A Rússia é um país com uma cultura imensa aos mais variados níveis, desde a música passando pela culinária. A nova iguaria deste país eslavo chama-se Первая Слеза Осени dos chefes Aut Mori. Ao presenciar o repasto reparamos que o aspecto é familiar, mas ao olhar para o menu em cirílico contido no booklet que acompanha o pitéu, seguimos em frente, na esperança de que possamos estar na presença de uma qualquer receita de Ukha russa.
Começa a refeição, e pouco a pouco vamos tentando identificar os ingredientes, duas doses de 6 cordas tocadas de forma agridoce, acompanhados por uma secção rítmica em lume brando, teclados qb com incidência para o lado negro do marfim, isto tudo ao sabor de uma reserva Belle et la Bête da casta gótica norueguesa del Rei das lamúrias Raymond I. Rohonyi, e da sua outrora companheira Liv Kristine Espenæs. Afinal de contas o prato é bem satisfatório, com as primeiras garfadas a aguçarem cada vez mais o apetite, no entanto pouco a pouco vai ficando um bocado sensaborão, o sentimento de familiaridade vai também crescendo cada vez mais.
À medida que as papilas gustativas se vão habitando aos diferentes sabores do prato, o cérebro pouco a pouco vai descodificando o mesmo, acordando-nos para a triste realidade…afinal esta ementa russa mais não é do que uma receita escandinava de bacalhau, que se pode encontrar num qualquer tasco da Noruega ou da Finlândia, sem uma inspeção da ASAE nos últimos 3 anos, embora os chefs nos garantam que são de facto russos.
Um claro embuste, mas é o que dá confiar num menu em que não percebemos uma única palavra, e em que ao tentar traduzir o nome do prato graças ao amigo Google, reparamos que Первая Слеза Осени não é mais do que First Tears of Autumn. Sintomático.
Ficamos desiludidos, ainda assim continuamos a comer até chegar ao fim. Porventura não será algo que iremos querer repetir muitas vezes no futuro, mas para matar o bicho serve.
Nota: 7.3/10
Review por António Salazar Antunes
