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Mandíbula - "Sacrificial Metal of Death" Review



Acontece com ávida frequência, como uma quase inevitabilidade cósmica, aquele cruzar de pontos cardeais em que a música que ouvimos nos leva a fazer referências e a estabelecer ligações com os nossos momentos, episódios, sentimentos, lugares, pessoas, vidas. É natural que assim seja se, de uma forma abertamente filosófica, encararmos a Música como um dos dialectos da alma!

O nome Mandíbula transporta-me à infância e a horas de recreio passadas num cemitério de gado, mais vala comum que outra coisa, desenterrando ossos e orquestrando encenações de carácter primitivo e neandertalesco! Ritualidades inventadas pelo poder imaginativo oferecido por todas aquelas ossadas descobertas e a descoberto! 

Se tudo isto pode advir de um nome, o que se esconderá detrás da música propriamente dita? O desenho começa logo a ser traçado com base nas influências assumidas pelo próprio projecto, embebidas que estão no caldeirão de referências oferecido pelo metal dos anos 80, num dos seus ramos específicos que engloba nomes como Bathory ou Celtic Frost/Hellhammer, por exemplo! O ambiente fica estabelecido assim que atravessamos a ‘Introdução’ e caímos nas garras dos ‘Cães da Morte’ e nos apercebemos depois do passo quase ritualista a que se vai desenrolando este “Sacrificial Metal of Death” (um título totalmente desenterrado da década de oitenta metaleira)!

‘Negros Cascos Sobre o Trono da Terra’ prossegue no alinhamento como um arauto de destruição a antever a ‘Flagelação’ seguinte, onde as preces e as oferendas às musas parecem ter sido recebidas pelos domínios mais compassados do doom adornado de características próprias das influências mencionadas acima. A inclusão de samples com cânticos oferece-lhe um ambiente ainda mais fantasmagórico! Esta mesma cadência torna a surgir nos temas ‘Arauto da Dor’ e ‘Coroa Negra dos Infernos’, ambas a ultrapassarem a barreira dos dez minutos de duração, mas com um manto negro a cobri-las totalmente de chamas e enxofre!

Num exercício de manifesto egoísmo pessoal, confesso que no balanço entre os momentos que primam pela velocidade e os que se oferecem mais lentos, sai a perder a criatividade, pois revelaram-se mais atractivos os experimentalismos rápidos que propriamente os longos deâmbulos pelos ritmos arrastados e circulares.

A derradeira impressão que fica alojada no ouvido é que se “Sacrificial Metal of Death” tivesse sido lançado umas décadas mais cedo certamente não passaria despercebido aos radares atentos do underground, da mesma forma como agora não deverá passar para todos aqueles que guardam ainda um lugar especial no seu coração para as raízes do black-metal! Considere-se uma espécie de homenagem aos nomes que impulsionaram o género, se assim o quiserem, mas no entanto acredito que existe algo próprio neste trabalho que vai para além do puro elogio ao passado.

Nota: 7/10

Review por Rui Marujo