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Reportagem: Lenny Kravitz e MF Robots @ Altice Arena, Lisboa – 01/07/2018


Lenny Kravitz é um daqueles artistas difíceis de rotular, mas por bons motivos. Ao rock, juntam-se umas pitadas muito próprias de funk e soul, e aqui temos uma receita para largos anos de sucesso. A “Raise Vibration Tour”, a propósito do novo álbum do artista, a lançar em Setembro, está a ser apresentada na Europa. O nosso país foi contemplado com uma data, no Altice Arena, em Lisboa. 

A primeira parte da noite esteve a cargo dos MF Robots, que vêm de Inglaterra. O duo é composto pelo baterista e compositor Jan Kincaid (fundador dos The Brand New Heavies) e pela vocalista Dawn Joseph (conhecida por “Heavy”), que já esteve em tour com músicos como Rod Stewart, Phil Collins, Michael Bublé, Craig David, entre outros. Apesar de ser um duo, o palco esteve bastante concorrido (à semelhança da atuação de Lenny). Trouxeram consigo o álbum de estreia “Music for Robots”, lançado no passado mês de Maio (será que até os robots querem conquistar com a sua presença simpática e acolhedora?). Entraram em palco com “Show Me the Love” e, a partir daí, foram 45 minutos de boa disposição e muito swing. Aqui, a mistura é diferente de Lenny: retirem o rock, mantenham o soul e funk e acrescentem jazz. A vocalista avisou logo que adora falar, mas, sendo escasso o tempo para tocar, a prioridade ia para este último. Apesar disso, não deixou de interagir com o público (“I wish I could get closer, you’re too far away!”), que se mostrou agradado com a presença do duo. Um início de noite animado, com muita dança a acompanhar. 

Quando se está na expectativa para ver um artista, o intervalo entre a banda de abertura e o início do concerto parece uma eternidade. E quando finalmente começa, imaginem ouvir a voz do artista, mas sem o corpo presente. Estranho?  A atuação iniciou com “Fly Away”, com um Lenny que talvez estivesse com vontade de voar; o público olhava atentamente para o palco, à procura da estrela da noite, a não querer perder um passo que fosse dos seus movimentos. Lenny estava um patamar acima do palco e desceu no fim do tema, ganhando vários aplausos. Seguiram-se “Dig In” e “Bring It On”, e a plateia já não sabia o que era estar parada. A energia de Lenny é verdadeiramente contagiante. Ainda sem dirigir grandes palavras ao público, apresenta-nos o clássico “American Woman” (que, embora seja uma cover dos “The Guess Who”, parece ter sido composta pelo/para o músico). As versões ao vivo ganham uma cor diferente, especialmente tendo em vista os músicos que acompanham Lenny em tour. Seguiu-se um excerto de “Get up Stand up”, cover de Bob Marley & The Wailers, que brilhou com a presença do saxofone.

Lenny faz uma pausa para acarinhar o público. Não há outra forma de dizer isto – quando o músico fala com os fãs, parece estar a falar com a sua família. O músico percorre o palco de uma ponta a outra, quase que saltitando, cumprimentando os fãs na bancada e na plateia, visivelmente satisfeito. Lenny comenta que é muito bom estar de volta ao nosso país, que está muito feliz por ver todas aquelas pessoas, e que é tempo de “gerar amor”, algo de que precisamos mais do que nunca, refere. O público concorda com as suas palavras, aplaudindo fervorosamente. E o certo é que, até terminar a noite, nada mais foi sentido e demonstrado do que amor recíproco entre os fãs e Lenny.

Apesar de o novo álbum “Raise Vibration” ser lançado apenas daqui a dois meses, Lenny “pediu autorização” para tocar dois dos seus novos temas, antes de prosseguir com os clássicos. Assim, “It’s Enough” e “Low” foram tocados pela primeira vez em Portugal e, a julgar pela receção do público, este registo será mais um sucesso na carreira do músico. Terminou, tirando os óculos escuros que já fazem parte da sua imagem de marca, e disse “I love you. Feeling alright?...I’m feeling it too”. 

Seguiram-se “It Ain’t Over Til’ It’s Over” e “Can’t Get You Off My Mind”, que colocaram o público a cantar. Em “Believe”, Lenny pede para ver mãos no ar, pedido acedido num ápice; “I Belong To You” terminou com o músico a olhar e apontar para o céu. Depois deste momento mais emotivo, Lenny procede a apresentar toda a equipa que ajuda a tornar este espetáculo memorável: duas pessoas no saxofone, uma no trompete, e ainda um baterista, teclista, guitarrista e baixista. Tudo pensado para que os temas ganhassem vida própria, quando interpretados ao vivo. Também é de destacar que a voz de Lenny tem um poder e alcance incríveis, mesmo após 30 anos de carreira. Sim, 30 anos. O tempo passa, mas não por ele. 

Ouviram-se “Always on the Run” e “Where Are We Runnin’?” e uma energia de ambos os lados, público e banda, que parecia inesgotável. “The Chamber” foi um dos temas mais fortes da noite e na qual o trompete se destacou mais. Algo diferente da versão em estúdio, mas que resultou na perfeição. Antes do encore, é a vez de “Again”. Lenny termina limpando o rosto a uma toalha e, ouvindo os fãs na primeira fila, atira-a para os fãs. 

Mal o público sabia o que Lenny ainda tinha preparado. O encore iniciou com “Let Love Rule”; Lenny decide sair do palco, desce até à primeira fila, cumprimentando e abraçando os fãs. Não estando ainda satisfeito, vai dar uma volta no meio da plateia, sempre com segurança a acompanhar (com tantos fãs ávidos por um toque ou um abraço do músico, mais vale prevenir!). Mais uns quantos abraços e o tema termina com o público inteiro de braços no ar. Um grande momento de cumplicidade. 

A atuação termina com a obrigatória “Are You Gonna Go My Way”, para esgotar os últimos cartuchos de energia. Lenny pede para saltarem e é isso mesmo que acontece. “Thank you. Obrigado!”, e várias vénias. Foi assim que Lenny se despediu da sua “família” da música. Até breve!


Texto por Sara Delgado
Agradecimentos: Everything Is New