A República da Música reuniu um belo cartaz à volta da vinda dos Enforcer ao nosso país, de valor
acrescentado por serem apenas bandas nacionais, o que é de salutar, aproveitar estas ocasiões para
valorizar o nosso metal que tem tanta qualidade com o som que importamos de fora. É certo que neste caso
específico, os Enforcer são realmente um poço de qualidade no que ao heavy metal diz respeito mas quanto
a isso já lá vamos.
A festa teve início cerca de uma mais tarde, com muitos dos presentes a comprarem os bilhetes no próprio
dia. Apesar da sala não estar cheia, longe disso, esteve bem composta, já no início com os Leather Synn,
banda que se estreou nas edições discográficas, com o EP auto-intitulado,lançado em Fevereiro do presente
ano, e que se estreou nos palcos. Não sendo propriamente estreantes nestas andanças, até porque tem
membros e ex-membros dos Dawnrider, acabaram por entrar em grande, com direito a efeitos pirotécnicos,
modestos mas inesperados, naquela que já se identifica como um dos hinos da colectividade - "(Heavy
Metal) A Nossa Bandeira". Os restantes três temas do EP foram toados, tendo ainda direito a mais dois.
Com um bom aquecimento por parte dos Leather Synn, chega a vez dos Ravensire, estes também com um
EP lançado recentemente, em Outubro do ano passado, tocando também eles quase na íntegra o EP,
menos a cover dos Wild Shadow, havendo ainda oportunidade para uns novos temas que a própria banda,
nem tinha bem a certeza de quem iria lançar. Também com pessoal experiente, onde se destaca Rick Thor
(dos Filii Nigrantium Infernalium e dos Ironsword), o som acabou por não entusiasmar tanto como os Leather
Synn, talvez pela toada mais épica com uns certos toques de doom. De qualquer forma, acabou por ser uma
boa apresentação para quem não os conhecia.
Se até então estava a haver uma boa adesão, com os Midnight Priest, os níveis de entusiasmo dobraram.
Com uma respeitável reputação no underground, a banda de Coimbra já mostra uma segurança em cima do
palco muito acima da média. Temas que já são verdadeiras clássicos do heavy metal, como "Rainha da
Magia Negra", "Ferro em Brasa", "Feitiço Do Cabedal", "À Boleia Com O Diabo" foram muitíssimo bem
recebidos tal como os temas novos apresentados, sendo "Deitada Com Um Morto" um deles. Muito
profissionalismo e um amor a este género que contagia, aliás, tal como todas as bandas naquela noite. Um
espírito que foi bem vivido por todos, em cima do palco e à frente dele.
O melhor ficaria para o fim. Com algum tempo a demorar na preparação do som, problemas que além de se
revelarem no soundcheck, também acabariam por assombrar durante o concerto - a "On The Loose" não teve
direito a voz na segunda metade, por exemplo. Com o seu início a ser marcado pela versão dos Judas Priest
do clássico da Joan Baez, "Diamonds And Rust", quando a "Bells Of Hades" começou a soar, e os suecos a
entrar em palco, a loucura instalou-se, principalmente porque todos sabiam que ia seguir-se "Death Rides
This Night", um dos grandes temas do último álbum de originais, "Death By Fire". Uma grande abertura,
energética, que marcou um pouco toda a actuação da banda. Impressionante a forma como a banda
transpira energia, sem nunca acusar o cansaço. Momentos altos foram sem dúvida "Katana", "Cystal Suite",
"Take Me Out Of This Nighmare", "Silent Hour/The Conjugation e claro, "Satan".
Se há alguém que precise de lições de verdadeiro heavy metal, a tarde e noite de sete de Abril foi uma
importante aula, com alguns problemas de ordem técnica, mas sem falhas no espírito e ambiente de
irmandade que se viveu no público e do palco para a assistência. Os Enforcer justificaram todo o burburinho
gerado à sua volta, totalmente merecido e conquistado com muito suor mas sobretudo talento, enquanto as
bandas portuguesas demonstraram que é possível fazer eventos apoiando e apostando na cena nacional.
Que se isso for feito, o público aparece, com ou sem crise. Grande noite de verdadeiro heavy metal.
Texto por Fernando Ferreira
Fotografias por Ana Carvalho
Agradecimentos: Metals Alliance