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Reportagem: The Sound of Revolution Effenaar 2019 @ Eindhoven - 08 Junho 2019


Depois de ter marcado presença na edição de Novembro do ano passado, a Metal Imperium regressou a Eindhoven para testemunhar a estreia da versão outdoor do festival The Sound of Revolution. E se de outdoor o evento não teve nada, devido às obras que a área circundante ao Klokgebouw está a receber, o facto é que os aguaceiros que caíram sobre a cidade holandesa no passado dia 8 de Junho, fez com que todos agradecessem à organização a mudança para a sala do Effenaar.



Pontualmente às 16h30, as portas abriram e uma pequena multidão que já aguardava escondida da chuva fez entrada rápida na sala, dirigindo-se para o bengaleiro ou zona de cacifos para largar malas e casacos molhados. Dividido por dois pisos, o Effenaar dispõe de dois palcos distintos, o secundário no piso térreo, para não mais de três centenas de pessoas, e o principal no primeiro andar, com capacidade para um milhar e meio. E foi exactamente no palco grande que se iniciou o The Sound of Revolution Effenaar 2019, com os Grove Street Families a subir ao palco perante cerca de três centenas de espectadores. Sem se intimidarem, o jovem colectivo de Southampton, que roubou o seu nome ao videojogo Grand Theft Auto, debitou as faixas da mão cheia de EPs que editaram desde 2013, com destaque para “Rest in Power”, excelente malha ao estilo dos Hatebreed.



Descida rápida ao palco secundário para asistir ao concerto dos The Young Ones, grupo de oi punk de Maastricht, e que tocou perante uma plateia já bastante razoável. Arrancando com “Johnny Wanker”, do EP de 2017 “Our Nose in their Business”, a banda foi animando as hostes com canções sobre a classe operária, futebol e bebida, bem ao estilo oi. Alternando entre os dois discos de originais, “No Bollocks Just Oi” e “Out with the Bois”, ambos editados em 2006, mantiveram a sala bem entretida, especialemnte com as favoritas do público “Football Violence” e “Live for the Weekend” e “Forever Young”.



Os Violation of Trust foram a banda que se seguiu no palco principal e jogando em casa tinham muitos amigos na plateia para fazer a festa com eles. Marco Swaan esteve sempre muito comunicativo, mas infelizmente sempre em flamengo, impossível para este escriba de decifrar. A actuação arrancou com a dupla que abre o EP “Rhymes of Redemption” (1998) – “Time Will Tell” e “Freak Song” -, disco que a par do LP “Wiseguys” (1997), monopolizou o alinhamento. Destaque para uma excelente prestação de “Sex & Violence” e “The Boys Are Back”, e da despedida com o clássico dos 7 Seconds, “Young Till I Die”.


De Roterdão para o palco secundário vieram os Hawser, que aproveitaram para rodar os temas do seu LP de 2017 “Tough Love”. A jovem banda instalou a confusão na plateia logo aos primeiros acordes do tema título do disco e assim continuou ao longo da dezena de músicas apresentadas, ora vocalizadas por Stijn ora por diversos membros do público a quem ia passando o microfone. Destaque para “Hell Bent” ou “Coup de Grace”, ambos de “Tough Love”, e o fechar do pano com “Hand You’ve Been Dealt”, do LP “Young and Restless” de 2014.



Icepick e Malevolence iniciaram a sua prestação ao mesmo tempo, respectivamente no palco secundário e no principal. Com o piso de cima muito bem composto, os britânicos deram uma actuação explosiva, sendo visível muita gente com t-shirts da banda vestidas. A banda tem apenas 8 anos de existência mas cimentou já o seu lugar entre a elite do hardcore, tendo passado por Portugal para uma excelente e tumultuosa actuação no Moita Metal Fest do ano passado.  O alinhamento do quinteto de Sheffield baseou-se no disco de 2017, “Self Supremacy”, com as favoritas da plateia a serem “Trial by Fire” ou “Spineless”, mas as “velhinhas”, se é que podemos chamar isso ao disco de estreia “Reign of Suffering” de 2013, “Condemned to Misery” e “In the Face of Death” mexeram muito mais com o público, que deu muito slam na frente de palco e muitas vezes quase arrancou o microfone das mãos de Alex Taylor, na ânsia de participar. Excelente performance, a melhor até então no Effenaar.



Com o palco principal a encher, os Icepick tiveram meia sala para os ver, facto a que não é alheio o hiato que tinham colocado na sua careira desde 2010. A compôr novas músicas para um futuro disco, os holandeses arrancaram com  “Fellow Man”, que abria o LP de 2005 “Goldrush”, e de onde sairiam as melhores da noite, como “Running Wild” ou “Dreamcrusher”. Para o final, “Quicksand” fez a sala cada vez mais cheia vibrar, mas percebeu-se que a súbita enchente era para ver os senhores que se seguiam, Ryker’s.



Com a saída de palco dos Icepick sairam também os monitores na parte central do palco, mensagem inegável de que iriamos ter muito crowd surfing já a seguir. Com um pano gigante por detrás da bateria a mostrar a capa do novíssimo disco “The Beginning... Doesn’t Know The End”, era óbvio que a banda alemã estava ali para promover a rodela. E embora o arranque tenha sido disparado ao som de “Lowlife”, do excelente “Ground Zero” de 1996, rapidamente a banda de Kassel mostrou coisas novas, como “End of Line”, “Cold Lost Sick” ou “Dead End Street”. O crowd surfing estava tímido, até Dennis ter dado uma cambalhota no ar para aterrar sobre a plateia, iniciando logo ali a confusão. Os clássicos não podiam faltar, e assim tivemos “Lifeline”, "Brother Against Brother”, “Still” ou o final apoteótico com “First Blood”, com Dennis no meio do público. Mais uma performance para recordar, de uma banda muito acarinhada em Portugal.



