About Me

Reportagem: Cinemuerte e The Black Wizards @ Sabotage Club, Lisboa - 21-03-2015


A noite surpreendentemente agradável do dia 21 de Março mostrou-se perfeita para acolher mais uma boa noite de rock no Sabotage Club com duas bandas nacionais do melhor que o rock tem para oferecer, mesmo que de campos quase opostos. Os novatos The Black Wizards com um som bem vintage, acente no hard rock embebido em blues e cheio de fuzz para oferecer enquanto os Cinemuerte já são há muito uma confirmação de talento no campo do rock moderno e com pormenores electrónicos. Além de unidas pelo rock, as duas bandas também têm o comum o facto de representarem a prova de como é possível ter uma voz feminina a comandar e cantar grandes malhas de rock.

Com algum tempo de atraso, o Sabotage foi enchendo ao som de grandes malhas de blues rock, totalmente apropriado ao que se ia ouvir no pequeno palco, pelo que essa espera não teve o habitual fardo de intolerância. Os The Black Wizards começam a entrar em palco e a preparar o seu equipamento e é com um gigante "I Don't Belong Here"que iniciam a sua actuação, retirado do seu recente EP "Fuzzadelic" lançado apenas no mês passado e disponível para download no bandcamp da banda como a vocalista e guitarrista Joana Brito mencionou durante a actuação. É sem dúvida a melhor forma de começar a actuação e talvez o grande tema do referido EP, uma junção perfeita entre a melancolia do blues e o poder rock sujo movido a fuzz, sem falar da forma como a voz de Joana vai hipnotizando o ouvinte. A presença em palco da banda é a representação clássica dos músicos que estão a viver aquilo que estão a tocar, quase em estado de transe, comandados pelas batidas seguras de Helena Peixoto na bateria.

O já mencionado EP foi tocado na integra, com "Back In Down" e "In The Dark" a resultarem igualmente bem, principalmente esta última com um grande. A banda também demonstrou ter mais músicas prontas do que aquelas três que compõem o EP, sendo que desse grupo, a que mais destacou foi precisamente a que foi usada para pôr um ponto final na actuação: "Gypsy Woman". Apesar de praticamente não ter havido comunicação por parte da banda com o público (exceptuando a já mencionada informação acerca do EP disponível para download gratuito e o momento em que Joana perguntou porque é que o público estava tão atrás e pediu para se chegarem para a frente, além dos constantes agradecimentos no final de cada música pela boa reacção do público), a música dos The Black Wizards mostrou-se valorosa o suficiente para dispensar esse tipo de coisas. Para os amantes do hard rock sujo com fuzz e blues à mistura, os The Black Wizards são sem dúvida uma banda a acompanhar por esses palcos a fora.

Depois dos The Black Wizards, chega a vez dos Cinemuerte e do seu rock moderno, a promover o recente lançamento do excelente EP "DHIST", o primeiro de uma trilogia que a banda tem planeada. Sendo uma banda com um bom currículo, já é complicado (para não dizer impossível) conseguir conciliar e escolher uma setlist capaz de incluir todos os bons momentos da banda sem deixar nenhum de fora. Neste caso, a banda fez uma vistoria por alto a toda a sua carreira e conseguiu uma actuação muito bem conseguida. Começando com um "The Call" repescado de "Aurora Core" que continua a soar fortíssimo e nada desfazado de um tema como "Dog", o primeiro single tirado do último trabalho e que é catchy como tudo, funcionando muito bem ao vivo, assim como "Heaven's Not Too Far" que se lhe seguiu.

Outra incursão ao passado deu-se pelas mãos de "Stealing Light", desta vez a visitar "Wild Grown" de 2011, sempre em paralelo à passagem pelo novo trabalho ("I'm Too Much Here Withou You" e "The Park" foram os outros temas que a banda destacou do EP, tocando-o quase todo na íntegra), mas músicas como "Blue", "Underwater" e "The House Of The Past" não poderiam faltar, nem sequer o inevitável "Air" a fechar a actuação, muito bem recebida por todos os presentes, um facto que também a banda se mostrou agradecida pela voz de Sofia, que salientou o facto daquela sala estar bem composta para receber as duas bandas e não terem ficado em casa a aquecer o sofá. Que venham mais noites como estas, por um preço mais que simpático para combater a crise (5 euros bilhete, 8 euros bilhete mais cd). Só não vem mesmo quem não quer, não há desculpas. Um bom espaço, boas bandas, boa música, bom preço... não há mesmo desculpas.

Texto por Fernando Ferreira
Agradecimentos: Cinemuerte