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Entrevista aos The Konsortium

Quando se pensa em Black Metal, imediatamente vem a Noruega à mente... bem, os The Konsortium são de facto noruegueses cheios de experiência. O seu segundo álbum, “Rogaland”, recebeu críticas impressionantes e a Metal Imperium teve uma conversa com Fredrik para descobrir mais.

M.I. - Porquê o nome The Konsortium para a banda?
A banda começou como um projecto a solo em 2003, mas rapidamente evoluiu para algo mais. Amigos e músicos uniram-se, e nós funcionamos como um consórcio desde o início; As pessoas adicionaram os seus pontos fortes ao projecto, fazendo o que fazem de melhor, usando os seus conhecimentos como guitarristas, bateristas, etc. Então, para facilitar, chamamo-nos de The Konsortium.

M.I. - A fonte de The Konsortium usada no nome lembra-me os Enslaved e também usam o símbolo de uma fénix. Qual é o significado por trás disso tudo?
A fonte rune foi feita especificamente para este álbum por Trine + Kim, os designers. Queríamos algo que reflectisse as ideias por trás de "Rogaland", e eles manifestaram isso na fonte, com base na nossa tradição nórdica. Eles reflectem raízes, história e herança, todos os conceitos que estão presentes no novo álbum. A fénix é um símbolo desde o começo da banda, e é... bastante auto-explicativa, eu penso... ergue-se das cinzas, sabes?!

M.I. – O vosso novo álbum "Rogaland" foi lançado há algumas semanas. Quais eram as vossas expectativas em relação a isso? O álbum de estreia teve críticas tão impressionantes e as deste também estão a ser! Qual é o vosso segredo? Como conseguiram superar-se?
Bem, muito obrigado! O álbum saiu há mais ou menos um mês, e as críticas parecem ser boas. Eu nunca espero nada quando um novo álbum é lançado - o único critério é que temos que nos satisfazer. Se outras pessoas também entenderem e gostarem do álbum, isso é apenas um bónus. Eu acho que "Rogaland" é um álbum que ou entendes ou não entendes. O álbum de estreia era muito acessível, enquanto este exige mais esforço do ouvinte. Eu recebi um email de um tipo que me disse que ele tinha ouvido o álbum 200 vezes até agora, e ele ainda conseguia encontrar novos detalhes de cada vez que o ouvia. Isso é muito fixe! Nós não precisamos nem esperamos que todos gostem – lidamos bem com quem nos detesta! Mas se só ouvires o álbum uma vez e decidires que é uma porcaria, então... podes estar a perder alguma coisa. Muitas pessoas fazem isso hoje em dia... ouvem um novo álbum, dando-lhe 30% da sua atenção, e se não for algo em que neles entre instantaneamente, desistem. Tudo bem, porque nós nunca pretendemos ser uma banda fácil de ouvir.

M.I. - A banda lançou a primeira demo 5 anos depois de ter se formado, 3 anos depois, “The Konsortium” foi lançado e demoraram 7 anos para lançar o novo álbum. Porquê a longa espera? 
Sim, horários complicados. A vida meteu-se no nosso caminho: crianças, trabalho, lesões, cenas assim... eu ainda estou extremamente ocupado, o que é um desafio constante quando a música não é o que nos sustenta. Não há dinheiro nisto, por isso é puramente um projecto "idealista" - infelizmente o idealismo às vezes tem que sofrer por razões mais pragmáticas. Além disso, eu nunca quero fazer coisas meio idiotas. Escrever uma música com a qual estou satisfeito leva muito tempo e, de repente, os anos passaram.

M.I. - Tendo levado tantos anos a preparar um novo álbum… consideram-se perfeccionistas?
Sim, acho que teria que dizer que sou. Tenho toneladas de riffs e material no meu computador, que nunca serão usados, porque não estão bem o suficiente ou não têm o sentimento certo. Os outros membros da banda também são muito críticos e, se algo não soa bem o suficiente para eles, eles avisam-me imediatamente... Eu não tenho nenhuma fórmula para composição… às vezes os riffs que escrevo ficam o fim da música. Há coisas que encaixam quando trabalho nelas - ou não, e deito fora.

