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Entrevista aos Vallenfyre


Greg Mackintosh é um músico de fama internacional e dono de uma carreira invejável de, praticamente, duas décadas com os Paradise Lost. Agora, ele está de volta… mas desta vez com os Vallenfyre, banda que criou para exorcizar todos os demónios que teve de enfrentar devido à doença do seu pai. O mestre da guitarra apresenta-se agora como vocalista e esteve a conversar com a Metal Imperium sobre o novo álbum “A fragile King”, o seu pai e a sua vontade de vir tocar a Portugal. 
M.I. – É de conhecimento geral que os Vallenfyre foram criados para lidares com a perda do teu pai. A banda realmente ajudou-te como esperavas ou desejavas? Funcionou um pouco como terapia, não? No entanto, pergunto-me… não poderias ter lidado com estes demónios e dor escrevendo temas para os Paradise Lost? 
Ajudou-me porque consegui libertar muita raiva e assim falo sobre o meu pai todos os dias. Infelizmente, nada o vai trazer de volta. É escusado dizer que preferia ainda ter o meu pai do que ter criado os Vallenfyre. Houve alguns factores que pesaram para eu não ter escrito para os Paradise Lost… um deles foi o timing, porque tínhamos acabado de gravar um álbum nos Paradise Lost. O outro factor de peso foi que eu não escrevo letras para Paradise Lost e com os Vallenfyre comecei com algumas passagens líricas. Finalmente, uma parte do processo tornou-me mesmo obsessivo sobre os meus primeiros tempos como músico e essa música foi e ainda é a música que eu mais aprecio. 

M.I. – Como era a tua relação com o teu pai? Considerando que também és pai, esperas um dia vir a ter o mesmo tipo de relação com os teus filhos? 
Eu tive a sorte de ter uma óptima relação com o meu pai. Ele era uma pessoa fenomenal e muito amigável, sempre a rir e a não levar as coisas demasiado a sério. Eu penso que já tenho o mesmo tipo de relação com os meus filhos mas desejava ser um pouco mais relaxado, tal como o meu pai. 

M.I. – O álbum “A fragile King” lida com a dor mas também com a religião. Qual é a tua opinião sobre isso? Que outros temas são abordados no álbum? 
Eu sou ateu. Desde muito novo me apercebi que a religião tinha uma mentalidade muito fechada e controladora. É um grande instrumento de manipulação usado pelo pessoal no poder e também é muito lucrativa. Fico incomodado com esta sociedade que não pensa, e isto inclui tudo desde a religião ao consumismo, desde a inveja pessoal em “Ravenous Whore” à inveja generalizada em “Humanity Wept”. 

M.I. – A faixa “Humanity Wept” está totalmente actualizada tendo em consideração todos os problemas económicos e políticos que o mundo enfrenta… como encaras tudo isto e como te afecta? 
Os problemas que estão a surgir por todo o globo eram inevitáveis. Não se pode imprimir dinheiro e mais dinheiro, pois há consequências. O lucro pode ser rei e o povo está infeliz. Afecta-me tanto como a todas as pessoas que vivem no mundo ocidental. Os produtos estão cada vez mais caros e há menos dinheiro a circular. Eu não tenho soluções imediatas mas penso que a dissolução de todas as religiões faria com que o pessoal desse menos importância aos bens materiais e seria um bom começo para resolver tudo isto. 

M.I. – O título “A fragile King” é uma referência óbvia ao teu pai e à sua doença… como é que tiveste ideia para a capa? Qual o seu significado? 
Sim, o título é sobre idolatrar alguém e pensar que essa pessoa é invencível e depois descobrimos que, afinal, são tão vulneráveis como os outros. O artista Orion Landau teve a ideia da capa baseando-se nas letras que lhe forneci e nas ideias que eu tinha. A capa representa, no seu todo, a decadência, raiva e desespero. 

