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Filii Nigrantium Infernalium - "Era do Abutre" Review


Há 20 anos atrás, num país de brandos costumes, os primeiros vultos da escuridão musical nacional começavam a assumir as suas formas mais vorazes de sempre e tomavam de assalto a castidade alva das almas Lusas. Os Filii Nigrantium Infernalium constavam desse triunvirato obsceno, cuja missa iniciática, orada nos versos dos “Métodos do Pentagrama”, cravou uma eterna marca ímpia nas chagas do Redentor.

A “Era do Abutre” sai em 1995 pela Monasterium Records e, desde logo, impõe a sua singular toada de Heavy/Black Metal & Glam Rock, para espanto de todos os que acompanhavam a banda. Primitiva, na sua abordagem musical, até a aspereza das palavras é docemente dissolvida, num sentido estético único e crescente, após a audição cuidada dos temas. São estes os pilares desta mística que criam a magia envolta da “Abadia do Fogo Negro”, “Herança de Outono”, “Inverno, Trono Inverno” e “Era do Abutre”. Há razões, para além da própria razão, para crer que, em Filii Nigrantium Infernalium, há um feitiço à nossa espera, assim que abrimos os portões de ferro deste jardim de pecados sulfurosos. Deo gratias!

Estou certo que Portugal não estaria preparado para tal heresia musical, tal como continua a não estar. A romaria que se verifica, ainda hoje, aos concertos da banda, tal qual a ida a uma feira medieval para contemplar os enforcados, os aleijados e os leprosos, a serem troçados pelo seu infeliz destino de vida, é demonstrativo disso. Neste caso, a chacota e a luxuria continuam a ser a palavra de ordem do Monsenhor Belathauzer que, em nome de Deus, o escorraça para o abismo, de forma a reciclar o seu verbo empoeirado. Esta atmosfera completa o que continua a ser a maior força da banda, ao longo da sua longa e inspirada carreira. Os dois temas extra desta valiosa edição, em vinyl, “Heavy Metal” e “Guerreiros do Trovão” não são mais que o comprovativo desta apetência natural para ligar, harmoniosamente, alguns dos submundos mais infiéis do reino da música. Mas há mais, e é por isso mesmo que agora é essencial, vital, singular e mandatório obter esta pérola negra recentemente polida pela Chaosphere Recordings.

Seja cru, seja retro, seja culto, o que é uma certeza é que os Filii Nigrantium Infernalium não são uma banda de modas, antes pelo contrário, definem a essência do Metal e ajudam a relembrar o porquê de serem uma das melhores bandas nacionais, e porque não do mundo, deste género, merecendo, por inteiro, esta reedição, bem como as devidas felicitações por continuarem fiéis ao número da Besta. Assim, apenas posso desejar a nosso Senhor que os conserve por muitos mais anos. Ámen!

Nota: 666/10

Review por Pedro Pedra