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Blosse - “Nocturne” Review


A música tem a capacidade fantástica de nos pintar imagens, paisagens, cenários. Cada trecho musical, cada passagem que nos embala, também nos transporta para locais e estados de espírito que, de outro modo, poderíamos não conseguir atingir. Esta é uma das grandes particularidades da música, daí nos sentirmos mais próximos de umas que outras… de estados de espírito e imagens mentais de locais de paz e calma, espaços de descanso e satisfação.

De vez em quando surgem criações musicais que conseguem, com facilidade, o supracitado. Soberbo, arrisco dizer. É isso que devemos procurar na música: o desfasamento momentâneo da realidade que nos rodeia, o abstrair totalmente do betão e do alcatrão que nos encerra, como replicantes, nesta sociedade.

O Canadá e as suas gélidas paisagens de montanha, o ar frígido e a beleza da neve virgem… o áspero toque do gelo e as brisas congelantes. Isto tudo, presente em duas peças musicais de extrema qualidade. O que dizer? Lentamente somos arrastados por entre pinhais, numa mortal corrida contra o inverno, que nos persegue e nos toca, suavemente, com as suas longas e funestas garras.

Foi através deste “Nocturne” que tomei contacto, pela primeira vez, com o projeto e com a mente por detrás do mesmo: Sr. Noctis (Alkymist, Calvaire, Maeskyyrn, Nachteule e Ombrage). Blosse não foge muito do que é o Black Metal no Canadá, o que não é de modo algum mau, atenção! Este é o 3.º álbum do projeto e que álbum!

Este som, lento e denso, conduz os ouvintes através de uma viagem, guiados pelos repetitivos riffs de guitarra, que embalam, hipnotizam e fustigam, os mesmos. As vocalizações são angustiantes até mais não e, em sintonia com a criação instrumental, transmitem-nos um sentimento de desespero e infortúnio, que em muito se representa naquilo que é a realidade humana, perante o fim. Esse fim está, inclusive, bem presente no artwork do álbum: as paisagens desoladoras e flageladas pela morte e pouca ventura do Homem. Gritos que nos chegam de longe, lamúrias que nos são assobiadas aos ouvidos, todo o álbum é uma ode ao fim da vida. A pintura que fica cravada na minha mente é a do fim…

Após a tempestade, deveria vir a bonança, mas tal nem sempre é real, e aquelas vocalizações das profundezas do nosso desgosto, arrancam a pele e tornam a arrojar-nos pela neve, pelo gelo, com ainda mais raiva e desdém!

É um trabalho robusto, maciço e audaz, no sentido em que pega em 2 temas e cria uma panóplia de sensações que nos guiam até um fim, já mais que debatido e retratado. Este 2.º tema mostra mais fúria e menos ambiência, uma bateria mais agressiva e um trabalho de guitarra mais próximo dos standards (se é que ainda há quem assim olhe para os mesmos) do que é o Black Metal.

Em jeito de conclusão: um trabalho dividido em 2 atos, em 2 momentos distintos de cólera, ira e ambiência.

Que a viagem seja dura e que as marcas permaneçam em vós, para todo o sempre.

Nota: 8/10


Review por Daniel Pinheiro