Segundo dia do Festival Evil Live e, desde cedo, tornou-se evidente que o número de pessoas presentes superava largamente o do dia anterior. O facto de ser fim de semana ajudava, mas também se sentia a forte devoção pelos Korn, especialmente entre as camadas mais jovens. O cartaz deste segundo dia era o mais eclético de todos, o que provavelmente atraiu público de diferentes vertentes musicais, tanto do espectro mais pesado como fora dele.

À hora marcada os Bizarra Locomotiva preencheram atmosfera do Estádio do Restelo. Apesar do curto tempo do setlist, não faltaram os clássicos da banda como “Mortuário”, e “Escaravelho”. Em “Druidas” houve ainda tempo para Rui Sidónio distribuir águas pelos devotos da fila da frente, evidenciando uma preocupação para com os fãs. E em “Ergástulo” tempo para infiltração, da parte do vocalista, por entre o público. Houve Crowd Surfing no “Anjo Exilado”, com Sidónio junto à fila da frente a puxar por todos. Com uma presença de palco sempre irrepreensível e um dinamismo surreal, é impossível ficar-se indiferente a um concerto deste quarteto fantástico. Como habitual, criou-se um verdadeiro transe entre banda e plateia. Para resumir: monstros de palco.

A segunda banda do dia foram os Seven Hours After Violet, projeto que conta com Shavo Odadjian (System of a Down) no baixo. Abriram com “Paradise”, o single de estreia do grupo. A sonoridade está claramente enraizada num Metalcore moderno, com elementos industriais e algumas pitadas de deathcore. A alternância entre clean vocals adiciona textura à mistura, criando uma dinâmica magnética em palco.
“Go!” e “Glink” trouxeram descargas brutais de breakdowns, acompanhadas por um groove só ao alcance de um baixista de excelência. Esta jovem banda demonstrou grande vontade e entrega, contagiando o público, que respondeu com marés constantes de Crowd Surfing. No tema final, ainda foram brindados com um mega Circle Pit. Pena o som do baixo ter estado ausente em pelo menos três músicas, mas quando regressou, revelou toda a essência do coletivo.

Com o cartaz em mãos, já se sabia que os Eagles of Death Metal teriam um desafio em mãos: apresentar uma sonoridade mais próxima do Rock, num dia dominado por bandas de peso. Mas quem conhece o grupo norte-americano, sabe que são verdadeiros reis da festa, independentemente da plateia.
“I Only Want You” ecoou por todo o estádio, seguida de “Don’t Speak”, ambas com pausas propositadas, truque habitual da banda para apanhar distraídos. “Complexity” trouxe um groove viciante, pondo todos a dançar de forma quase pavloviana, com Jesse Hughes na linha da frente a incentivar o público, delírio coletivo. “Cherry Cola” e “I Want You So Hard” foram dedicadas às mulheres presentes, e marcaram o ponto alto da atuação, com um frenesim generalizado que parecia um verdadeiro movimento browniano, aquela dança descontrolada típica do Rock’n’Roll. Os EODM não desiludiram, e até conquistaram os mais céticos, numa atuação que se revelou uma das surpresas do festival.

Os Opeth dispensam apresentações, e a devoção dos metaleiros ficou evidente assim que soou a primeira nota de “§1”: o estádio mergulhou numa loucura, mas de um tipo diferente. Opeth são únicos, e o público deles também. A prova disso foi que, onde antes reinava o Crowd Surfing, agora havia uma atenção quase religiosa à magia musical dos suecos.
Sabia-se que o set seria mais curto, mas temas como “Heir Apparent”, “In My Time of Need” e “Sorceress”, além de “§7” do mais recente trabalho, integraram o alinhamento. A verdade é que qualquer escolha feita por Mikael Akerfeldt e companhia seria bem recebida, tal é a paixão dos fãs e a qualidade discográfica da banda.
O ponto alto foi, sem dúvida, “Ghost of Perdition”, visível no brilho dos olhos de quem esperava há muito por este momento. Os suecos, conhecidos pela sua boa disposição, decidiram não encerrar com “Deliverance” como habitual, mas sim com “Master’s Apprentices”. Uma atuação grandiosa, apenas pecando por ter sabido a pouco.
Till Lindemann mais do que um músico, é um verdadeiro performer. Toda a atuação foi muito visual e teatral. Além disso, Till tem a capacidade natural de nos arrastar para as suas histórias musicais, fazendo-nos sentir verdadeiros personagens aprisionados nas suas letras e fantasias.

