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Epica – "Requiem for the Indifferent" Review

Era no mínimo utópico num ano que promete vir a ser inesquecível ao nível de lançamentos de música pesada, que não houvesse uma ou outra “baixa” pelo caminho. Da mesma maneira que Mark Jansen, guitarrista fundador, e principal fonte criativa dos Epica, terá pensado ser insustentável continuar a lançar discos análogos, sem que as pessoas mais tarde ou mais cedo se fartassem, por melhores que sejam.

À partida o desafio não se apresentava facilitado. Sendo os Epica uma banda com um som tão próprio e vincado, uma mudança radical viria alterar toda a filosofia da banda. Como tal, se pudéssemos representar graficamente aquilo que a banda faz numa tarte sonora, claramente a fatia referente à parte progressiva ganhou especial preponderância face a todas as outras, especialmente a sinfónica. O que no papel não é de todo uma má ideia, afinal de contas as estruturas das canções destes holandeses sempre estiveram bem longe de serem básicas, salvo uma ou outra excepção. E com isto em mente, a banda lá parte para o seu álbum mais complexo e ambicioso até hoje.

Após a normal introdução clássica "Karma", o riff Principal de "Monopoly of Truth" assalta-nos os speakers, seguido pelo coro e uma descarga de bateria típica da banda. Nestes 7 minutos os Epica exploram mudanças de tempo, intercalando entre peso, momentos épicos, e suaves como quem muda de camisa, terminando com um solo bem conseguido. Aliás, não deixa de ser admirável o quanto os Epica evoluíram no campo das guitarras desde "The Phantom Agony", com riffs e solos bem mais interessantes e criativos.

Segue-se o tema de avanço "Storm the Sorrow", na onda dos singles anteriores da banda. Linhas vocais orelhudas, refrão cativante e interlúdio dividido entre uma parte mais pesada e outra mais calma. Falando em calma, "Delirium", a balada do disco em nada envergonha o legado da banda neste registo. Diga-se que Simone Simmons sempre conseguiu dar uma tristeza e sinceridade bem marcantes a este tipo de temas evitando qualquer tipo de lamechice mais banal. "Internal Warfare" volta à carga outra vez mantendo uma estrutura equivalente a "Storm the Sorrow", mas mais pesada, e com um duelo de guitarra / sintetizadores, algo nunca visto antes nos Epica. Já o tema título segue os mesmos arrojos de "Monopoly of Truth".

E tudo estaria bem se o álbum terminasse por aqui, mas não. Após o suave e melancólico piano de "Anima", "Requiem For The Indifferent" entra numa descida vertiginosa de qualidade, e num abuso de elementos progressivos que mais não fazem de que alternar entre o chato e o minimamente agradável. A sequência "Guilty Demeanor", "Deep Water Horizon", "Stay The Course" e "Deter The Tyrant" é particularmente infeliz, desafiando a capacidade do ouvinte em manter a sua atenção no álbum. Com a meia-balada "Avalanche" lá voltam a ressuscitar um pouco o brilhantismo da primeira parte do disco, para depois voltarem a deitar tudo a perder com "Serenade Of Self-Destruction", que não sendo propriamente um mau tema, também não justifica o porque dos seus quase 10 minutos de duração.

Em suma, um disco bipolar, capaz do melhor e do pior, mas que serve também para provar que Simone Simmons continua numa evolução assinalável, procurando sempre novos caminhos para diversificar a sua já tão distinta voz. Não é fácil sair da zona de conforto e tentar novas abordagens, mas só por isso os Epica continuam a merecer todo o respeito, e "Requiem For The Indifferent" não será mais do que um percalço, que ainda assim serve para envergonhar muitos colectivos que gostam de brincar com orquestrações. O problema é que sabendo do que Mark Jansen e companhia são capazes, sabe a pouco, muito pouco.

Nota: 6.5/10

Review por António Antunes