About Me

Rotting Christ - "Κata Τon Daimona Εaytoy" Review


Observar o que tem sido a evolução dos gregos Rotting Christ é admirável. Quem diria que aquela banda que há duas décadas nos ofereceu o primitivo, mas singular "Thy Mighty Contract, anos mais tarde embarcaria em algo tão ambicioso como este Κata Τon Daimona Εaytoy, cuja tradução será algo como “fiel ao seu próprio espirito”. Decerto que a banda sempre mostrou uma enorme vontade em querer ir muito além do rótulo Black Metal, mas com a edição dos anteriores Aealo e Theogonia essa vontade ganhou toda uma nova preponderância, daí que este novo disco soe como a celebração final daquilo que é o ecletismo dos Rotting Christ.

Hoje em dia reduzidos a condição de duo, Themis e o estratega Sakis Tolis criam uma viagem sónica com origens multiculturais, alargando quase ao seu expoente máximo o conceito de folk. Não sendo propriamente uma narrativa que atravesse o disco, o que os Rotting Christ se propuseram a fazer foi o de dedicar cada tema a culturas milenares. Desta forma temos exemplos como Русалка, alusivo um mito russo de um espírito marítimo que atraia as suas vitimas para o fundo do mar; P'unchaw kachun - Tuta kachun, retirado de um livro de canções do imperador Inca Pachacutec; Ahura Mazdā-Aŋra como invocação da cultura persa, ou até mesmo uma interpretação de um poema romeno em Cine iubeşte şi lasă, este com a participação especial das vocalistas Suzana Vougioukli e Eleni Vougioukl, esta última também ao piano.

Mas a interpretação dos gregos não se restringe apenas às palavras e aos conceitos, a própria música também vai mudando a cada nova paragem na história, sem no entanto beliscar sequer a homogeneidade do disco. Afinal de contas, os Rotting Christ continuam pesados como sempre foram, com aqueles riffs incisivos já característicos, com forte incidência no uso do tremolo, ou com descargas de bateria violentas que conferem um pouco de brutalidade, também ela necessária quando se fala dos mementos da história em questão. Os ambientes tribais do já referido P'unchaw kachun - Tuta kachun, e o uso recorrente de coros permite também que "Κata Τon Daimona Εaytoy" contenha a sua parcela épica, que mais uma vez reforça o ecletismo deste lançamento.

O melhor que se pode dizer deste 11º disco dos Rotting Christ é que consegue conviver com as suas ambições iniciais, e nem que seja pela curiosidade histórica, este é um álbum que vale a pena perder um pouco de tempo de forma a o tentar apreender na sua totalidade. Talvez lhe fique a faltar ainda qualquer coisa para que seja irrepreensível, porventura um tema que qualitativamente se distinguisse dos outros. Para já um dos grandes discos de 2013.

Nota: 8.9/10

Review por António Salazar Antunes