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Godvlad – "Godvlad" Review

Por vezes acontece que somos levados a prestar um pouco mais de reverência à sabedoria antiga, aquela que prega que não façamos julgamentos precoces apenas com base nas aparências e primeiras impressões. Esse é um risco que podem correr os incautos que se depararem com os Godvlad e com o seu disco homónimo, o primeiro longa duração após a edição de uma demo de quatro temas em 2009! Sejamos sinceros, o nome Godvlad quase que nos semeia um imaginário de estepes frias e escarpas escavadas nos locais mais recônditos de nórdicas paisagens ou interiores europeus mais dados a superstições ligadas a entidades de mundos obscuros e subterrâneos! A própria capa do disco remete-nos subcoscientemente para o meandro do metal mais extremo e agressivo de conotações anti-religiosas e misantrópicas! No entanto...

Esta banda da região de Aveiro aposta forte na actualidade das suas composições, não se coibindo de afirmar o seu sentido mais moderno com a devida reverência às influências mais clássicas ou anteriores se bem que, na grande maioria dos casos, é a instância do presente que prevalece e faz crescer cada tema à medida que o disco avança! Certamente que alguns rótulos momentâneos poderiam ser aplicados aqui e ali, mas tal movimento de classificação seria um erro dada a heterogeneidade encontrada ao longo dos treze temas que compõem “Godvlad”!

Um dos estandartes deste sexteto passa pelo jogo de vozes entre Vanessa Cabral (vocals) e Sérgio Carrinho (bass / vocals), uma fórmula empregue por inúmeros colectivos por esse mundo musical fora, o habitual conto da Bela e do Monstro, por vezes numa espécie de dinâmica perseguição/fuga, enquanto noutros pontos o destaque proporcionado a uma delas é equilibrado com o enfâse da outra em momentos muito bem delineados! Um dos aspectos a apontar no departamento vocal é a sensação que vai ficando, a cada audição, de que a excelente voz de Vanessa Cabral não está a ser utilizada em todo o seu potencial, pois quase se sente na pele a energia a atingir-nos quando os temas permitem que se solte de forma vigorosa, enquanto nas cadências em que é obrigada a conter-se, ainda que o faça de uma forma segura, é a normalidade que acaba por nos chegar aos ouvidos!

Os desafios musicais que os Godvlad vão apresentando são mais que suficientes para desconcertar o arquivista mais experiente no que a catalogar bandas diz respeito! Resta apenas saber se a intenção inicial seria fugir às classificações fáceis e banais ou se estamos perante um caso explícito de desorientação musical, se bem que estou tentado a optar pela primeira das duas hipóteses! Ainda que se possa afirmar que o resultado final acabe por ser demasiado desiquilibrado, devido às suas constantes mudanças de estilo, não é possível ficar indiferente à forma como a banda se parece sentir à vontade com todas essas variações e atalhos. A música não soa forçada ao ponto de parecer desconfortável. Parece existir um sentimento comum a todos os temas. Existem muitas ramificações mas todas partem da mesma base. Seja qual for o caso em estudo, o facto é que os Godvlad conseguem soar extremamente coesos e profissionais no seu primeiro trabalho. Estamos a falar de um projecto que se deixou amadurecer durante o tempo que achou necessário (o projecto foi formado e começou a compor em 2006) e onde pontuam excelentes músicos com experiência e criatividade suficiente entre si para se destacarem como um colectivo de alta qualidade!

Não mencionei nenhum tema de “Godvlad” em particular até ao momento, pois dada a diversidade presente quase seria preferível fazer uma espécie de play-by-play e abordar cada um deles. Assim prefiro terminar apenas com os destaques pessoais para ‘Hungry Wolves’, por ser uma abertura de album muito bem escolhida, ‘Secret Sins’ com o seu balanço energético a antever grandes momentos ao vivo, ‘God vs. Vlad’ é um tema excelente numa toada mais contida, em que a quase guitarra do deserto procura encontrar-se a meio caminho com o pulsar urbano metalizado, ‘Pact With The Devil’ uma dose de peso moderna com doses massivas de groove e um sample em bom português ali pelo meio que lhe dá um sabor fantasmagórico ao mesmo tempo que poderoso!

Nota: 8.5/10

Review por Rui Marujo