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Delain - "We Are The Others" Review

A Holanda é sem dúvida um dos grandes pontos de referência no que diz respeito ao Female Fronted Metal Scene. Seja numa vertente histórica com os The Gathering e Orphanage como percursores do género, ou por ter lançado alguns dos mais importantes e interessantes nomes, com Within Temptation, After Forever e Epica como exemplos mais óbvios. Mas o país das tulipas é tão especial neste âmbito, que até as bandas que há partida se apresentam menos extravagantes, se arriscam a lançar grandes discos. Os Delain são um desses casos, que a brincar a brincar vão contanto já com uma interessante base de fãs, que lhes permite manter a confiança de uma grande editora como a RoadRunner.

Com este novo We Are The Others, a banda traz-nos algumas surpresas quando comparado com os anteriores Lucidity e April Rain. A maior delas será porventura o groove de algumas faixas, com destaque especial para o tema inicial Mother Machine, uma autêntica bomba energética, que faz um contraste incrível com a voz profunda de Charlotte Wessels, e claro um refrão daqueles que só mesmo os Delain conseguem fazer. Aliás, desde April Rain que Martjin Westerholt, teclista e principal compositor, descobriu uma capacidade assombrosa para escrever orelhudos refrões que, vá-se lá saber como, conseguem estar mesmo ali no limite entre o corriqueiro e a vontade em ouvi-los até nos fartarmos completamente deles. Os casos mais flagrantes serão os de Hit Me With Your Best Shot e Are You Done With Me. Cantados por Evanescence ou Amaranthe provavelmente soariam lamechas ou dariam vontade de rir, mas com Delain soam incrivelmente bem.

Desta vez a lista de convidados cingiu-se à presença de nem mais nem menos do que Burton C. Bell, vocalista dos lendários Fear Factory no tema Where’s The Blood, que mais uma vez recupera um pouco do groove do primeiro tema, quase como se contagiado pela presença do próprio vocalista, que faz um interessante dueto com Charlotte. Falando no Diabo, que é como quem diz, esta menina merece um especial destaque nesta crítica. A sua evolução desde Lucidity é assinalável. Hoje em dia Charlotte Wessels é uma vocalista bem mais segura, cada vez mais consciente dos caminhos por onde a sua voz deve deambular, e as raras imperfeições que ainda possui dão-lhe mais charme vocal do que outra coisa, até porque esse parece mesmo ser o seu grande trunfo, bem como o seu tom muito próprio. Certo é que talvez não tenha a força e técnicas de uma Floor Jansen, a diversidade de uma Anneke van Giersbergen, ou a beleza vocal de uma Sharon de Adel, mas compensa com um carisma enorme que a faz distinguir da concorrência. Não é apenas mais uma carinha laroca (que a têm, não haja duvidas), pronta a ganhar o apoio de um público, maioritariamente masculino, através da libido. Não, Charlotte é bem mais do que isso. Ouçam-na em I Want You, e ousem, se conseguirem, dizer que ela não sente o que canta.

Talvez seja difícil discernir onde começa a parte pop do disco e a parte metal, mas mais importante que isso, We Are The Others é um grande disco, e porque não dizê-lo, um marco num estilo que anda a precisar de lançamentos assinaláveis como de pão para a boca. Seria tão fácil pegar nele e dissertar sobre tudo o que vai mal no metal de hoje em dia, extrapolando algum do seu delicado conteúdo virado para as massas, mas também não seria honesto. Talvez ajude a muito boa gente chegar à conclusão de que boa música existe em todos os quadrantes, seja no mainstream ou no underground, ou seja ela pesada ou leve, ligeira ou erudita.


Nota: 9/10

Review por António Salazar Antunes