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Entrevista aos Sinistro




2018 tem corrido bem aos Sinistro... viram o seu mais recente trabalho “Sangue Cássia” ser lançado pela conceituada Season of Mist, andaram em tournée com os Paradise Lost e já têm convites para festivais de topo. Como não podia deixar de ser, a Metal Imperium convidou a vocalista Patrícia Andrade para uma conversa sobre esta nova banda sensação que está a causar furor no mundo do metal. 


M.I. - Visto que os Sinistro parecem ter mais visibilidade internacional do que no nosso país, podem dizer-nos quem são os Sinistro?

Os Sinistro começam em 2012 com o propósito de serem apenas um projecto de estúdio, de explorar sonoridades cinematográficas, ambientais. A ideia partiu do Fernando Matias, Ricardo Correia (Rick) e Paulo Lafaia. Em 2012 lançaram o primeiro disco. No ano seguinte, compuseram o EP “Cidade”. Na altura, eu estava em Pedro e os Lobos e o Rick foi ver um concerto, daí surgiu a ideia de me convidarem para colaborar no disco. Gostámos do resultado e quisemos dar continuidade à experiência. A banda sentiu necessidade de mais um elemento criativo, um guitarrista. Com a entrada do Ricardo Matias, estava completa a formação actual. Em 2015, iniciámos a composição de “Semente” e em 2016 estávamos na Season of Mist, a fazer tournées e a participar no Roadburn. Aconteceu tudo de uma forma muito rápida e inesperada.
   

M.I. - Todos os álbuns da banda começam a letra S. Coincidência ou nem por isso?

Foi coincidência. Não tem qualquer subtexto ou significado  por detrás do títulos começarem por S. O EP começa por C...


M.I. - “Sangue Cássia” foi lançado no início do mês de Janeiro. Quais as vossas expectativas para este ano que começou com um novo álbum?

O ano começou muito bem com o concerto de lançamento no Musicbox cheio. Foi uma bonita partilha, que nos deixou muito felizes. É um bom presságio. De momento, estamos agendados para três festivais: ”Inferno” na Noruega, “Spider Inferno Fest” no Chile e Eslovénia no “Metal Days”. 


M.I. - Os Sinistro aliam o sentimento do Fado com rock e metal. Como conseguem fazer com que esta fusão funcione? Qual a fórmula?

Não existe uma fórmula em particular. É o resultado de cinco pessoas com várias influências artísticas e experiências pessoais, que vão para estúdio desenvolver ideias, experimentar. Se existe uma fórmula, pode dizer-se que é intuitiva. Compomos muito na base da intuição. Mesmo na estruturação das músicas não obedecemos necessariamente a uma regra ou formalidade. Com ou sem formalidade, temos de sentir o que estamos a criar.


M.I. - A maior parte das letras da banda são escritas em Português. Sendo a nossa língua tão bela mas, simultaneamente, tão complexa, porque optam por usá-la?

Todas as letras são em português. Desde que o Rick e o Fernando me fizeram o convite para colaborar no EP “Cidade”, a condição era as letras serem escritas em português. O que à partida nos poderia condicionar acabou por nos evidenciar e destacar. Foi, também, o facto de cantarmos em português que nos levou à internacionalização. É uma honra e um privilégio cantar em português. No nosso caso, sentimos que nos expressamos melhor em português. Música, arte em geral, é comunicação, é partilhar um estado de alma, independentemente da língua. 


M.I. - Em todos os vossos trabalhos, à excepção de “Semente”, as intros são muito longas, no caso de Semente é o outro. Porquê?

Quando o processo de composição termina e se vai ouvindo música a música de forma a organizar um álbum, pensa-se no todo e não nas músicas individualmente. É como se se construísse uma narrativa. Cada álbum tem a sua narrativa, história, por assim dizer.   


M.I. - Como surgiu o título “Sangue Cássia”?

Sangue é vida, Cássia para além de ser um género de planta, também significa fragrância, perfume. O título surgiu como forma de metaforizar o que é retratado no disco: a essência de existência humana, da vida. Histórias com reflexões ou descrições sobre o medo, o envelhecer, a solidão, a memória, o amor, a fuga. 


M.I. - Os vossos 2 primeiros trabalhos, lançados pela Raging Planet, tinham um triângulo no centro da capa e, nos dois últimos, o triângulo desapareceu. Porquê?

Foi importante procurar outros caminhos. Sentimos essa necessidade. 


