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Entrevista aos Disaffected

Entre 1995 e 2006, a importante banda portuguesa de death metal progressivo, Disaffected, encontrou-se totalmente inativa. Mas é com “Rebirth“ que o grupo volta para o panorama nacional para continuar um legado outrora perdido no tempo. “Rebirth“ foi lançado no passado dia 25 de Maio e antes de pisarem o palco do Festival Vagos Open Air, os Disaffected responderam à Metal Imperium numa entrevista que pode ser lida abaixo.

M.I. - O título do vosso novo álbum, “ Rebirth “, lançado no passado dia 25 de Maio, remete para “ Renascimento “ devido ao facto de ser o 1º trabalho lançado após a vossa separação. Quem são estes Disaffected “ renascidos “ e qual a mensagem por trás deste novo álbum?


Estes Disaffected “renascidos” são praticamente os mesmos de 1995. Embora nem todo o alinhamento dessa época se tenha mantido, o conceito, o objectivo e a direcção musical são exactamente os mesmos. O fio condutor entre os álbuns “Vast” e “Rebirth” é bastante claro e evidente para o ouvinte de ambos. Assim, pareceu-nos uma óptima ideia identificar este novo trabalho como um renascimento desse velho espírito de há 17 anos atrás. A mensagem é portanto assinalar o regresso à vida de algo que estava “morto” há muito tempo.

M.I. - Pode-se considerar, então, que entre o período da vossa separação até aos dias de hoje, algo tenha mudado, nomeadamente a forma como antes trabalhavam e agora trabalham? Contribuiu a vossa separação para um amadurecimento musical e pessoal?


Muitas coisas mudaram. Sem dúvida. Em 17 anos as pessoas mudaram, o meio mudou e até a própria forma como se ouve música mudou. Basta pensar que em 1995 não havia internet. Não havia os espectaculares meios de divulgação e promoção que hoje existem. Isso por si só faz toda a diferença. Toda a tecnologia a que hoje temos acesso influência, ainda que de forma indirecta, o modo de pensar, ouvir e fazer música. Em todo o caso, talvez mais importante que tudo isso é o facto da nossa separação se ter ficado a dever, sobretudo, ao acidente de mota que quase tirou a vida ao Sérgio (guitarrista). Na verdade, tendo ele estado em coma e tendo sido dado como um caso praticamente perdido, cada pequeno passo que fomos dando depois disso foi sempre encarado como uma bênção, ou uma espécie de bónus. Essa perspectiva tem-nos ajudado também bastante a amadurecer e a valorizar tudo o que somos.

M.I. - Até agora que feedback tiveram do novo álbum? Tem sido boa a receção, tem sido o que esperavam face às vossas expectativas?

Até à data as reacções ao “Rebirth” têm sido esmagadoramente muito positivas. Em boa parte graças ao facto de ter sido lançado pela Massacre Records, este trabalho tem sido sujeito a um amplo escrutínio da crítica internacional – coisa que o “Vast”, não obstante o seu estatuto de referência no género, nunca foi. Assim, temos tido excelentes “reviews” de revistas, “webzines”, rádios, etc. de um pouco por todo o mundo. Quase todos têm sublinhado a originalidade, o ambiente e a complexidade deste “Rebirth”. Apesar de estarmos muito confiantes com o trabalho que tínhamos em mãos, e que nos levou anos a juntar e a gravar, havia o compreensível receio de alguns poderem achar que o regresso não tinha valido a pena e que ficava aquém do “Vast”. Felizmente, nada disso aconteceu e o “Rebirth” vem ganhando o seu próprio estatuto.

M.I. - Relativamente à vossa variação no que diz respeito ao estilo musical, embora ainda estejam enraizados nas raízes do death metal, o vosso som tem-se vindo a tornar mais progressivo, mais técnico. Há uma tentativa em experimentar novas abordagens ou sentem que é pelo caminho do progressivo que se encontra a vossa identidade musical?


