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Entrevista aos Crest of Darkness




A Noruega é um país bastante prolífico no que respeita a bandas de Black Metal. Os Crest Of Darkness são uma banda de Black Metal que tem ficado um pouco à margem do sucesso que “atinge” as outras bandas mas pode ser que, com os seus planos de fazer mais tournées,  o cenário mude de figura. A banda lançou o seu 6.º álbum “In the presence of Death” em finais de Fevereiro e a Metal Imperium conversou com o simpático e prestável vocalista Ingar para saber mais pormenores sobre a banda e o novo álbum.



M.I. - Os Crest of Darkness são um projecto que te permitem exprimir os teus interesses na ideologia satânica e no vampirismo. Quando é que te começaste a interessar por estes assuntos?

Desde criança que me interesso por estes temas. Dantes lia tudo o que encontrasse sobre parapsicologia, ocultismo, magia, religião, Satanismo… ainda leio muito mas agora não ando à procura de um “significado” ou de “respostas”, como acontecia quando era mais novo. Já encontrei o meu caminho e não perco muita energia nessa procura!


M.I. – Como fã de vampirismo, o que pensas do interesse do público em geral nas sagas pseudo vampirescas como “Twilight” e outras do género?

Não sou nada fã da saga “Twilight” mas conheço os filmes… não li os livros! Eu aprecio o lado mais cruel e horrífico dos vampiros! No folclore, o vampiro era uma criatura que aterrorizava as massas e tal ainda acontece em algumas partes da Europa de Leste. Não havia nada de positivo associado a estas criaturas da noite, eram mais como monstros que personificavam todo o tipo de crueldade. Este morto vivo não tinha nada em comum com o ser humano. Acho interessante que haja tanta atracção pelos vampiros outra vez mas, quando algo se torna demasiado popular, algo acontece… ou seja, o vampiro tornou-se numa figura comercial, que não faz mal nenhum, como na saga Twilight, e eu não gosto nada disso!


M.I. – Poder-se-á dizer que és obcecado com a crueldade e a morte? Alguma vez foste marginalizado por causa destes interesses?

Sim, sou mesmo obcecado com a crueldade e a morte e sempre fui! Quando tinha uns 8/10 anos tinha afixado no meu quarto um poster do Alice Cooper “enforcado” em palco. Era a imagem mais linda que já tinha visto! Sempre fui fascinado por cemitérios pois sinto uma sensação de paz quando passeio por entre os túmulos. Não sou uma pessoa má, simplesmente não consigo deixar de pensar em toda a maldade que existe no mundo. Com certeza muitas pessoas me consideram completamente louco e outros acham que sou um marginal… mas a verdade é que eles não me conhecem! Alguns não aceitam o que eu penso ou digo por mais que eu tente explicar, mas posso dizer que há muitos que mudam de opinião acerca de mim quando finalmente me começam a conhecer melhor. Eu sempre tentei entender as pessoas e por isso é que sempre tive um grande interesse em aprender sobre as diferentes religiões. Penso que não podes compreender as pessoas sem ter conhecimento sobre a sua religião, a sua história, a sua cultura… Podes discordar sobre o que está certo e o que está errado, sobre o que é bom e o que é mau, mas vais verificar que a maioria das pessoas segue as “regras” do seu povo. A maioria das vezes, as pessoas são muito destrutivas! Está nos nossos genes proteger a nossa família, o nosso grupo, o nosso país e por aí fora. Estamos sempre dispostos a lutar pelo que achamos estar correcto! Durante todos estes anos, milhões de pessoas já morreram em nome de deus, essa é uma verdade terrível! Eu não estou a criticar nem a julgar ninguém através do meu trabalho artistico, eu só quero é que as pessoas parem e pensem e tentem criar as suas próprias ideias sobre tudo isto. A “verdade” vai muito para além do teu primeiro pensamento e talvez seja errado pensar e falar em “bom” e “mau” como algo definitivo e concreto em que todos estamos de acordo. Se eu conseguir inspirar algumas pessoas a encontrar o seu próprio caminho, já é muito bom, acho eu. Não tem nada a ver com ser mau, mas para algumas pessoas é difícil enfrentar a realidade. Muitas pessoas não são capazes de enfrentar este mundo cheio de guerras, terror, fome… é mais fácil viver num mundo de sonho em que há esperança para todos, um mundo em que deus se preocupa com todos e em que o destino é o céu… Pobres pessoas!



M.I. – Todos os títulos da discografia dos Crest Of Darkness são muito obscuros, cruéis e têm uma alusão directa a tudo o que é cruel e mau. Como é que estes títulos surgem?