M.I. - De acordo com Dirge Rep, este é o álbum mais técnico e exigente dos seus 25 anos a tocar Black Metal. O que é que os fãs podem esperar de “Rogaland”?
Se derem ao álbum a atenção de que precisa antes da música “entrar”, devem - pelo menos na minha opinião - ter uma experiência auditiva que vale a pena. "Rogaland" estava a exigir ser criado, gravado e executado. Então, de muitas maneiras, como ouvinte, tens um álbum exigente nas tuas mãos. Mas depois de algumas audições, para conhecer o som, o estilo de vocais e riffs, deve levar-te numa jornada que esperamos que fique contigo por algum tempo.


M.I. - A capa retrata uma paisagem… é Rogaland? Porquê dar o nome de um condado norueguês ao álbum?
A capa é de Rogaland, sim. Mais especificamente, é de uma região chamada Jæren, cercada pelo Mar do Norte. Nós demos esse nome ao álbum por causa do nosso condado natal, porque esse é o conceito por trás de todo o álbum: a batalha intemporal entre o homem e a natureza, o anseio por algo perdido neste mundo moderno, vazio de espírito e magia. É uma homenagem ao nosso concelho, um vislumbre de como percebemos e interagimos com o nosso ambiente natural.



M.I. - Para o seu álbum de estreia, inspiraram-se na natureza... também é essa a principal inspiração para este álbum?
Sim, mais desta vez do que antes. Todos os membros apreciam a natureza, e temos a sorte de morar numa parte do país que possui alguns dos mais majestosos, brutais e inspiradores lugares que a Noruega tem para oferecer. Não é possível viver aqui e não ser afectado de uma forma ou de outra. Eu mesmo escolhi imergir-me completamente nela e sinto-me ligado a partir do mais íntimo do meu núcleo, na maioria dos aspectos da minha vida. Eu até caço e vivo para viver, e não poderia ser de outra maneira.

M.I. – Todos os temas deste álbum têm títulos com apenas uma palavra... algum significado especial por trás disso?
Sim, mas não são necessárias interpretações ocultas ou herméticas - eu queria mantê-lo curto, robusto e simples - e deixar o leitor / ouvinte interpretar o resto por si mesmo. Hermenêutica!

M.I. - Se não estou em erro, os títulos das músicas usam idiomas diferentes... é mesmo assim? 
Não, está tudo escrito em Norueguês ou numa versão do Norueguês baseada em dialectos mais antigos.

M.I. - Como correu o processo de gravação? Estão satisfeitos com o resultado final?
O processo de gravação levou muito tempo, passamos inúmeras horas no estúdio e com os nossos instrumentos. Foi cansativo às vezes, mas na verdade correu muito bem, apesar de levar mais de um ano para completar tudo. Houve momentos altos durante todo o processo, e ninguém estava realmente cansado de trabalhar. Sabíamos que ia ser difícil e temos idade suficiente para não nos enganarmos. Também aprendemos muito desde a última vez, e foi uma decisão comum que deveríamos estar no controle de todos os aspectos desta vez, e não "entregar" o projecto a outra pessoa. Isso dá muito mais trabalho, mas o resultado valeu a pena. O álbum tem um som distinto (Orgone Studios e Jaime Gomez, o tipo é mesmo habilidoso!), não parece plástico ou "moderno", mas ao mesmo tempo há clareza suficiente na produção. Sim, estamos muito satisfeitos com o resultado.

M.I. - Quem é responsável pelas letras? Como é que a escrita é feita… melodia e letra depois ou ao contrário?
Eu escrevi a música e as letras. Geralmente escrevo as letras depois da música, mas já tenho uma ideia básica sobre o tema / sentimento lírico quando escrevo os riffs.

M.I. - Por que escolheram “Arv” como a primeira faixa a ser lançada? É a melhor maneira de mostrar “Rogaland”?
"Arv" é a única faixa do álbum que é... mais acessível. A editora queria lançar uma das faixas como single, e acabamos por escolher "Arv".

