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Reportagem: Scorpions @ MEO Arena, Lisboa - 10-03-2014


As digressões de despedida já não são o que eram. Se pensar-se um pouco sobre isso as digressões de despedida raramente se materializaram como tal. Neste caso, os Scorpions voltaram ao nosso país depois daquele que seria o seu último espectáculo de sempre em território nacional e independentemente desse facto, a MEO Arena encheu por completo para os receber de volta. O ambiente era de festa, festa pela música de outros tempos onde o rock dominava as atenções pelo menos de uma forma que hoje em dia não acontece. A provar isso teve-se a forma como o público presente cantou em conjunto a "Back In Black" dos AC/DC e a "Enter Sadman" dos Metallica, as músicas que serviram de intro para a entrada da clássica banda de hard rock alemã - facto algo estranho, mas que resultou na perfeição no aquecimento do público.


Com o início na forma da "Sting In The Tail", tema título do álbum lançado em 2010, que se tornaria, até à data pelo menos, no último álbum de originais. Apesar de ter sido bem recebido, o principal interesse do público presente era mesmo para ouvir os clássicos e não se pode dizer que tenha sido defraudado nesse aspecto, embora os Scorpions tenham uma carreira extensa demais para que possa ser comprimida de forma justa e equilibrada ao longo de pouco mais de duas horas. A nível cénico, o palco enorme, a bateria elevada a uma altura considerável (garantindo assim que a mesma estivesse visível para todos da sala) e os efeitos de pirotecnia nas primeiras músicas também asseguraram que a atenção do público tivesse sido logo agarrada de início. 




De nada serve os efeitos de pirotecnia, se a música, que é o que realmente interessa, não tiver consistência. Apesar das diferentes fases que a banda já atravessou, aceitando-se as diferenças de qualidade tal como as diferenças de gostos, é inegável a qualidade do seu trabalho ao longo de uma carreira já com mais de quarenta anos. A dúvida seria na interpretação da banda e ouvir clássicos como "Make It Real", "Is Anybody Here?" e "The Zoo" (uma das músicas com mais groove e peso do seu reportório) ficou-se com a certeza de que a idade só faz com estes clássicos fiquem melhores. As limitações das mesmas também não se fizeram sentir na voz de Klaus Meine, que demonstrou estar em topo de forma, fazendo inclusive uma perninha na "Coast To Coast", música instrumental onde tocou guitarra eléctrica.


Desde a surpresas como "We'll Burn The Sky" (o momento mais antigo recuperado do álbum "Taken By Force" de 1977), "Tease Me Please Me" e "Hit Me Between The Eyes" (do "Crazy World") até às incontornáveis, e em registo unplugged, "Send Me An Angel", "Holiday" (com direito a interacção vocal entre Klaus e o público), "Blackout" (com um Rudolph Schenker vestido da mesma forma que a personagem que está na capa do álbum com o mesmo nome) e "Big City Nights". Talvez tivesse sido preferível trocar o solo de bateria - embora bem conjugado com parte da história da banda visível, através de algumas alusões a capas de álbuns, nos cinco ecrãs gigantes  - e o solo de guitarra por mais clássicos, mas o efeito provocado e a antecipação que foi feita acabou por resultar - o solo de bateria antecedeu a "Blackout" e o solo de guitarra antecedeu a "Big City Nights".



Como seria de esperar, para o encore, ficaram as mais aguardadas, "Still Loving You", "Wind Of Change" e "Rock You Like a Hurrican", que arrasaram e levaram ao rubro (não exactamente por esta ordem) o MEO Arena. Quando se estavam a despedir do público, fizeram ainda mais um encore, dando a ideia de improviso pela forma como cada um correu para as suas posições, sendo a "No One Like You" a escolhida, de maneira sábia, para encerrar a noite. E que noite. Comunicação com o público muito boa, interacção e carinho demonstrado de parte a parte só ao nível daquelas noites mágicas que não acontecem com frequência, o que só faz com que este concerto tenha sido mais um memorável que a banda deu no nosso país, que já os acolheu há bastante tempo nos seus corações. As digressões de despedida já não são o que eram e ainda bem.


Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Ana Carvalho

Agradecimentos: Everyting Is New