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Entrevista aos Satyricon

“Deep calleth upon Deep” é o novo álbum do duo norueguês Satyricon. O Satyr e Frost conseguiram, mais uma vez, surpreender a indústria musical com o seu som inovador... este álbum marca o início de uma nova era para a banda. Aqui fica o registo da conversa que a Metal Imperium teve com Satyr, a força brutal por detrás da bateria...

M.I. – Este ano marca o 25.º aniversário da vossa demo All Evil”. Qual a principal diferença entre os Satyricon de há 25 anos e agora?

Os Satyricon nasceram da paixão e vontade sincera para criar e inovar, temo-nos dedicado e evoluído. Muito tem acontecido nestes 25 anos por estarmos em constante mutação e nunca nos termos baseado numa fórmula fixa. Hoje em dia, os Satyricon não se baseiam tanto em ideias, ambições, planos e objectivos mas antes na manifestação musical destes princípios. 


M.I. – Todas as críticas têm sido unânimes e referem que “Deep Calleth Upon Deep” representa Black metal no seu melhor... qual a principal diferença entre o vosso 1.º álbum “Dark Medieval Times” e este?

No “Dark Medieval Times” sente-se um espírito e uma atmosfera muito particulares, mas em termos de musicalidade não é nada impressionante. O “Deep calleth upon Deep” é mais uma reflexão espiritual e tem atitude no arranjo, no desempenho e na produção, e daí vem a capacidade de amplificar o impacto dos temas. Comparar estes dois álbuns é quase como comparar uma criança a um adulto... nem faz sentido fazê-lo. 


M.I. – Na bio da banda refere que o novo álbum ‘Deep calleth upon Deep’ é uma reinvenção da banda e marca o início de uma nova era. Supostamente isto tem um significado profundo sobre a essência da música e o valor da arte. Porquê? 

Penso que foi isso que fizemos com “Deep calleth upon Deep”. Através do trabalho com a música e, considerando que realmente te dás de corpo e alma, ganha-se novos perspectivas, melhora-se, expande-se. Como a evolução aconteceu numa grande escala à medida que íamos gravando o novo álbum, também fomos mais longe e mais “fundo”, e abanamos as bases dos Satyricon, não alterámos somente a superfície. 


M.I. – O título do álbum foi retirado do Salmo 42:7 da Bíblia. Porque o decidiste usar? Alguma vez leste a Bíblia? Qual a tua opinião sobre este livro?   

Quando o Satyr encontrou esta citação, tornou-se claro que este era o título perfeito para o álbum, por ser sobre música que surgiu do mais profundo dos nossos seres e que atinge as profundezas do ouvinte. Contudo, pode haver outras interpretações do título que também fazem muito sentido. Neste contexto, na verdade, não importa que seja uma citação da Bíblia.


M.I. – Os Satyricon em 2016 festejaram o 20.º aniversário de “Nemesis Divina”, tocando o álbum na íntegra ao vivo e trabalhando no novo álbum... foi fácil? A tournée influenciou o novo álbum de alguma forma? Acreditas que algum outro álbum da banda conseguirá ter o impacto que teve “Nemesis Divina”? 

Os concertos do aniversário aconteceram ao mesmo tempo em que estávamos a trabalhar no álbum mas os projectos não se misturaram de forma alguma, simplesmente tivemos de fazer várias coisas em simultâneo e fizemo-lo. Não acredito que os dois projectos tenham tido influência um do outro, mas aprendemos algo com este retrocesso temporal e redescobrimos o que estávamos a fazer e o que funcionava há 20 anos atrás. 


M.I. – Os novos temas são uma expansão do universo sonoro da banda apesar de serem tão diferentes. O Satyr aconselhou os fãs a pensarem nestes temas como uma viagem, a tocá-los alto e bom som e a fecharem os olhos enquanto os ouvem. Como é que funcionam juntos? Até onde podeis ir? Que assuntos abordaram nestes temas?  

“Deep calleth upon Deep” não é baseado em conceitos. Eu sinto que os diferentes temas no seu conjunto constituem uma entidade viva e o que os relaciona é a criatividade e o espírito de onde surgiram, assim como o som orgânico do álbum.  Onde podemos ir a partir daqui? Não fazemos ideia e gostamos que seja assim. Não nos queremos tornar previsíveis. 


M.I. – A capa do álbum é um desenho obscuro, datado de 1898, do maior artista norueguês de todos os tempos, Edvard Munch. Porque optaram por esta capa? Qual a ligação com o álbum?

“The Kiss of Death” é uma bela peça por si só mas, acima de tudo, tem um forte paralelo visual com a música de “Deep calleth upon Deep”. Por um lado é directa, crua e nua, e por outro é profundamente expressiva, spiritual e intrigante, assim como obscura, perturbante e ameaçadora. Não poderíamos ter encontrado uma melhor maneira de ilustrar o conteúdo do álbum. 


M.I. – O álbum inclui pessoas da Orquestra Filarmónica de Oslo a tocar violino, violoncelo, contrabaixo, clarinete, saxofone e o tenor de ópera Håkon Kornstad. De que modo é que esta colaboração contribuiu para o som do álbum, já que é tão subtil?

Estas diferentes texturas adicionam profundidade, dão ênfase às atmosferas e contribuem para dar vida e identidade aos temas. 


M.I. – Os Satyricon vão andar em tournée nos próximos meses... o Satyr disse que quer que esta seja a tournée mais poderosa que ele já fez. Ainda tão ficas entusiasmado com as tournées como ficavas no início? Posso assumir que vocês são perfeccionistas e só ficam contentes quando dão vosso melhor? O que podemos esperar desta tournée?

Tens muita razão nas tuas suposições. Faz parte da natureza desta banda o querer ser cada vez melhor. “Deep calleth upon Deep” levou-nos a alcançar algo muito bom e inspirador e os que forem aos nossos concertos verão os Satyricon no seu melhor! 


M.I. – A banda ofereceu bilhetes para o concerto no topo do Barcode em Oslo! Para tal, desafiaram os vossos fãs a cantar “Deep calleth upon Deep” e os mais corajosos mostraram os seus dotes vocais… foi muito complicado escolher o vencedor? 

Tenho de admitir que não estou muito por dentro deste desafio... a minha principal preocupação é o desempenho. 


M.I. – O Satyr tem enfrentado problemas de saúde que afectam qualquer um mental e fisicamente. Este problema alterou a vossa perspectiva sobre a vida? Pensamos que estas coisas só acontecem aos outros! Isto afectou os Satyricon de algum modo? 

Claro que nos afectou. O Satyr demonstrou que é mais forte do que a sua condição física e trabalha com uma capacidade impressionante. Que continue assim! 


Entrevista por Sónia Fonseca