Penso que já respondi em grande parte a esta questão. Sou obcecado com a maldade e a crueldade, portanto é para mim muito natural que os títulos das músicas sejam obscuros. Para contrastar com todos os meus pensamentos destrutivos e maldosos, posso dizer que sou uma pessoa bastante positiva, quer acredites ou não! Sempre fui muito sensível e melancólico mas sempre tentei transformar os meus sentimentos fortes, todas as paixões em algo positivo para mim. Fazer música, escrever letras, ser artista, tudo isto é positivo para mim! É como uma auto-terapia e torna-me mais forte! Aprendi a viver com toda esta escuridão que me rodeia e, de um modo estranho, sinto que faço parte dela!


M.I. – “In the Presence of Death” é o título do novo álbum. Qual o verdadeiro significado deste título? É uma alusão ao facto de todos os seres vivos poderem ser vítimas da morte a qualquer momento?

No início da minha carreira, explicava constantemente as minhas letras, sentia que tinha de o fazer… mudei muito neste aspecto. Não é que eu não queira falar sobre as minhas letras, claro que posso partilhar os meus pensamentos mas não quero explicá-los profundamente e com muitos detalhes. Ao longo dos anos, verifiquei que as pessoas interpretam as minhas letras de modos diferentes e isso é fantástico. Se as pessoas estão a tirar diferentes conclusões e a fazer diferentes associações por ouvirem as músicas, se as músicas estão a ganhar vida própria, é muito bom! No que diz respeito ao título, praticamente chegaste ao cerne da questão mas não direi mais do que isto…


M.I. – Segundo as tuas próprias palavras, este é “o álbum mais completo e obscuro que a banda já gravou”. Mas não é isto que sentes sempre que lanças um álbum novo? O que é que este tem de diferente?

Em todos os álbuns, eu dou mesmo o meu melhor, mas acredito que este é definitivamente o nosso melhor álbum até ao momento! Isso não significa que não estou satisfeito com os anteriores, porque também são muito importantes para mim! As razões pelas quais me sinto tão contente com o novo álbum estão relacionadas com o facto de estarmos a apresentar muitas músicas boas, algumas das quais são mesmo as melhores que já lançámos e também adoro a produção, para além da banda claro! Somos um grupo de excelentes músicos e estou muito orgulhoso dos meus colegas de banda!


M.I. – “From the dead” é a nova faixa que foi lançada nas vossas páginas da SoundCloud e do Facebook. Como é que os fãs têm reagido?

Até ao momento a resposta a esta faixa tem sido fenomenal, especialmente por parte dos fãs. Penso que deve ter a ver com o facto de “From the Dead” ser uma música típica de Crest Of Darkness. Nunca tocámos uma canção deste tipo mas se pensarmos nas variações do tema, conclui-se que é típica de Crest of Darkness. As batidas, rock n’ roll, heavy metal, death metal, prog metal… está tudo lá! Muitos dirão que é demasiado mas os fãs consideram o tema perfeito!


M.I. – Apesar dos títulos parecerem muito fáceis e simples de interpretar, quais são os tópicos abordados neste novo trabalho?

Estás absolutamente certa quando dizes que os títulos são fáceis e simples de interpretar… eu sempre fui muito directo nas minhas letras. A minha experiência ensinou-me que se escreves letras complexas, muitas pessoas não as perceberão de maneira nenhuma, e muitas pessoas nem querem saber das letras! Por isso, faço as coisas ao contrário, evito usar muitas palavras. Tento formar imagens com poucas palavras de maneira que as pessoas compreendam. Mas é fascinante verificar que há pessoal que tenta compreender os pensamentos e ideias expostos nas minhas letras… por vezes penso que as músicas estão a ganhar vida quando falo com as pessoas – isso é fantástico, porque era mesmo assim que eu queria que fosse! Portanto, não me vou alongar a explicar as minhas letras, mas não é segredo que temas como o Satanismo, vampirismo, religião e magia me inspiram muito! Também não me posso esquecer de mencionar os meus sonhos, já que alguns temas são descrições dos sonhos que tive. Claro que há muita fantasia nas letras mas costumo dizer que também têm um significado mais profundo.


M.I. – Crest Of Darkness estão a tentar aumentar a actividade com este álbum. Porquê agora? Não estás satisfeito com o que a banda tem feito até agora? Quereis mais tournées?

Para ser sincero, não estou satisfeito com a actividade da banda. Basicamente tem sido assim por decisão minha, é verdade, porque houve longos períodos em que demos a máxima prioridade às nossas famílias. Foi bom e fá-lo-íamos novamente mas é um facto que deveríamos ter estado mais disponíveis e ter tido mais visibilidade para que a carreira da banda melhorasse. Falas de tournées... claro que queremos mais tournées! Temos de mostrar que a banda ainda está viva e bem viva e andar em tournée é muito importante, para além de adorarmos tocar ao vivo! 



M.I. – Estais a planear algum vídeo para “In the presence of Death”? Costumas escrever um guião ou história para orientar o vídeo ou quereis algo mais puro e brutal como no vídeo “Druj Nasu”?