M.I. – Mencionaste algumas bandas bandas que influenciaram o teu som nos Vallenfyre: Nihilist, Carnage, Antisect, Amebix, Extreme Noise Terror, Napalm Death, Autopsy, Repulsion, Celtic Frost, Candlemass, Trouble, St Vitus and early Paradise Lost… como dantes apreciavas estas bandas e agora também, dirias que a mistura de todos estes estilos resulta perfeitamente? 
Para mim resulta! Todas essas bandas evocam memórias do lado mais obscuro, seja raiva, pena, fúria, medo, etc. Eu simplesmente as misturo todas e tento fazer com que resulte bem. 

M.I. – Os Vallenfyre lançaram o single “Desecration/Iconoclast” (limitado a 500 cópias) pela Imperium Records… és fã de vinil? Porque não o lançaste pela Century Media tal como o álbum? 

Por duas razões… por um lado queríamos permanecer anónimos o máximo de tempo possível para evitar comparações. E por outro, como queríamos o anonimato, era um risco muito grande para a Century Media. 

M.I. – Os Vallenfyre não são um projecto temporário… já tens ideias que que queres explorar no próximo álbum? Porque é que escolheste estes músicos para fazerem parte dos Vallenfyre contigo?
Eu ainda não penso no próximo álbum, pois o melhor é ver como nos sentiremos daqui a dois anos ou isso, já que muito pode acontecer entretanto. Eu não gosto muito de planear assim com tanta antecedência. Os tipos de Vallenfyre foram escolhidos porque são os meus melhores amigos. Eu conheço o Scott e o Hamish há cerca de vinte anos. Todos crescemos com uma grande paixão por este estilo de música e era inevitável que fizessemos parte de bandas, mas nunca pensamos que estaríamos juntos na mesma banda. 

M.I. – O vídeo para “Cathedrals of Dread” já está disponível… como tem sido a resposta? 
Parece boa mas só me estou a basear nas visualizações do Youtube. Penso que já tem cerca de 20.000 visualizações, muitos “gosto” e só 7 “não gosto”. Por isso, acho que não está nada mal para uma banda nova com 5 gajos velhos. 

M.I. – Como te sentes por saber que vais tocar ao vivo com outra banda, sem ser os Paradise Lost? Estás entusiasmado? Quais são as expectativas para os Vallenfyre? Será possível os Vallenfyre fazerem uma tournée com os Paradise Lost já que ambas as bandas estão na Century Media? 
Eu estou mais nervoso que entusiasmado. É um novo desafio mas fazemos isto por diversão, por isso enquanto nos divertirmos a tocar ao vivo, continuá-lo-emos a fazer. Eu não tenho grandes expectativas e até fiquei surpreendido quando surgiram interessados no lançamento do álbum. Nós vivemos o momento, porque eu já estou neste meio há muito tempo e sei que há por aí muitas tretas por isso não acredito em nada até ver. 

M.I. – Este projecto irá afectar os Paradise Lost de algum modo, considerando que agora estarás menos disponível? 
Não percebo porque é que terá de afectar os Paradise Lost. Somos todos amigos e os tipos dos Paradise Lost percebem porque faço isto… iremos co-existir. 

M.I. – O teu irmão Ross MacKintosh publicou um livro entitulado “Seeds” relacionado com a doença do teu pai. É impressionante como vocês os dois expressaram a vossa raiva, revolta e tristeza de maneiras tão artísticas… o ser artista está no teu sangue? 
Acredito que esteja. Ficámos bastante surpreendidos quando descobrimos que a doença do nosso pai nos tinha inspirado aos dois a fazer algo. O Ross foi sempre muito artístico e é desenhador gráfico há muito tempo mas foi preciso algo grandioso acontecer para ele escrever o seu primeiro livro. 

M.I. – Como tem sido ser vocalista? Sempre pareceste ser tímido e, enquanto guitarrista, podias esconder-te por trás da tua guitarra e cabelo, mas como vocalista vais ser o centro das atenções… isto preocupa-te? 
Estou um pouco nervoso mas a vida é feita de novas experiências. O que é o pior que me pode acontecer? Perder a voz ou cair abaixo do palco?! Se acontecer, só tenho de sacudir o pó e tentar novamente.

M.I. – Últimas palavras… 
Seria fixe se nos arranjasses uns concertos aí em Portugal! (risos) 

Entrevista por Sónia Fonseca