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Reportagem: Amplifest - Dia 2 @ Had Club, Porto, 21/08/2016


Segundo dia do festival, terceiro efectivo, mas, de qualquer maneira, o dia de Neurosis. Não havia volta a dar, a impaciência gerava-se e todas as bandas pareceram um pouquinho piores, porque eram um obstáculo para chegar aos cabeças-de-cartaz. E o primeiro obstáculo vinha de Israel, os Tiny Fingers, banda com pendor jazzístico, alinhando num post-Rock por vezes, outras entrando no psych. Sentiu-se que eram melhores músicos que compositores. Boa escolha de horário.

Tesa tocava na sala 2 e quando agradecem a Neurosis pelas datas europeias em que tocaram juntos, e como eles tinham sido uma influência, percebe-se que também são fans como todos e anseiam por aquela hora na sala 1. Quanto ao som, interessante, mas com uma década de atraso. Isis e Cult Of Luna já andaram há muito por lá. Ficaram as boas intenções.

Vieram os The Black Heart Rebellion e soaram tão estranhos quanto interessantes. Estranhos porque aquele não parecia o festival deles, mesmo que no ano anterior o slot fosse ocupado por Grave Pleasures, tão semelhantes quanto possível. Pertencerem ao colectivo artístico belga Church of Ra, justificou muita da sua presença no cartaz, embora a sonoridade se inscrevesse mais no campo do Goth Rock. Com bateria e teclados, bem como restantes músicos, dispostos de forma a parecer uma sala de ensaio, trouxeram uma maior intimidade ao palco, enquanto o uso de instrumentos de percussão, pelos vários músicos, deu um toque folk a tudo.

Antes de Névoa, espaço para uma ampli talk com Steve Von Till e Scott Kelly, moderada por José Carlos Santos (Loud!, Terrorizer). Sala cheia, embora com lugares sentados, e muita gente na porta. Seguiu-se a banda portuense, numa actuação bem interessante, que explicou a popularidade do primeiro disco e serviu como apresentação ao novo “Re Un”. Há um novo Black Metal por aí e também se faz (bem) por cá.

Os Caspian só poderão ter surpreendido quem não os conhecia antes, porque são muito bons e andaram sempre perto da primeira liga do post rock. Tal como os Tesa, já terão chegado atrasados para quem só agora os conhece, mas aquelas vagas melódicas que crescem para turbilhões sonoros, deixam qualquer um de boca aberta. Hope Drone, ao contrário, revelaram-se tão densos quanto maçadores. Eventualmente bons para outros cartazes, no Amplifest revelaram-se apenas mais um obstáculo para chegar a Neurosis. O mesmo já não se passou com Oathbreaker, pois a voz de Caro Tanghe é linda e revela-se frágil quando ecoa solitariamente na sala 1 do Hard, mas logo é envolta numa carapaça sonora produzida pelos músicos que a rodeiam, fazendo-a transfigurar num ser de onde ecoam sons guturais. Se não foi tão hipnótica como Anna Von Hausswolff na noite anterior, foi porque instrumentalmente se revelou mais robusta e abordagem foi bem mais directa e intensa, por vezes ritualística. Fantástico.

Downfall Of Gaia estavam de regresso ao Hard Club, mas não tiveram o mesmo impacto que da primeira vez. Interessantes, portadores de um som forte e directo, rapidamente aborreceram. Nota particular para o baterista, talvez a actuação mais impressionante no grupo. Já Chve foi um não acontecimento. A música esteve lá, mesmo que comprimida a meia-hora. Era bonita, mas os problemas técnicos que a anteciparam roubaram a mística. E depois, ao mesmo tempo, formava-se uma longa fila para entrar na sala 1. Compreende-se a necessidade de encaixar vários estilos nos mesmos espaços e num horário exigente, mas Chve revelou-se o pior “bom momento” do cartaz.

Neurosis arrancou ainda com muitos fora de portas, algo estranho e evitável. Quanto ao resto, é fácil: “Times Of Grace”, “Given To The Rising”, “Bending Light “, “Lost”, “Locust Star”, “Broken Ground”, “Takeahnase”, “At The Well”, e “Stones From The Sky”. Foi pouco? Sim, mas eles deixaram tudo arrasado. Foi bom? Melhor que bom, melhor que óptimo. Steve e Scott são dois excelentes frontman, mas os restantes elementos também souberam dar espectáculo à sua maneira. No resto, só espanta quando se vê Scott ou Steve a solo, delicados, com as suas guitarras. Como estes dois homens podem ser tão rudes e tão delicados ao mesmo tempo?

Prurient espalhou o caos sonoro na sala 2. Talvez a mais interessante oferta que por aí anda, no estilo electrónica/vocalista, mas depois de ter visto Neurosis, quem se importa com isso?

Texto e fotografias por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: rev