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Stratovarius - "Nemesis" Review


Dizer que os Stratovarius já tiveram alguns percalços ao longo da sua carreira é como dizer que a batalha de Aljubarrota foi um conjunto de exercícios de Geometria. Desde o abandono publicamente pouco unânime de Kainulainen, passando pelos problemas psicológicos de Tolkki e a perda do seu génio criativo, até ao desbandar e reaproximar da banda como um todo, os últimos 10 anos de existência dos Stratovarius foram no mínimo complicados. 

O experiente Lauri Porra (Sinergy) rapidamente assumiu o baixo e em 2008 encontraram o que seria o principal impulsionador da revolução na sua sonoridade: o guitarrista Matias Kupiainen, até então praticamente desconhecido. A isto seguiram-se "Polaris" e "Elysium", dois bons álbuns algo demarcados do power metal épico e de influências neo-clássicas que sempre pautou o som da banda, mas sólidos e com muito boas músicas. A recuperação era mais que óbvia e os Stratovarius mostravam estar a migrar para um estilo mais maduro e evoluído e a exibir outras armas ao seu dispor. "Elysium" seria no entanto o último álbum de Jorg Michael, entretanto diagnosticado com cancro e tendo manifestado a vontade de sair da banda. Rolf Pilve foi o substituto encontrado para a bateria, mas era mais uma grande perda para a banda.

No entanto, foi de mangas arregaçadas e com um espírito lutador que os Stratovarius conseguiram com "Nemesis" produzir o que é, para mim e até ao momento, o álbum de power metal do ano (disse que voltava a isto mais tarde!). Os dois primeiros álbuns da era Kupiainen foram bons sim, mas em muitos momentos era perceptível uma busca por uma sonoridade comum, uma nova identidade fruto da mescla entre a injecção de energia dos novos elementos e da experiência de Johansson e Kotipelto. Com Nemesis atingiram claramente esse objectivo. É um álbum robusto, cheio de boas malhas instrumentais e composições originais (que há muito faltavam aos finlandeses!) que consegue conjugar quase sem falha as origens quasi-Malmsteenescas com a nova face mais Edguy e agressiva da banda. Por vezes as músicas parecem um pouco cheias a nível de ambiente, com demasiado a acontecer, mas acabam por se resolver trazendo a benesse de, após várias audições, haverem sempre novos pormenores a descobrir, algo que não me lembro de ter acontecido até então num álbum de Stratovarius.

"Nemesis" começa em grande com quatro faixas de um power melódico com refrões chorudos como nos habituaram, mas mais moderno e agressivo. O trabalho rítmico ficou bem entregue a Rolf Pilve que demonstra uma força e versatilidade de relevo. De realçar o single "Unbreakable", com uma injecção de sintetizadores e uma assinatura rítmica menos tradicional, a demarcar uma nova imagem da banda. Uma nota também para a explosão de solos old school em "Stand My Ground", como que dizendo "sim, nós ainda somos os Stratovarius!". Com "Fantasy" é prestada uma pequena homenagem à "Paradise" do velhinho "Visions", podendo ser facilmente um segundo single com a sua linha melódica catchy e mais alinhada com a sonoridade original da banda. "Out of the Fog" é uma prenda de Jani Liimatainen, co-fundador dos também finlandeses Sonata Arctica e companheiro musical de Kotipelto. Original, agressiva e com um trabalho de guitarra muito bom, é um excelente acrescento ao rol de faixas deste álbum. "Castles in the Air", "One Must Fall" e "If the Story Is Over", esta última outra contribuição de Jani, desta vez uma balada, são as pausas para respirar do álbum e cumprem este papel com dignidade. Fortes, até a balada, são músicas facilmente incluidas numa setlist de concerto para cantar com o público. Com a declaradamente power "Dragons" e a brilhante "Nemesis", a minha favorita do álbum, os Stratovarius fecham um excelente acrescento à sua discografia. Ambas as músicas soltam a banda para o que eles melhor sabem fazer: bateria a marcar um tempo rápido e as teclas de Johansson e o virtuosismo de Kupiainen na guitarra a encherem os ouvidos dos fãs. A música "Nemesis" em particular saltou-me aos ouvidos desde a primeira audição: ligeiramente mais progressiva que as malhas de abertura do álbum, porém mantendo a toada de power do princípio ao fim.

Em jeito de notas finais, realce para: o trabalho de guitarra fantástico de Kupiainen, a fazer esquecer Tolkki nos três álbuns em que já participou e na influência que teve para a nova sonoridade da banda; a capacidade de inovação de Johansson, sem medo de mergulhar num uso extensivo de sintetizadores e de novas sonoridades; o que me pareceu uma boa gestão da voz de Kotipelto que, possivelmente com a idade, tem vindo a perder qualidade no timbre nos registos mais agudos.

Por fim, depois de tantos elogios, porquê um 9 e não um 10? Porque falta um "Black Diamond" ou um "Anthem of the World". É um álbum praticamente sem mácula, mas não existe uma música que me arrepie particularmente e me faça dizer "pronto, tenho de ir ao wc outra vez...".

Nota: 9/10

Review por Manuel Pimenta