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Entrevista aos For The Glory


São uma das bandas de hardcore com mais reputação em Portugal. Contam já com 10 anos de carreira e “Lisbon Blues”é o seu mais recente álbum, o sucessor de “Some Kids Have No Face”.  Ricardo Dias, o vocalista dos For The Glory, respondeu à Metal Imperium, desvendando algumas curiosidades relativas a “Lisbon Blues”. Mas a conversa não ficou por aqui... 

M.I. – “Lisbon Blues” é como se intitula o vosso novo álbum. Porque decidiram trazer a cidade de Lisboa para o álbum? A própria capa ilustra a cidade…

A ideia de trazer um pouco da cidade para a capa do disco passa por mostrar apenas como uma pessoa de fora vê a cidade, as ruas, as praças, as pessoas penduradas nos eléctricos que nós vemos quando vamos à baixa, etc... depois nas letras irão encontrar uma Lisboa diferente, a Lisboa com a qual nós crescemos e vivemos.


M.I. – Como descreveriam este novo álbum, tendo em conta o vosso percurso até agora?

Este disco é, sem dúvida, um culminar de vários anos a tocar o que nós gostamos de tocar. Sentimos que as músicas ganharam uma nova dimensão com a produção, com a mistura e o mix master do Jacob. Neste disco temos a mesma agressividade característica de For The Glory; não temos melodias neste disco e talvez a aura do disco seja um pouco mais obscura, talvez até por causa da própria temática de alguns temas.


M.I. – Têm algum tema favorito em “Lisbon Blues” ou algum em particular que vos tenha marcado mais?

Todos nós temos músicas diferentes que achamos que são aquelas com as quais mais nos identificamos. Eu por exemplo, acho que as minhas preferidas são a 110, the Key, Lisbon Blues. Mas tenho a certeza que daqui a uns dias pode mudar. Varia consoante as alturas em que ouço o disco.


M.I. – Na vossa página oficial do facebook têm como influências a vida. Geralmente, são influenciados por que tipo de problemáticas?

Em FTG, as nossas letras irão sempre reflectir as nossas vivências diárias, a nossa luta constante por procurar o melhor para nós, para os nossos amigos, por lutar por um mundo livre de preconceitos ou de estereótipos parvos, que nos levam apenas a fechar a nossa mente e não olharmos para a sociedade com um pensamento crítico. Querem-nos adormecer e nos fazer sentir culpados pelo que se passa, ou tentar afastar a juventude de assuntos pertinentes, colocando na nossa cabeça a ideia de que nós é que somos desinteressados, mas quando na realidade, a ideia que nos passam é tão complicada para nos fazer desinteressar. A vida fez com que criássemos um pensamento crítico e uma forma de questionar tudo o que nos oferecem, saber o nosso lugar no mundo. Se há algo que nos perturba ou irrita, então, de certeza que a nossa música irá ser agressiva. Creio que é uma cena lógica...


M.I. – Em Outubro e Novembro irão actuar de Norte a Sul do País na “No Barriers Tour”, juntamente com os Switchtense. Quais são as vossas expectativas para estes concertos?

Esta tour surgiu da força de duas bandas que, apesar de terem estilos diferentes, fazem as coisas da mesma maneira. A forma como lidamos com as datas, a forma como encaramos a música e os bons momentos faz com que faça sentido esta tour. E ter nos concertos bandas dos nossos amigos que foram convidados para as datas em questão. Vão ser bons momentos, com boa música que esperamos que a malta venham ver e viver com as duas bandas! Todas as datas foram tratadas directamente com as bandas, tudo tratado de forma DIY. Que a malta responda ao apelo e venha ver alguma das datas. Temos a certeza de que não se irão arrepender!


M.I. – O que acham do panorama do hardcore nacional? Como acham que o estilo é encarado cá?

O hardcore em Portugal vive um momento muito bom. Há várias bandas com qualidade que começam a ir lá fora e deixámos de ser vistos pelo resto da Europa como uma cena secundária. Todas as grandes tours fazem questão de passar por cá e as nossas bandas conseguem ter concertos brutais que em nada devem aos concertos das bandas grandes. Claro que falta um pouco aquela “vibe” dos 90, sem ser aquela cena de consumir a música e ver o punk hardcore apenas como mais um meio de diversão. Mas decerto que enquanto houverem bandas que apresentem mais na sua música que apenas o lado puramente comercial, a cena hardcore estará viva. Sentimos falta de bandas “straightedge” e vegetarianas que sejam “outspoken” em relação a esse tipo de temáticas. Basicamente a informação que havia nos 90 com várias bancas desapareceu ,porque a malta mais velha deixou de a trazer para os concertos (que era a grande fonte de informação). Se a malta se queixar menos e estiver mais envolvida em mostrar que existe outro lado sem ser a cena da música, irão existir sempre miúdos que querem mais do que isso. Não me chateia que exista malta que venha apenas para consumir a música, mas que saiba que, aliada a essa música, irão sempre existir ideias de libertação pessoal, ideias de forte cariz social... esse é o hardcore com o qual crescemos. 


M.I – Mantêm amizade com outros músicos do mesmo estilo? Vão a concertos juntos? Há esse espírito de união?

Nós temos muitos amigos dentro deste género de música e de outros também. Acabamos por ir a concertos juntos, jantarmos na casa uns dos outros, ou simplesmente passar umas boas tardes de conversa etc. O espírito de união, nos dias de hoje, está banalizado. O importante é saber que como em tudo na vida, temos amigos fortes e pessoas com quem podemos contar nos melhores e piores momentos. E sejam ou não do meio punk hardcore, são pessoas importantes. Esse é o maior sentimento de união que podemos ter: saber que, apesar das nossas diferenças, conseguimos quebrar barreiras e ter amizades fortes. 


M.I. – Já estão activos há 10 anos. Estão a pensar em algo especial para comemorar a data?

No dia 14 de Setembro estivemos envolvidos na organização da nossa festa de anos: uma pool party que teve 200 e poucas pessoas a passarem um bom momento, que partilharam com outras pessoas que não conheciam um dia bem passado. De resto, estamos a fazer vários shows de norte a sul e temos também algumas incursões ao estrangeiro para tocar nalguns festivais e clubes. Este ano está a ser um ano muito benéfico para a banda, em termos de lançamentos e datas. Somos extremamente abençoados por ter pessoas que nos acompanham há 10 anos e não se fartaram da banda. Talvez pelo facto de as bandas de hardcore durarem pouco tempo e nós já atingirmos a marca dos 10 anos seja um sentimento especial. Que venham mais dez, se possível!

Entrevista por Daniela Freitas