Descontadas as demos – e mesmo nesses casos, face aos usos da época, talvez nem tanto assim – Disaffected sempre foi uma banda de death metal progressivo. É esse o nosso ADN musical. O “Vast” é progressivo e técnico, e o “Rebirth” seguiu-lhe os passos – indo ainda mais longe. Qualquer futuro trabalho de Disaffected terá sempre essa matriz. É essa, efectivamente, a nossa identidade musical.


M.I. - No que diz respeito às letras de “ Rebirth “ por que tipo de temáticas foram influenciados?


“Rebirth” é um álbum conceptual. Ele conta a história da banda, ainda que de uma forma metafórica, desde a sua morte até ao seu regresso. A primeira parte do disco reporta a todas as dificuldades, dúvidas e anseios por que tivemos de passar. A segunda à determinação, empenho e superação quando alcançamos os nossos objectivos. Não obstante, o estilo de escrita é suficientemente largo para qualquer pessoa se identificar com as temáticas do disco.


M.I. - No dia 3 de Agosto vão atuar no Festival Vagos Open Air e vão pisar o mesmo palco de bandas de grande calibre, como At the Gates, Arch Enemy e Overkill, entre outras. Como se sentem face a esta oportunidade e quanto de Disaffected haverá em palco?

É sem dúvida uma enorme honra poder partilhar um palco com tantos e tão sonantes nomes do metal mundial. Esta edição do VOA está absolutamente espantosa! E como se não bastassem todas as grandes bandas que o cartaz já tinha, a organização ainda nos brindou com mais uns “Nasum” à última da hora! Numa palavra: brutal! Esperamos estar à altura de um festival tão impressionante quanto este. Vamos dar 100% para corresponder ao convite da organização e para abrir logo em grande 2 dias de puro êxtase metálico!

M.I.- Em 1995, lançaram o álbum “ Vast “ que foi inovador para o death metal progressivo nacional. Face a esta constatação e à quantidade de anos que já passaram, não pensam em reeditar um grande marco do panorama nacional?

Sim, é de facto um assunto que já por diversas vezes consideramos. Tanto mais que, à medida que o público mais novo vai descobrindo o “Rebirth” e vai pesquisando a nossa banda, vão igualmente crescendo o número dos e-mails a pedir essa dita reedição. Infelizmente o “Vast” quase desapareceu. Há semanas havia uma cópia à venda na Amazon, mas a um exorbitante preço de cerca de 50 euros! Vamos ter de trabalhar nisso e talvez até incluir a cover da “Seasons in the Abyss” que fizemos para a compilação de tributo a Slayer na década de 90.

M.I. - O que diriam a todas as bandas nacionais que, tal como vocês, pretendem fazer da sua música um ícone reconhecido e valorizado?


Como em tudo na vida, nada se faz sem muito trabalho, dedicação, empenho, esforço, sacrifício e coragem. A fórmula é simples, mas não é fácil de aplicar. E quando tudo parecer estar a falhar: cerrar fileiras e redobrar a receita. Acreditar que é possível, porque realmente é possível. Ainda para mais considerando o imenso talento que, enquanto povo, colectivamente temos! Somos poucos, mas de facto muito bons no que fazemos com total e incondicional paixão.

M.I. - Que mensagem querem fazer chegar aos fãs e o que é que estes podem continuar a esperar da banda?

Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer à Metal Imperium pelo interesse e pela presente entrevista, e desejar que possam continuar o vosso meritório trabalho de divulgação do metal nacional. Quanto aos fãs, agradecemos todo o apoio que até aqui nos têm dado e fazemos votos de vos ver a todos em breve. Se não for antes, no VOA. No que ao futuro respeita, estamos já a começar a pensar no sucessor de “Rebirth”. Há que dar continuidade ao que temos vindo a fazer. Assim, terminado o ciclo de concertos, vamos retomar o trabalho de composição e esperar que desta vez não levemos outros 17 anos!

Entrevista por Daniela Abreu Freitas