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Lingua Mortis Orchestra - "LMO" Review



Os Rage foram, durante cerca de uma década, apenas mais uma banda de power/thrash/speed alemão, no entanto um álbum em 1996, intitulado "Lingua Mortis" feito em conjunto com a orquestra sinfónica de Praga fez com que a banda, de um momento para o outro, ganhasse uma nova vida e um novo fólego. Como tal, seguiram-se mais dois álbuns, "XIII" e "Ghosts" que viriam a encerrar esse período da banda. A nova era contava com Victor Smolski, virtuoso russo da guitarra eléctrica e da música em geral, levando a banda para novas paragens de sucesso. Em 2010, depois do sucesso que o espectáculo com a orquestra sinfónica na Alemanha teve, o grupo decidiu dividir os esforços em dois. Os Rage continuam a explorar a vertente tipicamente metal, enquanto foi criado o projecto Lingua Mortis Orchestra, para continuar dar vida às ambições orquestrais dos três músicos.

Como resultado, passados cerca de dezassete anos desde esse álbum marcante, materializa-se o primeiro álbum do projecto Lingua Mortis Orchestra, contando desta feita e para ser mais concreto, as orquestras de Espanha e Bielorrúsia. O álbum foi quase todo composto por Smolski, sendo que apenas duas músicas têm a colaboração de Peavy na escrita. Além da voz de Peavy, aqui temos a particularidade de se ter as vozes da soprano Dana Harnge e de Jeannette Marchewka, que também surgem como membros do grupo, juntando-se a Peavy na voz e baixo, a Smolsky na guitarra, teclados e violoncelo e a André Hilgers na bateria.

Para os fãs da fase em questão da banda, de certeza que existia uma grande expectativa por um álbum deste género e agora que ele está finalmente aqui, será que toda a antecipação e expectativa é cumprida? A resposta não é clara, nem mesmo após uma boa dose de audições. Sendo um álbum conceptual, baseado por Peavy numa história verdadeira de caça às bruxas na cidade medieval de Gelnhausen em 1599, seria de esperar que esse fosse um factor relevante, mas na verdade, até acaba por se tornar secundário. Talvez por projectos como Ayreon e Avantasia (ou por outros de menor expressão comercial) ou pela tendência crescente (e já algo desgastada) de fazer álbuns conceptuais. Se foi intencional ou não, é um mistério, mas pelo menos esse factor acaba por perder importância perante toda a expectativa criada, tal como referi atrás.

Ora, se o conceito lírico acaba por não ser relevante, o que dizer da música? A música não nos traz nada de muito diferente ao que os Rage já nós habituou, a diferença é que aqui a orquestra está mais integrada no som, de uma forma diferente das experiências anteriores, e além disso, também há um travo progressivo mais acentuado, desde a faixa de abertura "Cleansed By Fire" até à de fecho "Afterglow", há uma maior liberdade nesse aspecto, maior do que a que houve alguma vez num disco de Rage. Na teoria seria algo interessante de se ouvir, na prática, soa a material reciclado dos Therion tocado pelos Rage, sem grande parte dos coros majestosos que os suecos utilizam normalmente.

Isto faz de "LMO" um mau álbum? Não, nem por sombras. Apenas faz com que seja diferente daquilo que os fãs esperavam ou até mesmo ambicionavam. Pode-se ficar dividido entre a desilusão de não ser mais catchy, de não ser mais bombástico, e o facto de que está aqui presente um bom álbum de heavy/power metal sinfónico, com os Rage a brilhar como sempre - principalmente Smolski, um músico fenomenal que em tudo o que toca transforma em ouro. Poderá não chegar para conquistar novos fãs (aqueles que não gostavam de Rage) ou para agradar aos velhos fãs, mas qualquer pessoa que ouça este álbum sem preconceitos, não conseguirá resistir à sua qualidade. Não por muito tempo.

A edição especial traz dois temas bonús, versões orqueastrais de dois temas dos Rage. O primeiro, um de maior sucesso da carreira da banda germânica, "Straight To Hell" - excelente ideia de passar este tema para uma versão sinfónica; e o outro "One More Time", ambos retirados do álbum "Welcome To The Other Side"
 
Nota: 8/10

Review por Fernando Ferreira