M.I. - Em contrapartida, os dois últimos trabalhos têm um corpo feminino na capa. Porquê? Alguma mensagem especial que querem transmitir com a capa?

Foi uma opção estética que considerámos adequar-se aos dois últimos discos.  


M.I. - O que inspira as vossas letras? 

Basicamente são histórias de pessoas reais, estados, o quotidiano. É isso que nos inspira. O mundo real é de uma riqueza desconcertante. Se estivermos atentos, há um mundo dentro do mundo para explorar. 


M.I. - O álbum tem recebido excelentes críticas. Têm o hábito de ler o que é escrito sobre vocês ou não se importam com isso?

Temos hábito de ler as críticas e consideramos importante.


M.I. - Na press release, a Season of Mist descreve a Patrícia como uma vocalista extraordinária. Como se sente ao saber que é considerada fabulosa?

Agradeço profundamente e sinto-me lisonjeada. Convenhamos que é suspeito vindo da Season of Mist… :) Acho sobretudo importante ter os pés assentes na terra e saber que, enquanto esta partilha fizer sentido e for feita e recebida com amor, é uma experiência fabulosa. A Patrícia dá a voz, mas Sinistro são mais quatro pessoas. É o todo que faz esta viagem acontecer.  


M.I. - A Patrícia é a vocalista da banda. Qual a maior dificuldade de estar em palco? O facto de ser actriz ajuda de alguma forma?

Para além de tentar não desafinar... é sempre um desafio e uma experiência estar em palco. Quando estás em tournée e tocas todos os dias em sítios diferentes exige bastante de todos nós. No entanto, no momento de subir ao palco, sabes que aquele momento vai ser único e irrepetível, por mais que toques sempre as mesmas músicas. A energia tem sempre de estar lá, tens de fazer com essa energia viva por si. Esqueces cansaço, viagens longas. Esse é o maior desafio e o mais gratificante. Quando esqueces tudo e estás no Presente a partilhar. O teatro tem também essa premissa. O facto de ser actriz é fundamental. Tens uma consciência do corpo, das emoções, de sentir e de como transmitir. Não é uma encenação ou uma coreografia. É teres consciência de que tens “ferramentas” e que podes utilizá-las para manifestares um estado, uma emoção. Não me considero uma cantora exemplar. Não tenho técnica ou voz perfeita. Mas não procuro isso. Procuro que as imperfeições sejam um veículo para manifestar emoções, sem pensar em virtuosismo. 


M.I. - Os membros da banda estão todos ligados às artes nas suas profissões. Pensam que tal contribui para o sucesso das vossas músicas?

Sendo todos músicos e o Fernando Matias também produtor, estando todos eles na música há vários anos e com outras bandas, contribuiu para quererem fazer coisas diferentes. Sinistro foi o espaço de encontro para procurar uma nova dinâmica.


M.I. - Porque é que todos os membros são identificados somente com uma letra em vez do nome e a vocalista tem nome e sobrenome identificados? Os outros membros não importam?

Essa foi uma opção inicial da banda, como forma de manter o anonimato de cada um deles, que se manteve até ao álbum “Semente”. Foi uma escolha dos quatro, como foi uma escolha da banda manter o meu nome porque no EP foi divulgado como Sinistro e Patrícia Andrade, porque na altura seria apenas uma colaboração. Como referi anteriormente, Sinistro são cinco pessoas e todas elas elementares para Sinistro estar onde está. É a energia de cada uma delas que está nos álbuns, na composição, no todo. Não faria sentido não terem importância. Em “Sangue Cássia”, estão todos identificados, com os respectivos nomes. 


M.I. - Os Sinistro são caracterizados como Doom. Foram vocês que acharam que era a melhor definição para o vosso som?

Sinceramente, por vezes, temos alguma dificuldade em especificar em que território estamos. Consideramos que tocamos vários. Entramos no Doom também, mas não só. 


M.I. - Todos os vídeos da banda são a preto e branco e têm uma personagem central à volta da qual se desenrola a “história”. Porquê?