M.I. - O videoclip de “Arv” foi filmado por Stein Erik Aulie… como foi a filmagem?
Acho que nenhum de nós tinha expectativas muito altas, porque já estávamos cansados quando foi filmado. Alguns membros ficaram acordados durante dois ou três dias, a festejar, e além disso, estávamos em Rogaland em pleno Inverno para tirar fotos da banda nesse mesmo dia. Mas o resultado foi exactamente o que nós queríamos: um vídeo prático que mostra a banda de uma forma simples, mas profissional. Para nós, ficou perfeito!

M.I. – Vocês postaram algumas fotos dos estúdios de gravação e todas elas parecem tão naturais, no meio da mata... quão complicado é gravar num ambiente natural?
Sim, em parte é por isso que as gravações demoraram tanto tempo. Quase todos as vozes são feitas dessa maneira; fora nas montanhas ou na floresta. Foi perfeito. Magia. E acho que foi necessário para tornar o álbum e o conceito credível. Tudo se encaixou, pareceu certo. Certamente uma experiência muito diferente do que fazer vozes numa pequena cabine de estúdio.

M.I. - Jaime Gomez Arellano... por que o escolheram para misturar o álbum?
Como já disse anteriormente: ele é o melhor! Tem habilidade, compreensão sobre o conceito da música e respeita os desejos dos artistas. É amante do som analógico - tudo é misturado em fita, como costumavam fazer no passado. Nenhuma porcaria de plástico.

M.I. - Em 25 de Maio, uma semana antes do lançamento, o álbum foi passado na íntegra no Kniven, em Oslo. É comum fazer esse tipo de "festa" para novos álbuns? Qual é o objectivo principal? Melhorar as vendas?
Não faço ideia! Eu nem estava lá!

MI. - Na página dos The Konsortium no Facebook, no dia 14 de Março, foi postado o título do novo álbum junto com a capa e muitas hashtags. Porquê pôr tantas hashtags: #thekonsortium #rogaland #blackmetal#thrashmetal #deathmetal #mayhem #orcustus#satyricon #ulver #enslaved #nidingr #auranoir#bathory #agoniarecords #dødheimsgard #teloch#dirgerep?
Mais uma vez, tenho que responder que não faço ideia! Isso não é postado por nós, mas pela editora. O meu palpite é que eles querem que a mensagem seja espalhada o máximo possível. Tanto quanto eu posso ver, a maioria, senão todas, as palavras estão relacionadas aos membros de uma forma ou de outra. Bathory? Talvez porque os fãs dos Bathory possam gostar do álbum?

M.I. - A banda não tem medo de experimentar e isso é mais bem aceite agora... os The Konsortium teriam "sobrevivido" há 30 anos atrás, quando a cena era muito fechada?
Eu acho que é um mal entendido. O Black Metal é sobre quebrar limites desde o início - é por isso que as bandas dantes soavam tão diferentes e interessantes, ao contrário de hoje em dia, em que há apenas clones intermináveis em todos os lugares. Por isso, a resposta é sim.

M.I. - Os membros da banda estão envolvidos em grandes projectos musicais... actualmente dedicam-se apenas aos The Konsortium ou tocam em outras bandas também?
Eu estive envolvido em vários projectos ao longo dos anos, em alguns até gravei álbuns, noutros não. Hoje em dia, só estou nos The Konsortium. Não porque não goste de fazer música, mas porque simplesmente não tenho tempo suficiente. Eu sei que o Benjamin e o Tommy têm coisas realmente boas a acontecer, para além dos The Konsortium. O Dirge Rep também tem os Orcustus e o Teloch... tem mais do que suficiente!

