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Ayreon - "The Theory of Everything" Review


"01011001", o enigmático título do disco de 2008 de Ayreon, encerrou o último capítulo de um dos melhores conceitos alguma vez compostos, no espectro da música progressiva. Com isso ficou a ideia de que Arjen Lucassen pudesse enterrar de uma vez por todas a sua mais genial criação e concentrar-se nos seus muitos outros projectos. Mas o músico holandês sempre se mostrou imprevisível, e para gáudio dos fãs de Ayreon, 5 anos depois voltamos a tomar contacto com mais um disco deste projecto que tantos nomes deu a conhecer ao mundo do metal e do rock.

O mais curioso é que para alguém sempre associado às óperas metal / rock, com "Theory of Everything", nunca o músico esteve tão próximo do conceito de ópera clássica como agora. Esqueçam os refrões orelhudos, as estruturas tradicionais de música ligeira ou faixas de curta duração. O que aqui temos são 4 temas, cada um acima dos 20 minutos, divididos num total de 42 secções. Neles ocorre tudo aquilo que Ayreon representa, a pluralidade de estilos, a atmosfera psicadélica, os conteúdos emotivos, e claro uma lista de convidados tanto no campo das vozes como dos instrumentos.

Uma lista mui sui geniris esta, (quase) toda composta por estreantes em Ayreon e em que os grandes nomes se encontram essencialmente no campo dos músicos, com as lendas vivas como Rick Wakeman, Keith Emerson e Steve Hackett logo à cabeça, aos quais se junta Jordan Rudess dos Dream Theater, a mais recente adição dos Nightwish Troy Donockley nos instrumentos de sopro, e claro o habitual Ed Warby na bateria.

Já no que aos vocalistas diz respeito temos outro monstro do rock em John Wetton (ex King Crimson, Asia, Roxy Music entre outros), Cristina Scabbia (Lacuna Coil) com a sua voz calorosa, a força de Marco Hietala (Nightwish), a beleza vocal de Sara Squadrani (Ancient Bards), o registo bluesy de JB Christoffersson (Grand Magus), a pujança vocal do desconhecido Michael Mills (Toehider) e Tommy Karevik (ainda à procura do seu espaço nos Kamelot). Uma lista mais reduzida do que o habitual, mas que proporciona mais espaço aos vocalistas para brilharem e mostrarem toda a sua versatilidade. Com isso, temos a oportunidade de ouvir por exemplo Cristina Scabbia e Marco Hietala entrarem por registos algo diferentes do habitual, e mostrarem que são bem mais do que simples fenómenos de vendas, ao mesmo tempo que vemos um Tommy Karevik libertar-se do fantasma Roy Kahn e chamar a si todas as atenções do disco através do seu talento e carisma vocal, outrora mostrados em Seventh Wonder.

Como sempre Arjen Lucassen gosta de puxar os seus vocalistas ao limite, mas ao mesmo tempo procura sempre o lado mais emotivo e introspectivo de cada um, providenciais num conceito que abrange as emoções e relações humanas, ao mesmo tempo que lida com tópicos relacionados com a física e matemática.

Uma escuta difícil, naquele que é sem dúvida o mais exigente disco alguma vez composto pelo holandês. Menos pesado e mais instrumental, The Theory of Everything é igualmente um teste à previsibilidade e capacidades de Ayreon, passado uma vez mais com distinção.

Nota: 9.2/10

Review por António Salazar Antunes