Os britânicos Booze & Glory eram um dos nomes mais aguardados pelo público presente – o merchandising da banda esgotou muito rapidamente -, e a sua entrada em palco foi recebida efusivamente por uma sala principal quase cheia. Os londrinos vão ter disco novo em Setembro e mostraram já algumas novidades no alinhamento, sem obviamente descurar os quatro álbums editados desde que se formaram em 2009. 10 anos de história Oi!, num som que mistura Dropkick Murphys com Rancid, hinos à cerveja e ao West Ham United, tudo junto num espectáculo em palco que deve muito à presença do espampanante Chema Zurita no baixo, um espectáculo dentro do espectáculo. As novas “Too Soon” e “Live it Up” mostram a banda a caminhar na continuidade do excelente street punk que nos habituou, e ver dois milhares de almas a cantar “Carry On” ou “London Skinhead Crew” deve de certeza arrepiar a pele de Mark RSK, vocalista/guitarrista e fundador dos Booze & Glory.




A presença dos Carnivore AD no alinhamento do festival levantou alguns sobrolhos, especialmente por serem claramente o nome destoante, no que toca a estilo musical. A banda de crossover thrash formada pelo malogrado Pete Steele continua a gravar e tocar ao vivo, movidos pelo baterista fundador Louie Beato e o guitarrista Marc Piovanetti, a quem se juntou o baixista/vocalista Baron Misuraca. No Effenaar, a banda focou a sua atenção nos dois discos escritos por Steele na segunda metade da década de 80, “Carnivore” e “Retaliation”, com temas como “Predator”, “Zero Tolerance”, “Jesus Hitler” ou “Sex & Violence” a relembrar o gigante desaparecido a 14 de Abril de 2010.




Um concerto dos Dog Eat Dog é um apelo constante à festa, e desta feita não foi diferente. A banda de New Jersey mistura como poucas o ska, punk e hardcore e John Connor é o perfeito Master of Cerimonies, nunca deixando a plateia sossegada nem por um segundo. A incorporação do saxofone dá aquele toque extra e os sorrisos estampados nos rostos de toda a banda mostra bem que é divertido ser dos Dog Eat Dog. “Who’s The King” obviamente foi o ponto mais alto de uma excelente actuação, onde tivemos “No Fronts”, “Pull My Finger” ou “If These Are Good Times”, mas também as novas faixas do EP “Brand New Breed”, como “Vibe Cartel” ou “Lumpy Dog”. A plateia saltou, dançou e cantou cada palavra que os Dog Eat Dog disseram, e no final os corpos suados estavam em maioria na sala principal do Effenaar. Excelente!!



Os The Cockney Rejects são uma instituição do street punk. E a sala secundária foi pequena para quem quis ver ao vivo a banda que os irmãos Jeff e Mick formaram no distante ano de 1978, e cuja faixa “Oi Oi Oi” daria nome a um movimento que hoje ainda perdura.  Stinky Turner passou o concerto todo a demonstrar os seus dotes de boxeur, ele que chegou a competir a nível nacional no Reino Unido, enquanto mostrava o seu amor pela cerveja, estilo de vida Oi, futebol e o West Ham United. A plateia, maioritariamente composta por skinheads, vibrou do início com “War on the Terraces” até ao final com “Forever Blowing Bubbles” e “Oi Oi Oi”, movimentando e muito a sala, especialmente durante clássicos como “We Are The Firm”, “Power and the Glory” ou “Bad Man”.


Na edição do ano passado do The Sound of Revolution, os Gorilla Biscuits tiveram de cancelar a sua presença por problemas com o tráfego aéreo entre os Estados Unidos e o Velho Continente, sendo o seu lugar de encerramento do festival ocupado pelos Comeback Kid. Na altura, e por já se encontrar na Holanda à espera dos seus companheiros, Walter Schreifels acabou por ir a palco e com os canadenses fazerem a versão de “New Direction”.




Desta feita o quinteto estava todo no palco principal do Effenaar, e mal soaram as trombetas do intro de “New Direction”, o Effenaar explodiu de testosterona. Corpos a saltar por todo o lado, gigantescos mosh pits, a alegria de ver em palco uma das mais veneradas bandas do NYHC. O alinhamento que Anthony “Civ” Civarelli, Schreifels e companhia trouxeram até Eindhoven foi de ir às lágrimas, com todo e mais algum clássico dos nova-iorquinos, que apenas gravaram dois discos, “Gorilla Biscuits” (1988) e “Start Today” (1989). Esteve lá “Stand Still”, “Degradation”, “Good Intentions”, “Hold Your Ground”... Uma hora e pouco de concerto que passou como um flash, até Civ anunciar que são uma banda de hardcore por isso não há tretas de encores, acaba já no final da próxima, e estala “Start Today”, a que faltava… E a sala foi ao rubro vezes mil… Que show e que maneira de encerrar a primeira edição do The Sound of Revolution versão de Verão!!!




Falta apenas referir que em Novembro o The Sound of Revolution regressa ao Klokgebouw para a sua edição “normal”, com o atrativo de nomes como Bouncing Souls, GBH, Shelter e Youth of Today... Lá estaremos para contar como foi!!!

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos Janis Van Lokven (https://thesoundofrevolution.nl/)