M.I. - Como músico há muitos anos, qual é a lição principal que aprendeste sobre a indústria da música até agora? Essas lições foram úteis em algum momento?
Não, acho que não tenho lições boas ou úteis para dar. Eu não gosto muito de música pelo dinheiro e já há mais de 10 anos que não a considero uma carreira. Quando era mais jovem com certeza, mas agora não. A maneira como as pessoas compram e consomem música hoje em dia... tem que se fazer música de sucesso cínica, calculada e formulada, ou passar a vida em tournée, aí uns 300 dias por ano, e mesmo assim só para te ires safando. Eu gosto de tocar ao vivo, mas não estou interessado em depender apenas disso. A não ser que queiras viver o cliché do "artista faminto", deves ter um plano de apoio ao qual podes recorrer. Por isso, jovens, estudem para conseguirem um bom trabalho!

M.I. - Nos primeiros concertos ao vivo, os membros da banda estavam mascarados. Agora já não as usam. Por que decidiram revelar as vossas identidades agora?
Nós não nos importamos com as máscaras, mas para simplificar: superamos as máscaras. Não parecia certo para este álbum, já que é um lançamento tão... honesto. Este é o álbum que nos representa, isto é quem nós somos e não adianta escondê-lo atrás de máscaras. Além disso, já há demasiadas bandas mascaradas, não achas?

M.I. - Agora que "Rogaland" já viu a luz do dia... os The Konsortium vão tocar ao vivo em festivais neste verão ou em tournée?
SIM. Estamos definitivamente interessados em tocar. Concertos em clubes, festivais, tournées - nós estamos prontos! Como referi anteriormente, a maioria de nós tem trabalhos diários além da música, mas todos já resolvemos isso e fizemos acordos com as nossas famílias e patrões. Se a oportunidade surgir, estamos prontos. Os últimos meses foram passados a ensaiar o novo material, a banda está coesa, toda animada e ansiosa para tocar. Prestem atenção, promotores!

M.I. - Estar tão ligado à Natureza... estás preocupado com o futuro do Planeta Terra e o que a humanidade lhe está a fazer? Tens feito algo para ajudar o nosso planeta? Para melhorar o nosso meio ambiente? Pensas sobre isso?
Sim, estou. Não sou niilista e, embora a humanidade seja o que é, não adianta apenas desistir e deixar para morrer. Isso é fraqueza total. Sou membro da Associação de Conservação da Natureza da Noruega e tento fazer a minha pequena parte. Neste momento, por exemplo, estou no Mar do Norte, onde passei as últimas duas semanas. Nesta primavera, os voluntários limparam 13,5 toneladas de plástico das praias e do oceano nesta área, e eu participei. Eu ensino os meus próprios filhos a deixar o menor rasto possível na natureza, e tento ensiná-los a viver da terra de maneira equilibrada. Eles sabem que carne é algo que não é cultivada no supermercado, e sabem como cortar um peixe e fazer uma fogueira. Uma parte importante do que faço no meu dia-a-dia é também fazer com que os jovens interajam com a natureza, interessando-se por actividades ao ar livre, na caça e pesca, e também conversando com eles, fazendo com que entendam a sua parte neste vasto ciclo de vida e morte no planeta Terra. Dito isto: há enormes desafios pela frente. Incomoda-me que não se fale do que cada um de nós pode fazer, isto não está a ser tratado correctamente, porque ninguém se atreve a falar sobre isso: a sobrepopulação é a maior ameaça deste planeta e da humanidade. Líderes políticos e especialmente religiosos são... bem, f*da-se, eu poderia passar o resto do dia a falar sobre isto. É melhor não dizer mais nada. De qualquer forma, como o grande Sir Richard Attenborough diz: "Nós somos uma praga na Terra. Não é apenas a mudança climática; é espaço puro, lugares para cultivar alimentos para esta enorme horda."

M.I. - Muito obrigado pela entrevista. Espero vê-los a tocar aqui em Portugal. Deixa algumas palavras aos nossos leitores!
Obrigado, Sónia. Estaríamos mais do que dispostos a ir a Portugal para alguns concertos. Óptimas pessoas, boa comida, óptima cultura - o que há para não gostar? Espalhem a palavra e esperamos ver-vos por aí.

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Entrevista por Sónia Fonseca