About Me

Reportagem: Casainhos Fest 2018 @ Campo das Vinhas do Sporting Clube de Casainhos - 01/09/2018


De há sete anos a esta parte, o primeiro fim de semana de setembro é sinónimo de romaria à pequena localidade de Casainhos por parte de quem gosta de metal, punk e hardcore. Desde 2012 que o Campo das Vinhas do Sporting Clube de Casainhos é palco do Casainhos Fest, organizada pelo Tiago Fresco e a sua Casainhos Project Associação.
Para esta sétima edição, que decorreu no passado dia 1 de Setembro, a romaria ultrapassou todos os recordes, juntando no recinto mais de um milhar de espectadores, vindos de todos os cantos do país.

Debaixo de um sol tórrido e com uma plateia que se abrigava no espaço coberto do bar, às 15 em ponto, entraram em palco os Takeback. Oriundos de Aveiro/São João da Madeira, a banda de hardcore foi a vencedora do terceiro Concurso de Bandas Casainhos, cabendo a esta a honra de abrir o festival. Foram 30 minutos de prestação que se iniciou ao som de "Take Back", e que até ao final com "No Time To Waste" demonstrou que há futuro para o género fora de Lisboa e Porto. 
Destaque para a faixa "Unbreakable", dedicada ao vocalista dos lisboetas Steel Your Crown, que atravessa complicada fase na sua saúde.

Já com mais corajosos na frente do palco, entraram em cena os ContraSenso, que aproveitaram a oportunidade para mostrar o álbum homónimo. 
Mostrando que o punk rock cantado em português está bom e recomenda-se, Daniel Hipólito e companhia deram show com temas como "Reviravolta", "Crescer de Novo" ou "Sem Desculpas", fechando a meia hora de actuação com "Além do Tempo", arrancando já algum mosh e muitas palmas.


Com a sol ainda a teimar em aquecer o recinto, deixando o palco de madeira e ferro num autêntico "braseiro", o movimento em frente ao palco aumentou de tom com a chegada dos Infraktor. A banda de thrash de Santa Maria da Feira tem sido referenciada como "next best thing" e o facto de terem assinado pela Rastilho Records atesta essa qualidade. Hugo Silva agarrou o público presente desde a primeira música, "Blood of the Weak", e não mais os largou. 
Ao longo de 40 minutos a poeira levantada nos circle pits teimou em não assentar, com destaque na faixa "Exhaust", o título do recente disco da banda, "Confront" e o final com "Ferocious", a terminar com o vocalista a oferecer uma merecida rodada de shots de Jack Daniels às três dezenas de resistentes da plateia.

Ausentes dos palcos por estarem a gravar o novo disco de originais, os lisboetas Artigo 21 iniciaram a atividade de stage diving este ano, com dois ou três fans mais afoitos a visitar o palco. No alinhamento figuravam já temas novos, que a banda de Tiago Cardoso trouxe a Casainhos para rodar ao vivo, e que foram bem recebidos pelas centenas de pessoas que iam entretanto chegando ao recinto. Abrindo com "Contradição", a banda teve ainda oportunidade de agradecer ao João "Puinker" da Infected Records todo o apoio e a aposta que tem feito na banda, convidando-o a cantar ao lado de Cardoso "Mudança". "Espera por Mim" e "Ódio não é Amor" fecharam um set coeso, a deixar água na boca para um novo álbum que chegará no início de 2019.


Rápida mudança de instrumentos em palco e é tempo de ver Backflip, banda que tem sempre excelente presença seja qual seja o tamanho do recinto. 
Ainda não tinham tocado um acorde e já apelavam à presença do público perto do palco, o que provocou imediatamente reacção da plateia, muito dinâmica durante toda a actuação. A banda escolheu o Casainhos Fest para deixar em suspenso uma década de carreira, estando agora cada membro envolvido em outros afazeres. Uma prestação cinco estrelas da banda liderada pela Inês Oliveira, incansável na dinamização do espectáculo, e onde foram tocados muitos dos temas emblemáticos da banda, com especial destaque para "To the Bone" e "Burning High".

Com o sol já a desaparecer no horizonte e uma temperatura mais aceitável, a plateia começa a engrossar na expectativa de receber os Viralata. 
Poucas bandas de punk nacional têm uma falange de apoio tão aguerrida e vocal, quase sendo desnecessário ao vocalista Ulisses cantar os êxitos do quarteto de Lisboa. E eles não faltaram, em Casainhos! De "Zé Ninguém" a "És Linda", de "Estrelas Decadentes" a "Estamos Juntos", foi um desfiar de grandes temas tocados com enorme mestria e com inúmeros circle pits e stage diving à mistura a ajudar.

