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Entrevista aos Vintersorg


O nome Andreas Hedlund pode não significar grande coisa para muito boa gente, mas se falarmos em Vintersorg, talvez se faça luz! Este sueco é uma das mentes mais brilhantes no panorama do metal nos dias que correm e é membro de bandas como Borknagar, Vintersorg, Otyg, Cronian, Fission, entre outras. Por os Vintersorg estarem em fase de lançamento de “Orkan”, o segundo álbum de uma série de quatro dedicados aos quatro elementos e à relação entre o Homem e a Natureza, Mr V. conversou com a Metal Imperium e esclareceu-nos sobre os pormenores do álbum.


M.I. - As críticas de “Orkan” têm sido fenomenais... como te sentes?

Sinto-me óptimo, como é evidente, já que desta vez o trabalho parece agradar aos fãs e aos média.  Nós não temos esse objectivo mas é bom saber que agradamos a um vasto grupo de pessoas de todo o mundo. Apesar de só termos tido em conta as nossas necessidades, elas parecem estar em sintonia com o que as pessoas querem ouvir.


M.I. - O título “Orkan” traduz-se como “Furacão”. Porquê este título? A que tipo de furacão te referes?

Este é o segundo de uma série de quatro álbuns que lidam com os clássicos “quatro elementos”. O álbum anterior foi dedicado à terra, este é dedicado ao ar. Mesmo sendo este o tema principal, também tem algumas faixas que abordam algo mais do que só o “ar”. É sempre assim nos Vintersorg: letras sobre o homem e a natureza, sobre essa relação complexa. Desta vez, penso que escrevi mais sobre uma perspectiva de natureza romântica do que científica porque a considerei mais natural. Eu nunca interfiro com a inspiração! 


M.I. - Este é o oitavo álbum dos Vintersorg e o quinto em que usas a língua sueca. Nos primeiros álbuns usaste sueco, depois em “Cosmic Genesis”, “Visions from the spiral generator” e “The Focusing Blur” usaste inglês e agora voltaste à vossa língua materna. Porquê? Achas que é mais fácil exprimires-te em sueco ou tens receio que o significado se perca na tradução? Não achas que estais a limitar-vos porque assim podeis não alcançar tantos fãs por estes não compreenderem a vossa língua e, consequentemente, a mensagem?

Não é por ser mais fácil escrever e expressar-me na minha língua materna, tem a ver com a inspiração e exploração. Após alguns anos de ter iniciado os Vintersorg, comecei a escrever em inglês por curiosidade e inspiração. Também estava ansioso por encontrar um diferente caminho para escrever as nossas letras. Mas a minha outra banda usa inglês, por isso, após alguns álbuns senti a necessidade de escrever em sueco novamente. Ainda escrevo em inglês para as outras bandas e assim posso exprimir-me das duas maneiras.


M.I. - Com o vosso último álbum”Jordpuls”, iniciaste uma sequência de álbuns que lidarão com os quatro elementos. O primeiro focou-se na terra e “Orkan” centra-se no ar e retrata a relação entre o homem e a natureza. Porque é que decidiste explorar esta relação e lançar quatro álbuns dedicados aos quatro elementos? Como é que esta ideia surgiu? 

Eu já tinha esta ideia há muito tempo mas a altura nunca me parecia bem. Depois de “Solens Rötter”, senti que tínhamos fechado alguns capítulos e aberto alguns novos e estava na altura certa de abraçar essa velha ideia, tanto em ciência como em filosofia. Claro que, cientificamente, o conceito dos “verdadeiros” elementos já se desenvolveu muito desde a sua criação pois a ciência melhorou imenso e o seu significado também mudou. Mas eu ainda aprecio o conceito e por isso decidimos avançar. 


M.I. - A capa do álbum tem representada a imagem de um mar furioso e revolto... que transmite, simultaneamente, fúria e calma. Contudo, quando pensamos em furacões, as primeiras imagens que nos vêm à mente são fortes ventos e chuva intensa. Porque é que a escolheram para ilustrar este álbum?  Porque é que este é o álbum sobre o ar e a imagem é de água?

As ondas no mar são normalmente geradas pelo vento... outros factores como terramotos também são relevantes mas o vento é a principal influência. Para mim, foi bastante claro que queria algo assim em vez do clássico redemoinho que vagueia na terra. Na minha opinião, a parte mais dramática da pintura é a pequena árvore que está representada no canto inferior direito. Os Vintersorg nem sempre trabalham com o óbvio... preferimos encontrar ângulos diferentes e mais interessantes.


M.I. - Escolheram novamente o artista Kris Verwimp para ilustrar a capa. Como é que ficaste a conhecer o seu trabalho?

Ele pinta imagens naturais de uma grande beleza e por isso convidámo-lo no último album. Ele fez um trabalho tão bom que voltamos a convidá-lo.


M.I. - Podes dar-nos uma ideia geral das letras de cada tema do álbum?

Eu penso que a ideia geral referida anteriormente já é suficiente. Se quiseres mesmo saber mais, penso que já há traduções das letras do álbum disponíveis na internet.


M.I. - O álbum inclui alguns temas, nomeadamente “Polarnatten” que é simultaneamente obscuro, feliz, cativante... como é que consegues incorporar todos estes sentimentos num tema só?

