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Reportagem: Pit Brunch @ Lisboa Ao Vivo, Lisboa - 26/11/2017




Longe vai o tempo das matinés de domingo, onde as tribos rumavam a uma determinada sala e esqueciam entre copos, amigos e música ao vivo que o fim de semana estava a acabar e o dia seguinte era de escola/trabalho.

Essa é a atmosfera que a Pit Brunch decidiu não fazer cair no esquecimento, agendando para o passado dia 26 de Novembro, na sala do Lisboa Ao Vivo, a primeira edição de uma matiné que se espera tenha continuidade. O cartaz tinha os lisboetas Grankapo como cabeça de cartaz, coadjuvados por quatro jovens bandas da onda hardcore/grind/metal.

Pouco passava das 16 horas quando os Bas Rotten tomam o palco de assalto com um potente e gutural grindcore. A banda de Lisboa ainda não tem um disco editado mas isso não os impede de já se terem aventurado fora de portas, com concertos em França e Espanha. Tendo editado recentemente uma demo em formato digital com dois temas, “Machine” e “Mogul”, os Bas Rotten presentearam os presentes com uma actuação ao melhor estilo grind/thrashcore, embora mais curta que o habitual, desfiando temas a uma velocidade supersónica, com destaque para “Hostile Demands”, “Surge” e o encerramento com “Safe”. Uma banda a ter debaixo de olho pelos amantes do género!!

"Chaos AD" é o nome do quinto disco de originais dos brasileiros Sepultura e aquele que a maioria da crítica designa como o melhor da era irmãos Cavalera. Já a banda das Caldas da Rainha que utiliza essa mesma nomenclatura não podia ser mais diferente da banda do país irmão. Os CHAOSxA.D. tocam um crust grind crú como manda a lei, sem grandes virtuosismos, completando a barreira sonora com um Zé Gualter que tanto dá gritos lancinantes a plenos pulmões como um louco possesso, como ruge do fundo do seu corpo qual animal acabado de ver desferido um golpe fatal. “Favela” e o encerramento com “Victim of your own Mind” e “Hostile Takeover”, os dois temas recentemente editados digitalmente na página da banda no Bandcamp, foram os que ficaram mais na cabeça.

Os Titan Shift de Lisboa traziam na bagagem o seu disco de estreia, “Thrive”, que mostra uma banda bastante coesa para tão jovens membros. No Lisboa ao Vivo tivemos uma prestação sem falhas da banda lisboeta, com excelente prestação dos irmãos Mais, o vocalista Henrique e o guitarrista Guilherme, e de um irrequieto Sebastião Castro, que apesar de ter nas unhas um enorme “bacalhau” deve ter gasto grande parte do seu peso em suor. O EP de estreia da banda é bastante interessante, e ao vivo as músicas ganham uma roupagem bastante fiel mas melhorada, a apontar para um futuro promissor. Com músicas bem mais demoradas que as restantes bandas presentes, num estilo thrash com pitadas groove, destacamos o trabalho em “Road to Ruin” e “Through My Eyes”.

Da Praia da Areia Branca, na Lourinhã, veio o grande destaque da matiné, os Stand in Front. Com um hardcore ao melhor estilo Old School, a banda liderada por Ivan Silva meteu a plateia a mexer como nenhuma outra tinha feito até então. Mesmo auxiliado por uma muleta para ajudar na convalescença de uma lesão na perna, a energia que vinha do palco apanhou todos de surpresa. Imaginem como será com um Ivan 100% recuperado!! Com a demo tape “Words As Weapons” fresquinha para divulgação, a banda não fez prisioneiros, e destilou o seu veneno em faixas como “Senhor Presidente” ou “Betrayal”, antes da despedida com o hino “Hardcore Family”, dedicado aos poucos mas bons que decidiram passar uma tarde de domingo a ouvir bandas em vez de estar nas compras da Black Friday.

Os Grankapo já são velhos conhecidos da cena underground nacional, com uma década de actividade nas costas, e não é de estranhar o à-vontade que sentem em cima de palco. Com um Fuck bastante interventivo, a banda arrancou logo com “Man Killing Man” e “Private Hell”, a faixa que abria o disco de estreia “The Truth”, de 2011, disco de onde foi também retirado “Left for Dead”, a faixa apresentada logo de seguida. Vários agradecimentos à organização pela coragem de retomar umas matinés há muito perdidas no tempo e foi tempo de “My Son”, a faixa que a banda incluiu no split-EP de 2010 editado pela HellXis , seguido de nova incursão no LP de 2011 com “Feel my Hate” e “We’ll Never Die”, com “Won’t Fall Down” e “Burn” pelo meio, os dois temas mais recentes da banda, editados em 2016 pela HellXis num split-EP com os germânicos Ryker’s. Para o final, os dois hinos da banda de Loures, “Life Goes On” e “Grankapo”. Mais uma actuação excelente dos Grankapo, mas fica o desejo de ouvir novidades discográficas da banda...

Findo o evento, fica a sensação de dever cumprido por parte de organização e bandas presentes, com elevado nível de profissionalismo, e a promessa, já expressa nas redes sociais da Pit Brunch, de continuar a apostar no formato. Venham mais!!!


Texto por Vasco Rodrigues
Fotografia por Rui Oliveira
Agradecimentos: Pit Brunch