“Fat” é muito provavelmente o tema mais pesado de toda a atuação e em “Golden Shower” houve um incremento exponencial na festança da parte de todos, culminando com um gigante Circle Pit em “Sport Frei”. Em “Allesfresser” foi tempo de serem arremessados bolos e em “Fish On” foi tempo de serem arremessados peixes, caso para dizer que comida não faltou. “Praise Abort” e “Skills in Pills” cheias de controvérsia nas suas letras. Em suma havia música para tudo e sobre tudo. Ainda houve tempo para umas invasões e desfiles da parte da banda por entre as centenas de pessoas na assistência, sempre muito bem recebido e celebrado.
A palavra que melhor descreveria toda a atuação de Till Lindemann e restantes músicos seria mesmo ‘Fetiche’, porque música à parte, toda a moldura era bastante conspícua, sugestiva e demasiado visual: não aconselhável a menores. Desde os apetrechos em palco, acessórios mostrados pelos membros, passando claro pelas imagens projetadas atrás dos músicos. Polémica e choque foram certamente o objetivo do artista, e foi muito bem conseguido diga-se de passagem. Este concerto foi, sem dúvida, tema de conversa até ao final da noite.

A zona do relvado encontrava-se cheia de fãs de Korn, que desde a tarde vestiam orgulhosamente as T-shirts dos cabeças de cartaz. Os saltos eram tantos que de facto os metaleiros pareciam verdadeiros ‘Popkorn’ (sem trocadilhos... ou talvez não), colaram “Twist” atribuindo um vigor requintado ao concerto.
Foi um desfilar de clássicos: “Here to Stay”, “Got the Life”, “Clown”, “Did my Time” e “Shoots and Ladders”. Destaque para “Got the Life” muito bem recebida numa ovação colossal; “Clown” com uma paragem a meio providenciando um silêncio ensurdecedor, para depois ser retomado com um peso anti gravítico, muito graças ao slap daquele baixo dos infernos; “Shoots and Ladders” com a habitual entrada com gaita de foles, e uma mistura com o fecho da “One” dos Metallica, adensando ainda mais a fome insaciável dos ‘kornistas’.

Em “Ball Tongue”, a festa explodiu em Crowd Surfing e Circle Pits. “A.D.I.D.A.S.” fez Lisboa tremer - com epicentro no Restelo - e um refrão gritado em uníssono. Em “Somebody Someone”, uma tempestade tropical de cerveja caiu sobre a multidão, antes de Jonathan Davis se dirigir ao público com um emotivo “Feels good to be back!”. “Y’All Want a Single” fechou o set principal em apoteose, com mais Crowd Surfing e insanidade generalizada.
O encore trouxe quatro murros certeiros: “4U” para acalmar; seguida de “Falling Away From Me”, momento de pura nostalgia; “Divine” para reacender a chama, e “Freak on a Leash” como cereja no topo do bolo. O final teve direito a explosão de fitas e confettis, e foi executado com toda a energia possível, final perfeito. O público ficou envolto num turbilhão de emoções: saudade, alegria, realização e uma ligeira melancolia pós-concerto que os trouxe de volta à realidade.
Korn são uma das bandas mais importantes do Nu Metal e uma influência marcante nas novas gerações de Metalcore e Deathcore. Mesmo quem não aprecia o género reconhece-lhes o mérito e o impacto. Foi um concerto memorável, com um setlist de sonho para os fãs e uma excelente porta de entrada para novos ouvintes.
O segundo dia terminou tal como começou: de forma incrível. Muitos levarão este dia gravado no coração, enquanto esperam ansiosamente pelo terceiro e último dia do festival. Com grandes nomes ainda por subir ao palco, esperam-se muitas emoções e uma multidão à altura.
Texto por Marco Santos Candeias
Fotografia por Paulo Jorge Tavares
Agradecimentos: Prime Artists