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Carcass - "Surgical Steel" Review


Durante muito tempo, para os fãs dos Carcass seria impossível pensar de que poderia haver um momento em que pudessem ouvir música nova por parte do grupo inglês. Começou a haver alguma esperança por parte desses mesmos fãs quando os concertos de reunião fizeram com que o impossível se começou a tornar um pouco mais possível, mesmo depois do afastamento compulsivo de Bill Steer da música pesada durante o final dos anos noventa e o início da década seguinte. Mesmo essa esperança era acompanhada de algum cepticismo. Afinal, mesmo que a banda se reunisse para um álbum, até que ponto não seria uma desculpa para mais tournées com um mau álbum debaixo do braço? Quantas bandas não se atrevem ou não vêm interesse em tentar algo do estilo porque cada um foi para seu lado e porque o feeling simplesmente não está lá, não da forma a que se honrasse o passado - Emperor e At The Gates, anyone?

Ora como a sorte protege os audazes, os Carcass tiveram a coragem de pegar na sua herança musical e de trazer ao mundo mais um disco. E que disco, meu Zeus. com uma punjança e vitalidade que fazem inveja talvez a eles próprios em 1996, por altura do "Swansong", que continuará a ser sempre um grande álbum, que faz sentido na evolução da banda mas que não deixa de ficar a sensação de copo meio cheio/meio vazio. A verdade é que este álbum faz jus ao passado da banda,  não soa requentado - talvez seja o entusiasmo do momento, mas a verdade é que soa tão essencial como "Necroticism" e como "Heartwork" e mesmo considerando que o impacto que estes dois álbuns tiveram quando foram lançados, "Surgical Steel" não vai ter, o tempo provará que este álbum convive de igual para igual com qualquer um da discografia da banda.

Começando com um curto instrumental, "1985", que soa a Amott (o que não deixa de ser engraçado, já que ele não participa no álbum, todas as guitarras estão a cargo de Steer), "Thrasher's Abattoir" dá porrada a torto e direito em menos de dois minutos e ainda tem direito a um grande solo de guitarra. Os momentos iniciais são fundamentais para apanhar todos os não crentes pelos ouvidos e não os deixar fugir mais e é isso que acontece aqui. Musicalmente, não há um pouco menos bem conseguido. Chega até a haver criatividade para fazer algumas músicas acima dos cinco minutos, coisa que nem no "Heartwork" quase aconteceu.

É um álbum acima da média, à beira da perfeição, que rompe qualquer previsão mais negra de fracasso - deixando talvez muita gente infeliz - e que consegue elevar ainda mais a fasquia e a pressão para um eventual próximo álbum. Som poderosíssimo, a voz de Walker no ponto (nem parece que passaram quase vinte anos desde a última vez que brilhou em "Swansong"), melodias de guitarras acompanhadas pelos ritmos também de guitarra, baixo e também bateria, a cargo de Daniel Wielding, dos Trigger The Bloodshed. Uma máquina de guerra cirúrgica que sabe bem novamente ouvir. Assim vale a pena esperar - mas que não se espere tanto tempo até ao próximo, se faz favor.


Nota: 9.5/10

Review por Fernando Ferreira