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Reportagem Michale Graves, Decreto 77, Patrulha do Purgatório @ RCA Club 10Fev2019


A última vez que tivemos Michale Graves pelo nosso país, o norte-americano era o vocalista convidado de Marky Ramone num concerto épico na antiga sala do Santiago Alquimista em 2011. O próprio fez questão de o recordar no passado dia 10 de Fevereiro, quando a digressão europeia “Course of Empire”, que faz em nome próprio, chegou à sala lisboeta do RCA Club pela mão da Hell Xis.


Antes do prato principal da noite teríamos ainda duas bandas nacionais, e foi com pontualidade britânica que os Patrulha do Purgatório entraram em palco. A banda que reúne Miguel Newton dos Mata-Ratos a Hugo Conim dos Clockwork Boys tem disco novo, “Fuzileiros do Niilismo” e arrancou com “A Patrulha é a Salvação”, que também abre o segundo disco da Patrulha. Ao contrário do disco de estreia, “Pede a Deus Que Te Mate e Ao Diabo Que Te Leve”, onde a banda foi ao fundo do baú do punk nacional rapar alguns temas de bandas míticas, este novo disco mostra a capacidade lírica corrosiva e ao mesmo tempo trágico-cómica de Newton e companhia. Mas é com “Enterrado na Loucura” que se começam a movimentar alguns espectadores, ainda que de forma algo tímida. Apesar de inúmeros apelos para verificar da presença na sala do “primo favorito” do Hugo, o que é facto é que não se vislumbrou nenhum candidato, pelo que a banda continuou a desfilar os seus temas punk, com destaque para “Li no Correio da Manhã” ou “Lisboa a Arder”, que segundo Conim “é sempre muito bem recebido no Porto e não tanto em Lisboa, mas como algarvio não quero saber”. “Viking do Panque” e “Egas Moniz”, do novo álbum editado pela Hell Xis Records encerrou a curta prestação dos Patrulha e preparou o espaço para a chegada dos Decreto 77.


Liderados por João Punker, um dos responsáveis pela Infected Records e grande dinamizador da promoção do underground nacional, os Decreto 77 estão a ter um renascimento enquanto banda nos últimos dois anos. Basicamente um grupo de amigos que se junta para tocar punk rock, começam agora a estar realmente no roteiro dos concertos um pouco por todo o país. Duas mãos de temas, tocados depressa e bem fizeram mexer a sala do RCA, que entretanto apresentava números mais interessantes. Destaque para “Punk Rock Elite”, “Yeah Right” e o final com o incontornável “Big Bucks”, num alinhamento que já é reconhecido e permite ajuda da plateia nos coros. Desejoso de ver Michale Graves, Punker não deixou de agradecer ao Emanuel Silva e à Hell Xis pelo convite e pela carolice em fazer estas celebrações acontecerem.


Encarnando a personagem do Espantalho, Michale Graves subiu ao palco do RCA perante uma plateia disposta a fazer a festa e celebrar não só a carreira a solo no norte-americano mas, talvez até mais especificamente, ver para crer em Lisboa que temas dos Misfits o antigo vocalista iria trazer até nós, ele que participou nos discos icónicos “American Psycho” de 1997 e “Famous Monsters” de 1999. O arranque foi ao som de “Bedlam” do disco com o mesmo nome de 2016 mas foi ao segundo tema, “American Psycho”, que a festa imediatamente começou.


Com uma actuação que percorreu toda a sua discografia, pincelada por temas clássicos dos Misfits, Graves deu o litro em cima de palco durante mais de 90 minutos de concerto. Tivemos “Pumpkin Head”, “Crimson Ghost”, “The Shinning”, “Helena”, e fabulosas interpretações de “Scream”, “Crawling Eye” e “Dig Up Her Bones” no encore final, pelo que quem envergava t-shirts da banda fundada por Glenn Danzig mostrava bem o sorriso estampado no rosto. Para quem vê mais além do que a passagem de Graves pelos Misfits, “Beware”, “Earth vs Spyder” ou “Crawling Eye” encheram as medidas, não se tendo repetido a interpretação acústica dos seus temas a solo como tinha acontecido em 2011.


Graves interagiu qb com o público mas agradeceu do fundo do coração quem saiu de casa para um concerto num domingo à noite, véspera de dia de trabalho. No final, toda a banda apareceu na banca de merchandise para fotos, algo que foi bastante apreciado pelos fãs, que esgotaram t-shirts e fotos.

Texto e fotos: Vasco Rodrigues