Eu sigo o coração e escrevo o que sai naturalmente. Não tenho nenhuma fórmula que sigo sempre, em vez disso escrevo com diferentes instrumentos e em locais diferentes. Assim tenho sempre de me reinventar. Eu penso que cada nova canção deveria ter o seu próprio modelo e não um modelo pré-concebido que se altera no computador porque esse é um modo muito aborrecido de trabalhar. Tento sempre sentir aquela faísca musical que me atinge quando crio o que imaginei!


M.I. - Parece que tens responsabilidade total nas letras e nos arranjos musicais. Não é demasiado trabalho para um homem só? De onde extrais a tua inspiração: eventos diários, literatura. cinema, música?!

O nosso método de trabalho resulta às mil maravilhas. Eu escrevo os temas, gravo-os e depois mostro-os ao Mattias e falamos sobre as canções e, por vezes, alteramos alguns acordes. De seguida, gravamos e misturamos as guitarras em conjunto. Gostamos deste método de trabalho e assim continuaremos. A minha inspiração vem de dentro e a razão porque se expressa assim tem a ver com as coisas que experiencio... não sei bem e nem me interessa muito investigar e falar mais sobre isso. 


M.I. - Todos os teus projectos têm uma base muito semelhante e são idênticos em estilo. Assim sendo, porque é que estás envolvido em tantos? Não seria mais interessante tocar em bandas com diferentes estilos para poderes experimentar mais?

Eu acho que há uma grande diferença entre Borknagar e Waterclime, por exemplo. Também se passa o mesmo entre Vintersorg e Fission ou entre Cronian e Gravisphere... portanto para mim todas as bandas são relevantes e cada uma tem a sua identidade própria.


M.I. - Os Vintersorg  não tocam muito ao vivo. Se fosse possível, gostarias que isto mudasse  ou achas que o facto de não tocar ao vivo acrescenta mais misticismo à banda?

Tocar ao vivo é muito porreiro mas para nós não funciona porque somos só dois, é difícil conseguir folgas do emprego e eu tenho filhos, etc. Por isso, neste momento, não é possível tocar ao vivo e não sabemos se isso alguma vez  mudará. Vamos esperar para ver.


M.I. - Vives rodeado pela natureza e longe das grandes cidades... este facto influenciou a tua perspectiva do mundo? És um misantropo?

Eu nunca vivi numa cidade grande. Fui criado e cresci no campo e construi a minha teoria da vida baseado no meu modo de vida. A natureza sempre foi uma grande parte de mim por isso é natural que não pense nisso constantemente. Não sou um misantropo pois acho que os humanos têm a habilidade de marcar a diferença e transformar este mundo em algo extraordinário. Contudo, penso que o Homem está a caminhar na direcção errada quanto ao modo como vive e isso vai-se reflectir a longo prazo. Parece-me que estamos rapidamente a transformar este mundo num globo de cinzas.


M.I. - Nomeia 5 álbuns que andes a ouvir ultimamente.

Neste momento estou a fazer misturas e não ouço mais nada a não ser isso... gosto de fazer pausas no som... o silêncio também é um som. 


M.I. - Sabendo que um dia normal tem 24 horas, como é que consegues dar aulas, estar com a família, ensaiar e manter tantos projectos? Não dormes? Como é que tens criatividade e energia para estar envolvido em tantas bandas?

Não sei. É algo que eu não posso controlar, é como uma droga e e eu tenho tantas visões musicais que quero explorar! Não consigo explicar melhor do que isto. 


M.I. - A tua banda Otyg fez uma pausa em 2007 e dez anos depois decidiste reactivá-la e preparar um novo álbum. Como é que a inspiração voltou? Como estão a correr as coisas?

A banda adormeceu em 2000 e eu nem tinha intenção nenhuma de ressuscitar este monstro mas, de repente, fizemo-lo e eu escrevi o novo álbum que está à espera de ser gravado. 


M.I. - De todos os projectos em que estás envolvido, qual é o que mais te satisfaz e porquê? Por qual optarias se fosses obrigado a escolher?

Esta questão é impossível de ser respondida! Cada projecto existe por uma razão, eu não participaria neles se não tivessem significado para mim, por isso não ponho nenhum à frente, apesar de haver períodos de prioridade. Quando estou a trabalhar num álbum com uma banda especifica, essa terá mais a minha atenção. Mas, regra geral, estou em modo de gravação com várias bandas em simultâneo. 


M.I. - És professor... os teus alunos e a sociedade sueca em geral vêem os professores como modelos? É por isso que tens cabelo curto e não tens tatuagens visíveis?

Eu acho que a sociedade vê os professores como uma espécie de modelos mas, na Suécia, temos uma visão muito liberalizada de modelos, pelo menos na maior parte das comunidades. Eu vejo-me como um modelo quanto ao modo como ajo e me comporto mas não penso que todos devem pensar e agir como eu. Acredito na escolha individual desde que não se subestime o grupo... O meu corte de cabelo não tem nada a ver com isto... a aparência é subjectiva e cabelo comprido não é significado de mau comportamento e más maneiras... e penso que aqui o pessoal entende isso. 


M.I. - Para terminar, tens alguma mensagem / palavras para os nossos leitores e fãs?

Naah... ouçam o novo álbum pois acho que será um bom começo para quem não conhece a banda e é uma boa “viagem” para quem já conhece.

Entrevista por Sónia Fonseca