O facto de os vídeos serem a preto e branco, prende-se pelo facto de considerarmos que essa opção estética reflecte, ilustra melhor o nosso universo. Há excepções como é o caso do vídeo “Abismo” que tem planos a cores. Rompemos nesse vídeo com a nossa estética habitual. Respeitamos também a escolha artística de quem se envolve connosco. Neste caso, a Julieta Aurora Santos realizou e a montagem foi da Inês Achando, que realizou todos os vídeos de “Sangue Cássia”. Os vídeos são um elemento que consideramos forte para espelhar o que está na música ou para acrescentar o que não se ouve, o que está “submerso”, silencioso. É uma partilha com outra linguagem artística que consideramos importante. Têm sempre uma personagem central, (salvo em casos como “Fragmento” do álbum “Semente” e no EP a “Cidade II”) todos os vídeos realizados pelo José Dinis no álbum “Semente” e “Cidade II” que soube igualmente partilhar a sua visão e ser sensível à nossa estética. Falamos de pessoas, de inquietações, na maioria, em diálogo ou como se de um solilóquio se tratasse.


M.I. - Pelas reacções online, posso concluir que muitos portugueses não têm ideia de quem são os Sinistro e, muito menos, de que são portugueses e ficam agradavelmente surpreendidos quando ouvem o vosso material. Sentem que têm pouca divulgação a nível nacional? Estão a planear algo para contornar esta situação?

A Loud esteve sempre atenta, desde o início, a seguir os nossos passos. E, claro, está, contribuiu para nos dar a conhecer e agradecemos por isso, contribuíram para que Sinistro fosse notícia. Existe uma imprensa mais específica que está atenta, tem vontade de conhecer, fala sobre isso:”Música em DX” “World of Metal”, entre outros...  Isso é importante. Fora da imprensa especializada, por exemplo a “Playboy” também esteve atenta e segue o nosso trabalho e fez disso notícia, ou o programa do Nuno Calado, o “Indiegente”. É bom quando isso acontece. É sinal que alguma imprensa e algumas pessoas estão receptivas ao que se passa com uma banda portuguesa que dá créditos lá fora. Que há imprensa estrangeira a falar de Sinistro. Se falam ou não em Portugal, se merecemos esse destaque... gostaríamos de achar que sim, como outras tantas bandas portuguesas a tocar lá fora. Mas não fazemos disso um cavalo de batalha.


M.I. - No passado dia 13 de janeiro fizeram a apresentação do novo álbum na MusicBox em Lisboa. Como correu? Gostaram da reação do público?

Correu bastante bem. Casa cheia e uma bela partilha. O público recebeu-nos com o coração.


M.I. - Estão a planear andar em tournée por Portugal de modo a promoverem o álbum “Sangue Cássia”?

Não temos planos nesse sentido.


M.I. - A banda tem um contrato com a Season of Mist. Sentem-se bem integrados? Como têm corrido as coisas?

Têm corrido bem, sentimo-nos integrados.


M.I. - A banda andou em tournée com os Paradise Lost. Como surgiu essa oportunidade? O que acharam da experiência?

Foi uma experiência incrível. Foi através da nossa agência.


M.I. - O Nick Holmes disse que os Sinistro pareciam os Pixies num funeral. Consideram isto como um elogio? 

O Nick Holmes, referiu-se a Sinistro, partilhando o vídeo da “Relíquia” e fez esse comentário. Achámos que não era ele, não queríamos acreditar… mas sim, era o Nick Holmes. Há melhor elogio que este? Porque meses depois não fizemos um funeral, mas uma tour com Paradise Lost...


M.I. - Na tournée de Sinistro com Paradise Lost a Patrícia era, provavelmente, a única mulher. Como se sentiu? Sozinha? Gostam de andar em tournée?

Sinto-me bem muito bem. Gostamos sim, é uma excelente experiência a todos os níveis.


M.I. - A banda tocará em alguns dos mais conceituados festivais europeus, nomeadamente o Inferno Festival na Noruega, em que partilharão palco com bandas de culto e de géneros bem mais pesados. Este tipo de cartaz intimida-vos de alguma forma?

Não nos intimida. O nosso objectivo é tocar e dar a conhecer Sinistro. Ficamos felizes por partilhar com o público e claro está tocar em festivais de referência. 


M.I. - Os fãs estrangeiros já se queixaram alguma vez que não conseguem entender/cantar os vossos temas? Como reagiram?

As pessoas vêm ter connosco e comentam que não entendem a língua, mas sentem a música, o que transmite. Se é uma queixa, é muito elogiosa.


M.I. - Deixem uma mensagem aos leitores da Metal Imperium. Obrigada pelo vosso tempo!

Que façam muitas “viagens” com a música, sejam felizes! E esperemos partilhar a nossa “viagem” convosco! Muito obrigada, Sónia.


Entrevista por Sónia Fonseca