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Reportagem: Anathema e Astra @ Paradise Garage, Lisboa 2012


O regresso dos Anathema à capital, pelas mãos da Prime Artists, é sempre motivo de festejo, depois de uma bem sucedida noite no Porto, dada a ligação entre o público nacional e a banda britânica. A tour de apoio ao álbum "Weather Systems" tem sido bem sucedida e a casa cheia do Paradise Garage comprovou isso mesmo, tal como a anterior passagem pela sala em 2005.




A abrir estiveram os Astra, banda norte-americana de rock psicadélico, progressivo e espacial. Desconhecidos para grande parte do público, os norte-americanos entraram com um instrumental, "Cocoon", e sem contemplações levaram toda a sala (ou pelo menos quase toda) para uma viagem pelas estrelas. Com um feeling muito setentista e com quatro músicas apenas ("Cocoon" e "The Black Chord" do "The Black Chord", o segundo e mais recente álbum; "The Weirding" e "The River Under" do primeiro álbum, "The Weirding") os Astra arranjaram naquela noite mais umas dezenas (se não, centenas) de fãs, com uma prestação humilde mas cheia de feeling rock clássico. Como se os Pink Floyd e os King Crimson se tivessem fundido com os Yes e os Hawkwind em cima de um palco, antes de seguirem viagem num OVNI. Quarenta e cinco minutos que passaram num ápice. - (ver mais fotografias de Astra)




Depois do tempo ter voado enquanto os Astra tocaram, o inverso aconteceu enquanto se aguardava pela entrada dos Anathema, mas o público começou logo a entrar ao rubro com o ecoar da intro "New Machine Part 1" retirada do álbum "A Momentary Lapse Of Reason" dos Pink Floyd, eterna e incontornável referência dos Anathema. Quando as notas iniciais de "Untouchable Part 1" começaram a ser tocadas, foi inevitável a imediata resposta por parte da assistência, previsível já que esta música (e a segunda parte, que foi tocada logo imediatamente a seguir) são dos melhores momentos do mais recente álbum.

Foi em "Weather Systems" e em "We're Here Because We're Here" que a actuação se baseou e foi esse um dos motivos que a maior parte dos seus fãs antigos ficou de pé atrás, inclusive aqueles que, mesmo assim, foram ao concerto. E apesar dessa desconfiança inicial, não será exagero dizer que todos ficaram rendidos ao poder que faixas como "Thin Air", "Simple Mistake" e "The Beginning And The End" (apenas para citar alguns exemplos) têm ao vivo.

O passado mais distante também foi revisitado, através de "Deep", "Emotional Winter", "Fragile Dreams" - que tem fechado os espectáculos e esta noite não foi excepção - e a incontornável "One Last Goodbye". Esta última, a banda explicou que é uma música que eles optam por não tocar muito em tour, devido ao poder emocional que a mesma tem sobre os três irmãos Cavanagh, mas que decidiram que a teriam que tocar naquela noite, tal como a tinham tocado na noite anterior, no Porto. É sempre arrepiante ouvir uma música cantada pelo público do início ao fim, ainda por cima uma música tão emocional como a "One Last Goodbye". Também "Closer", "A Natural Disaster" e "Flying", do álbum "A Natural Disaster", foram muito bem recebidas, principalmente as duas últimas, também praticamente cantadas do início ao fim pela assistência.

A banda esteve muito comunicativa e ligada ao público, seja quando puxou por ele durante as músicas, como no intervalo das mesmas, onde Vincent e Danny Cavanagh foram os interlocutores. Danny esteve sobretudo comunicativo, revelando alguns detalhes curiosos, como o facto de quando conheceu John Douglas (baterista) na escola, com apenas onze anos, e que os mesmos estavam juntos e que trinta anos depois, os mesmos estão juntos no mesmo palco. Também não se coibiu de referir as qualidades de Daniel Cardoso, que está a tocar teclados com a banda nesta tour, posição que já ocupou anteriormente (chegou inclusivamente a substituir John Douglas na bateria em 2010). Qualidades essas que já nos são familiares como multi-instrumentista, compositor e produtor, dizendo mesmo que é o um dos maiores músicos com o qual já teve o privilégio de trabalhar.

Foi uma noite mágica, tal como seria expectável para todos os que já viram a banda ao vivo, mas que reforça sempre a ideia de que são concertos como este que fazem as pessoas querer voltar, de que não basta comprar ou sacar as músicas deste ou daquele álbum. Que é em cima de um palco que tudo ganha uma nova força, uma nova vida e uma nova alma. E alma, em cima do palco, os Anathema têm-na como ninguém. - (ver mais fotografias de Anathema)

Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists