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Reportagem: Biohazard, For The Glory, Arhythmia e No Clue @ República da Música, Lisboa - 29-10-2013


No passado Sábado, Alvalade engalanou-se para uma noite de Hardcore. À entrada da República da Música, era possível perceber que a casa estaria muito bem composta, para acolher o regresso dos americanos Biohazard aos nossos palcos. Monidos dos tradicionais bonés, lenços à volta da cabeça e muita energia para aplicar nos circle pits, os presentes viram ainda os nacionais For The Glory e No Clue, bem como os italianos Arhythmia, juntarem-se à icónica banda de Brooklyn, no cartaz proposto pela Xuxa Jurassica.

Foi, ainda, num ambiente pouco ou nada caloroso que os No Clue assinalaram o início do evento, não logrando do melhor som da noite, pelo contrário, além de que muito baixo.O jovem quinteto lisboeta, de onde se destacam os dois vocalistas, cada qual no seu registo vocal, deu um concerto curto, até porque não têm muito mais material do que aquele que apresentaram. Pedindo insistentemente uma maior proximidade do público ao palco, a verdade é que as baterias estavam a ser guardadas para depois, mas a banda, essa, deu o que pôde e até o baixista e uma das vozes vieram à plateia para uma “dança” solitária, de parede a parede. A pouca rodagem sente-se, mas nada que a seriedade e o trabalho não resolvam.

Ao contrário do que havia sido anunciado, foram os For The Glory os senhores que se seguiram. E, aqui, entrámos num campeonato diferente, pelo menos por momentos. Escusado será falar no lugar de destaque que a banda ocupa no panorama do Hardcore nacional, e da energia e qualidade dos seus concertos. Mais uma vez, ofereceram uma perfomance de nível, que estendeu a electricidade a uma plateia bem mais preenchida e receptiva. Os circle pits sucederam-se à mesma velocidade da música dos For The Glory, o microfone chegou a vozes anónimas e aquela simbiose sempre esperada no género, foi mesmo uma realidade. Este pessoal goza de grande reconhecimento e, sem dúvida alguma, foram donos do segundo concerto que mais entusiasmo gerou. 

Entravamos em território internacional. Antes de irmos até Brooklyn, fizemos escala na Sardenha, na companhia dos Arhythmia – banda que tem acompanhado os Biohazard na corrente tour. Certamente, não é por não haver melhor oferta no Hardcore, que a banda italiana tem esse privilégio. O facto do Billy ter produzido o EP dos italianos terá muito a ver com a promoção deste trabalho. Pois bem, sem discutir minimamente a entrega da banda (fazê-lo seria faltar à verdade), este foi um concerto que, a avaliar pelo ar de quem povoava a sala, pouco acrescentou à noite, num registo demasiado carregado de rap/hip-hop/groove e toda a atitude inerente, como tão bem é exemplificado pelo momento beatbox. A frente da plateia voltou a ser um espaço de poucos, e a zona do bar de muitos. Panorama que, a seguir, mudaria totalmente.

E mudaria totalmente, porque os Biohazard atrairam 99,9% dos pagantes, e não só, para o mais perto possível do palco. Os experimentadíssimos americanos, liderados por Billy Graziadei – que passou o concerto inteiro a falar “português” -, entraram em cena e, sem pedir licença, deixaram um rasto de devastação que foi bem evidente quando, ao fim de um ou dois temas, já alguém saía da confusão agarrado à cabeça, em busca de auxílio. Numa sucessão imparável de clássicos antigos e visitas a temas mais recentes, pode-se dizer que aquilo é que foi o hardcore do rendimento de inserção social, o hardcore da bofetada. Independentemente dos gostos pessoais, a longevidade das bandas e a forma como se mantém sempre frescas, activas e capazes de despertar o caos num recinto, deve ser um factor de relevo e respeito. Toda a gente saltava, todos cantavam, o circle pit, o crowd surfing, a invasão de palco, a festa habitual neste tipo de concertos que eleva o género a um patamar muito próprio ao nível do espectáculo. Os Biohazard tocaram alto, tocaram rápido e não deixaram nada por dar. Expectativas, aparentemente, alcançadas. A noite chegava assim ao fim, sem baixas de maior.


Texto por Carlos Fonte
Agradecimentos: Xuxa Jurássica