Eu já oiço death metal desde os meus 14/15 anos, o que quer dizer que nestes últimos 20 anos já ouvi muitos discos do género, uns com mais impacto que outros, quer fossem das chamadas bandas clássicas, quer daquelas que ninguém conhece ou que a imprensa dá pouca atenção.Lembro-me de à uns anos ter visto uma reportagem de uma televisão americana, do início da década de 90, sobre o death metal americano, onde apareciam integrantes de bandas recentes na altura (hoje já mais famosas) como os Deicide, Morbid Angel e Obituary. A certa altura, David Vincent dos Morbid Angel diz algo que espelha bem o que é o death metal: “O death metal é um estilo de música que não tem fronteiras. Pode ser tão pesado quanto se quiser, pode ser doentio quanto se quiser, pode ser rápido ou lento quanto se quiser...”. Esta frase resume toda a essência deste estilo. E quando falamos de death metal, normalmente pensamos no Americano (norte e sul) e Europeu e começam também a despontar algumas bandas interessantes da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia), mas tirando essas três regiões do mundo, do restante (entenda-se Ásia) pouco ou nada se fala.
Esta introdução tem uma finalidade. Quando se fala em “fronteiras” no que diz respeito ao metal, o caso dos Nervecell é um deles, estando mais que patente a força que o metal em geral tem em todo o mundo, mostrando que mesmo nos locais mais insuspeitos da existência de uma cultura “metálica”, essa começa a ganhar força. Prova disso são alguns movimentos que começam a nascer em paises como Israel (de onde vêm os grandes Orphaned Land), Irão e mesmo do Egipto.
Oriundos dos Emiratos Estados Unidos, na região do Médio Oriente, os Nervecell lançam agora o seu segundo disco, “Psychogenocide”. Este sucessor do album de 2008 “Preaching Venom” é uma continuação lógica no seu percurso, apresentando dez novos temas de death metal intenso e técnico, com alguns apontamentos étnicos (mais que normal, dada a região de onde vêm), muito bem executado e gravado.
A banda liderada por Barnaby "Barney" Ribeiro (guitarra), bem secundado por Rami Mustafa (guitarra) e por Rajeh "James" Khazaal (baixo / voz) apresenta neste “Psychogenocide” um death metal equiparado a uns Malevolent Creation ou Necrophagist e, em alguns momentos, dos mestres Nile (Karl Sanders aparece como convidado num dos temas do disco, em “Shunq (To The Despaired... King Of Darkness)” muito bem executado tecnicamente, onde a mistura entre o rápido e brutal está muito bem enquadrado com as partes mais lentas, resultando num disco muito interessante e nada maçador. Muita da “culpa” deste dinamismo e potência é o trabalho do baterista de sessão para este disco (já o tinha sido no anterior), o extraordinário David Haley, baterista dos Psycroptic e até 2007 dos The Amenta.
Seja em temas a meio tempo, como “Upon An Epedemic Scheme”, “Amok Doctrine” ou “The Taste Of Betrayal” ou nos mais furiosos como “All Eyes On Them”, “Psychogenocide” ou “Imprint”, os Nervecell conseguem manter uma dinâmica interessante e consistente, mostrando que o death metal é um estilo que também pode fazer muito sentido sem que tenha que ser tocado a 300 à hora ou metendo 50 riffs num tema.
Independentemente de este ser apenas o seu segundo disco, os Nervecell já partilharam digressões com grandes monstros da cena como os Suffocation, dando prova que a sua inclusão nesses cartazes é um atestado de competência da banda.
Esperemos que os efeitos da globalização permitam ao Nervecell espalhar a sua música pelo mundo, mostrando que mesmo nos lugares menos esperados pode surgir algo de muito bom. Afinal, as fronteiras existem para serem derrubadas...
Nota: 8.2/10
"Psychogenocide" track list:
01. Anemic Assurgency
02. Upon An Epidemic Scheme
03. All Eyes On Them
04. Amok Doctrine
05. Psychogenocide
06. Imprint
07. Shunq (To The Despaired… King Of Darkness)
08. The Taste Of Betrayal
09. Driven By Nescience
10. Nation's Plague
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Review por João Nascimento
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