Há alguns dias apresentamos um vídeo para o novo álbum, chama-se “Demon Child”. Este vídeo tem partes extraídas de um concerto e acrescentamos alguns elementos que fornecem pensamentos e ideias a quem o vê... é para dar um aspecto diferente ao vídeo! É um vídeo muito simples mas muito profissional. Agradeço a todo o pessoal da Monitir Video que trabalhou neste vídeo pois fizeram um trabalho fenomenal. Também foram eles os responsáveis pelo vídeo Druj Nasu.


M.I. – Parece que as recentes mudanças de alinhamento não afectaram a banda e tu achas que os Crest Of Darkness estão melhores e mais fortes do que nunca. Em termos de stress, ficas muito afectado sabendo que a banda precisa de arranjar novos elementos? Desta vez fizeste audições ou já sabias com quem querias trabalhar?

Desta vez não foi muito stressante. Quando o Kjell Arne Hubred informou que queria sair, não foi surpresa nenhuma. Ele sempre foi honesto quanto à sua situação, não foi nenhum drama, e ainda somos bons amigos! Ele queria sair por motivos pessoais e nós só tínhamos de aceitar e respeitar. Felizmente encontramos o Jan Fredrik Solheim umas semanas após a saída do Kjell Arne. Conhecíamos o Jan Fredrik Solheim da sua banda Djevelkult e achamos que ele encaixaria muito bem na banda. Para concluir: o Jan aceitou juntar-se aos Crest of Darkness quando o convidamos e parece que fará um bom trabalho connosco!


M.I. - A tua expressão maléfica é basicamente a imagem de marca da banda. Dirias que és a personificação perfeita da morte/maldade?

Não sei se é possível eu responder a esta questão… os outros é que podem responder! Eu sou eu e o que faço, faço-o muito naturalmente. Talvez seja por essa razão que muitas pessoas apreciam o que faço. Mas também há pessoas que me odeiam… mas eu nem quero saber! (risos)


M.I. - Na capa do novo álbum, representas a morte e parece que nos estás a convidar a juntarmo-nos a ti noutro reino. É mesmo assim ou estou a imaginar coisas?

Também tive essa ideia quando estava a pensar sobre a arte da capa. Vi muitas fotos minhas mas achei que esta seria perfeita para este álbum.


M.I. - Este é o vosso 6.º álbum e sera lançado pela My Kingdom Music. Como é a relação com eles? És o teu próprio mestre e quem dita como os temas devem soar ou a editora interfere de algum modo? 

Eu tenho uma boa relação com a editora porque sempre nos apoiaram a cem porcento. Eu sou o meu próprio mestre, porque a My Kingdom Music também quer que assim seja. No que toca à música, eles confiam em mim e nas minhas decisões, porque eu sou o artista e eles são a editora… juntos cooperamos da melhor maneira possível e até agora tem tudo corrido muito bem.


M.I. – Já há reviews online e parecem todas concordar que o novo álbum é óptimo. Acreditas que estas críticas ajudarão a promover o álbum ainda mais?

Tem sido um início fantástico e eu acredito que todas estas boas críticas nos ajudarão bastante na promoção!



M.I – No dia 17 de novembro juntaste-te a Kjetil Hektoen, membros de Legiones, Enthral, e The Embraced numa banda chamada Sythanagon Winged para tocar 5 temas do falecido Thomas “Quorthon” Forsberg num evento entitulado “Blood, Fire and Death – In Memory of Quorthon,” que decorreu no Fru Lundgreen em Trondheim, Noruega. Como foi prestar homenagem a uma lenda? Como é que o pessoal reagiu? Tocarias juntos novamente ao vivo caso fosses convidados?


Foi muito bom tocar com os Sythanagon Winged neste evento e a resposta foi excelente! Os bilhetes esgotaram e as pessoas tinham expectativas muito altas. Foi uma noite memorável! Os Sythanagon Winged já receberam convites para tocar ao vivo… talvez aconteça na primavera/verão!!


M.I. - Apesar de eu considerar que a resignação do Papa é um tema que não te interessa absolutamente nada, sinto-me compelida a perguntar-te se achas que é um sinal da fraqueza da religião que ele comanda?

Eu acredito que a igreja Católica está lentamente a desaparecer tal como as outras religiões, mas demorará algum tempo. A Igreja Católica ainda é muito poderosa mas eu espero e acredito que a resignação do Papa mostre o quão fraca esta religião realmente é. Pelo menos demonstra que o Papa é um ser humano normal! Para muitos crentes parece que o Papa é o equivalente a um deus e é muito perigoso que um homem esteja nessa posição!


M.I. - Por favor partilha algumas palavras finais com os nossos leitores.

Stay Metal! Espero encontrar-vos num futuro próximo... preferencialmente num palco com os Crest of Darkness! Isso seria fabuloso!


Entrevista por Sónia Fonseca