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Brutal Truth / Bastard Noise - "Axiom Of Post Inhumanity" Review


Split que junta duas lendas que têm mais em comum do que à partida seria de supor. De um lado, os seminais Brutal Truth, A entidade do grindcore, simplesmente. Do outro, os Bastard Noise, uma instituição no que ao noise/power electronics diz respeito. Seria de esperar que com a junção destes dois nomes se tivesse um pouco de noise caótico mas que se encontrasse algum sentido nesse mesmo caos. O que não acontece aqui. Este é o exemplo perfeito em como a barreira do experimentalismo e daquilo que é audível é realmente muito ténue. E frágil.

Este split tem três edições distintas. Em vinil, tem-se direito a quatro faixas, uma dos Brutal Truth ("Control Room: Peace Is The Victory Mix") e três dos Bastard Noise (Preemptive Epitaph For The Living", "The Antenna Galaxies" e "Frack Baby Frack". Em cd, tem-se direito a quatro dos Bastard Noise ("The Duel Of The Ant And The Dragonfly", "The Horizon On Lynx", "Horned Beetle Conflict" e "Mantis Colony", enquanto os Brutal Truth oferecem-nos "Control Room: Smoke Grind And Sleep Mix" e "The Stroy". Ou seja, no total, temos uma hora e quarenta minutos... disto, que é basicamente o que se pode ouvir na edição digital.

Comecemos pelos Bastard Noise e tendo em conta de que tudo o que seja noise, enquanto estilo musical, dificilmente poderá ser apreciado como música. Não se tira a validade a experiências sónicas que sejam feitas, nem que existam pessoas interessadas nessas mesmas experiências sónicas, mas de assumiu-se de uns tempos para cá uma espécie de pseudo-intelectualismo arrogante de que isto é música para pessoas superiores. Não se tira a validade de qualquer experiência sónica que se faça, mas chamar noise enquanto forma de expressão artística como música, talvez seja forçar a barra um bocadinho de mais. Dito isto, há realmente boas e interessantes propostas dos Bastard Noise, que não se limitam ao noise, juntando uma série de outras influências... que aqui não estão presentes. Tal como o que acontece com os Brutal Truth, note-se. As faixas de Bastard Noise da edição de cd são simplesmente horríveis, limitando-se a ruídos irritantes como se o nosso modem de 56k tivesse sido possuído pelo espírito da grande ratazana. As em vinil não são melhores, embora tenham umas vozes de homem das cavernas funde-se com Satanás que sempre são uma variação perante a dor de cabeça anterior. Inegavelmente as faixas do vinil são superiores às do cd, no que diz respeito aos Bastard Noise pelo menos.

Quanto aos Brutal Truth... a desilusão é grande. Para quem não sabe, "Control Room" é o último tema do último álbum de originais, "End Time", que ora foi recebido com indiferença por parte da crítica ou foi recebido com espanto e aplausos. Se estão lembrados pela minha crítica originalmente a esse álbum, esse tema em específico foi um dos pontos altos, pela factor de surpresa e contraste com o resto do álbum. O exemplo perfeito em como o noise pode efectivamente resultar com uma experiência sónica interessante. Duas das três faixas dos Brutal Truth são misturas diferentes deste tema, uma com quase dezanove minutos e outra com quase vinte e cinco. Existem algumas diferenças entre as duas mas nada por aí além, ficando "The Stroy" para último, uma espécie de jam noise, sem grande pés e cabeça e que não acrescenta em nada o que já se ouviu. Aliás por esta altura, já não se consegue ouvir nada.

Um lançamento que não faz justiça ao nome de ambas bandas, mas principalmente a Brutal Truth, que são aqueles que jogam no nosso campeonato. Aborrecido, irritante e de certa forma arrogante, um split para iluminados ou surdos ouvirem. Um marasmo de ideias e ausência de talento - a não ser que usar e abusar de sintetizadores modulares com o mesmo ruído durante uma série de faixas com mais de sete minutos seja um talento. Os comuns dos mortais têm que se aguentar com música convencional porque para noise, já basta aquele do qual não se consegue fugir, como as obras na casa do vizinho ou os berros do colega de escritório. Bastava um pouco mais de substância para que este álbum tivesse mais impacto. Bastava acrescentar mais grind à equação, ou até mesmo um trabalho em conjunto, tocado ao vivo. Assim, é apenas aborrecido. Um álbum que não fazia falta ao mundo.


Nota: 2/10

Review por Fernando Ferreira