A noite entretanto caiu e com ela a entrada em palco dos Rasgo. Apesar de serem uma banda com pouco mais de um ano de vida, a qualidade e pergaminho dos seus executantes mais que justifica a sua posição no cartaz. O álbum "Ecos da Selva Urbana" foi a revelação de 2017 e o thrash metal cantado em português está na playlist da maioria de quem marcava presença no local. O arranque com "Propaganda Suicida" mostrou logo a intenção da banda em explodir com o recinto e esgotar toda a réstia de energia que houvesse no público. "Homens ao Mar" trouxe realmente a tempestade prometida, com o pó do recinto a elevar-se bem no ar e toda a plateia a berrar o refrão "Puxa!". Há muito que os Rasgo revelaram o seu segredo, um quinteto coeso liderado pela voz cavernosa e presença intimidante do Paulo Gonçalves, a batalha de riffs e velocidade do Ruka e Sarrufo, e a entreajuda e criação de base rítmica do Filipe Sousa e do Ricardo Rações, que faz deles uma baforada de ar fresco no metal nacional. A terminar, a versão de "Cão da Morte", original dos Mão Morta de Adolfo Luxúria Canibal, ecoou no recinto como uma bomba, fazendo tarefa difícil de quem ainda tinha de actuar nessa noite. Memorável!

O hardcore regressou ao palco com os setubalenses Hills Have Eyes, banda que tem marcado presença assídua no festival. Da actuação destacaram-se "The Bringer of Rain" e "Never Quit", dedicado a quem acredita que os seus sonhos são possíveis de realizar.

Vindos do Porto, os Heavenwood eram dos nomes que mais expectativa gerava na plateia. Com duas décadas de carreira, os portuenses traziam a Casainhos "The Tarot of the Bohemians", o último disco de originais, e eram muitos os que esperavam para ver um dos maiores expoentes do doom metal em Portugal. Miguel Inglês, dos Equaleft, foi novamente o vocalista de serviço, por indisponibilidade de datas de Ernesto Guerra, e a banda teve um início de concerto muito difícil, com problemas de som variados, inclusive na transmissão de som para a mesa do baixo de André Matos, que impossibilitou a sua participação nas primeiras músicas. De referir o enorme profissionalismo da banda, que decidiu não parar a sua actuação enquanto os problemas iam sendo resolvidos. Infelizmente era tarde para salvar temas como "The Empress" ou "The Juggler". O som melhorou e muito a tempo de ouvir na perfeição "Suicide Letters" ou "Frithiof’s Saga", mas já estávamos na recta final da sua prestação, e ficou algm amargode boca por não ter sido 100% perfeito.

Os problemas que os Heavenwood tiveram acabaram por não ser, nem de perto nem de longe, inferiores aos que tiveram a banda seguinte do cartaz, os Bizarra Locomotiva. Uma hora de intervalo entre as duas bandas, com nítida azáfama dos técnicos de palco mas sem nenhuma informação ao público fez resfriar os ânimos, e foi visível a debandada de muitos dos presentes. Sem dúvida que quem ficou foi brindado com uma enorme actuação da banda! Após um pedido de desculpas pelo atraso, devido a uma falha irreparável da mesa de som e sua obrigatória substituição, Rui Sidónio e os restantes Bizarra entram em palco para arrasar sem piedade as centenas de resistentes. "Grifos de Deus", "Mortuário" ou "Ego Descentralizado" foram apenas as melhores das melhores, num set que possibilitou Sidónio de se misturar no público um punhado de vezes. Um concerto único, como já nos habituaram, e que fechou ao som de "O Anjo Exilado" e "Escaravelho". 

Os atrasos na solução dos problemas técnicos impactaram, e de que maneira, na prestação dos cabeças de cartaz, os Ramp. 29 anos depois do arranque de carreira, a banda de Rui Duarte e Ricardo Mendonça "teima" em marcar presença no topo do heavy metal nacional, e isto apesar de já há algum tempo não ouvirmos coisas novas. As novidades vieram sob a forma de sangue novo na banda, com Apache Neto (Diabolical Mental State) no baixo e Pedro Mendes (WAKO) na guitarra.
Com um tempo de actuação reduzidíssimo para os desejos de banda e público, e sempre com a perspectiva do som poder ser cortado a meio da actuação, a banda foi brindando o público com temas como "In Sane" ou "So You Say", antes de arrancar para uma muito sentida rendição de "Alone", com Rui Duarte a comentar que responde sempre "Porque não?" quando lhe perguntam porque razão fazem baladas. "Hallellujah" foi cantado a plenos pulmões pela plateia, apesar de já ter passado muito da uma da manhã prevista para encerramento. Ainda houve tempo para "Blind Enchantment" e muitas farpas do vocalista de Ramp para o facto de serem os únicos com alinhamento reduzido num festival onde não foram eles os culpados pelos atrasos.

A noite já ia bem alta quando se fechou o pano em mais uma edição do Casainhos Fest, uma edição marcante pelo recorde batido em presença de público, mas que também fica marcado por alguma falta de antecipação para a enchente ocorrida, com comida e bebida a escassear para quem ficou até ao final.

Para a organização vai um enorme obrigado pela maneira como estruturou o evento, com sonoridades ao gosto de todos e das mais diferentes tribos do metal, e pelo profissionalismo e simpatia com que foi recebendo todos. Até 2019!!!


Texto por Vasco Rodrigues
Fotografias por Igor Ferreira
Agradecimentos: Casainhos Fest