 10 anos acreditaria que alcançaria o sucesso como a Rainha de Death Gospel, como é hoje em dia?

Eu, com 10 anos, tocava guitarra e escrevia músicas. Eu fazia a mesma coisa antes que faço agora. Desde muito, muito criança, escrevo músicas. Tem sido a minha constante ao longo da vida.


M.I. - A promotora é a Icons Creating Evil Art, famosa por trabalhar com algumas bandas de Heavy Metal. Também és fã deste género?

Não muito. Gosto de música que seja paixão. Gosto de volume, mas sinto-me mais atraída por ter algum tipo de Blues de alguma forma. Então, eu gosto mais de coisas que se baseiam nisso, mas tenho um interesse musical muito amplo, mas preciso que seja realmente autêntico e apaixonada, com alma. Eu não diria que seja a minha primeira escolha.


M.I. - Estiveste em tour com os Solstafir e até tocaste em festivais de Metal. Consideras que existe um pequeno nicho de fãs metaleiros?

Eu acho isso super fantástico. Eu ouço Grunge e um monte de coisas nas quais me inspiro e acho que, na minha música, podes ouvir mesmo que seja apenas uma música bem suave. Eu acho que ainda podes ouvir essas influências que são músicas reais, de alguma forma, mas ainda podes ter um lugar onde podes encontrar solidão, onde podes refletir, onde podes ter essa parte emocional.
Acho que os conquistei, de alguma forma, ao fazer música de verdade e dar-lhes um espaço onde possam descansar. Para mim é fantástico ouvir histórias, pessoas a falar que choram quando ouvem a minha música ou que têm um espaço próprio para elas, é espetacular.


M.I. - O teu último álbum, Lifetime of Tears (2024), saiu em fevereiro. O que gostarias de partilhar sobre o álbum?

É realmente uma peça importante para mim, tanto pessoal como musicalmente. É um disco muito pessoal e decidi produzi-lo sozinha.
Eu também produzi o meu primeiro álbum num grande estúdio, então foi como um passo à frente para realmente assumir o controlo de toda a produção das minhas músicas e como elas soam. Foi bom entrar naquele lugar e também foi muito bom deixar a minha banda tocar comigo. Temos tocado imenso, muito ao vivo e incorporei também bastante a personalidade deles.
É um sucesso muito pessoal para mim, mas acho que também peguei nas personalidades vulneráveis ​​do músico neste álbum, e ouve-se um pouquinho, mais um som ao vivo que acontece. Acho que muitas das vezes trabalho da escuridão para a luz e acho que este álbum começa com um ponto de vista muito pesado e termina com a procura pela paz, ou fornecendo ao ouvinte algum tipo de paz com a última música.


M.I. - A faixa “Shattered Heart” é de longe a minha favorita. Qual é a produção por trás desta?

É sobre o meu coração partido. É sobre o fim de um relacionamento. Está a ser esmagado, e acho que as primeiras linhas deste álbum, ou esta faixa, são as primeiras que escrevi em todos os álbuns.
Eu comecei a pensar no que seria este álbum e acho que essa música também é muito disso do que falo, algo muito difícil, e pelo qual passei. No entanto, ao mesmo tempo, sinto que esta música é muito, muito forte. Tem esse duplo sentido, porque é uma música super forte, mas falo de algo muito difícil.


M.I. - “Tears as Fuel” foi gravado em Barcelona. Tu e o Johan Lundsten são da Suécia. Por que gravar este vídeo na Catalunha?

Barcelona tem sido a minha segunda casa. Tenho vivido bastante lá, então tenho ido e regressado bastante. É também muito do que o álbum trata, que aconteceu nessas ruas, uma espécie formato de diário que eu meio uso para escrever. Eu queria a mesma coisa com o vídeo. Se eu tivesse que fechar o coração nestas ruas, fazer um vídeo que fosse acima disso, mas que também te levasse a outro universo mais agradável.


M.I. - De que forma este álbum difere de Devil (2020)?

Acho que este álbum é um pouco mais maduro. Sinto que tem maturidade tanto nas letras quanto na produção. Também sinto que tive uma visão clara do que quis fazer e de fazer acontecer.
As músicas são meio focadas. Consegui a produção da forma que eu queria. Sinto que é um álbum muito trabalhado, mas ainda com essa sensação viva.


M.I. - As músicas têm um sentimento introspetivo, principalmente porque são baseadas nas tuas experiências pessoais. Quão fácil ou difícil é para ti transmitir os teus sentimentos pessoais na música?

Acho que é a única forma de fazer isso. Acredito que qualquer tipo de arte é o que tu pintas, e essa é a maneira de fazer isso.
Como disse, mesmo quando escrevo tento encontrar algo mais pessoal. Se eu falar de forma mais geral, não conecto, o ouvinte não se liga comigo. Tento encontrar essas coisas pessoais muito, muito profundas, coisas específicas que acontecem ou sentimentos. É assim que tu consegues ligar-te com outra pessoa. Se falas com alguém, se ligas, e eu penso o mesmo se fizeres qualquer tipo de arte.
Para mim, o que também acontece é que eles tornam-se muito sinceros, mas sou eu que crio a narrativa. Eu consigo fazer algo parecer bonito, poderoso ou poético, esta merda sombria que acontece, e posso torná-la poética.
Sinto-me muito confiante quando crio, posso ser tão pessoal quanto me apetecer, porque são as minhas palavras. Elas são minha perspetiva e eu posso criar a cena real.


M.I. - Já ponderaste em fazer um álbum acústico?

Na verdade, vou lançar algumas músicas de um ambiente diferente, sem bateria e sem baixo. Eu não diria acústico, mas tem um sentimento muito diferente, estou prestes a lançar num futuro próximo. Então sim, eu experimento sempre com novos sons.


M.I. - Algum plano futuro para promover em turnê esse novo álbum incrível?

No momento, não.


M.I. - Obrigado pelo teu tempo! Na verdade, foi um prazer falar conversar contigo. Gostarias de partilhar alguma mensagem com os nossos leitores?

Estou muito grata por estarem a ouvir o álbum. O mundo está muito mau, difícil e os dias de momento não são fáceis, como sempre, mas ainda mais neste preciso momento.
Tento defender o meu ponto de vista e ser honesta e o mais sincera possível. Então é isso que quero transmitir.

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Entrevista por André Neves