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Entrevista aos Dool


Um álbum muito misterioso, mas bonito, é lançado. Ryanne van Dorst, vocalista, conversou com a Metal Imperium. Uma conversa muito amigável, que fala sobre a capa, as músicas, as inspirações e muito mais. Era como se estivéssemos a conversar com um amigo. 

M.I. -  Olá. Muito obrigada por responderes às nossas perguntas. Poderias apresentar-te e à história da banda, por favor?

Somos um grupo de amigos e começamos a fazer música em 2016, porque queríamos fazer algo novo e fresco. Foi quando começamos os Dool e este é o nosso segundo álbum. Nós crescemos muito nos últimos dois, três anos enquanto banda. Acho que o nosso estilo musical é como Dark Rock music ou algo assim. Pode dar-se um nome, mas gostamos de tocar com equilíbrio entre a escuridão e a luz. É assim que eu nos apresentaria.


M.I. -  Este é vosso segundo lançamento, chama-se "Summerland" e foi lançado no 10 de abril. Porquê esse nome? Sei que vem do paganismo.

Sim! Sabes, “Summerland” é uma versão do céu, deparei-me com a palavra enquanto lia um livro de Richard Matheson: “What Dreams May Come”. Ele descreve "Summerland" no seu livro, e eu fiquei interessada. Procurei um pouco mais e “Summerland” é uma versão da vida após a morte ou do céu ou Valhalla, ou algo assim. Isso é criado por ti mesmo, pelas tuas próprias necessidades, os teus próprios desejos e o teu sentido de beleza. Não por uma igreja ou um deus, ou um livro, ou uma sociedade, ou qualquer outra coisa. Então, pensei que era interessante como uma pintura individual do céu, sabes? Tentamos criar isso com este álbum.


M.I. -  Quais foram alguns dos desafios em criar este álbum?

Não sei. Exige sempre muita energia, sangue, suor e lágrimas criar um álbum, escrever músicas, ensaiar. Tentar garantir que és a tua melhor versão possível. E desta vez não foi diferente. Quero dizer, foi um trabalho árduo. Mas sabes, é divertido e é um bom trabalho. Todo o mundo está realmente empolgado e acho que também podes ouvir isso no álbum. Eu acho que esse processo foi orgânico, animado, natural. Estamos num bom lugar como banda, mesmo agora. Todos nós amamos a banda e podes ouvir isso no álbum.


M.I. -  Vamos falar sobre o processo de gravação: foi gravado nos estúdios DAFT em Malmédy, Bélgica, e Studio Cobra em Estocolmo, Suécia, com Martin Ehrencrona (Tribulation, In Solitude). A mistura e masterização foram feitas pelo baterista dos Cult Of Luna, Magnus Lindberg, nos Redmount Studio Stockholm. Que ideias tiveste para as canções, as letras e músicas? Quais foram as tuas maiores inspirações? Como foi trabalhar com esses músicos?

Nós evoluímos muito como uma banda, porque já sabíamos como é o nosso som. Nós fizemos tantos concertos ao vivo nos últimos três anos, quando lançamos o álbum de estreia “Here Now, There Then”, em 2017, tocamos muitos concertos. Com o álbum de estreia, estávamos à procura do que queríamos fazer e, agora, com “Summerland, já sabíamos: “Ok, podemos fazer este tipo de som e este tipo de música, podemos contar uns com os outros, confiar uns nos outros!" Mas agora podemos mergulhar de cabeça, na experiência e ver o que mais podemos fazer. Tivemos um pouco mais de confiança e isso é algo que podes realmente ouvir nas músicas e no som. E a razão pela qual queríamos trabalhar com o Martin Ehrencrona, é que somos grandes fãs dos Tribulation e é um grande prazer. Ele tem uma boa vibração vintage, som vintage. E nós queríamos isso, principalmente para as guitarras e para a bateria. Mas queríamos uma mistura mais moderna do que a que ele costuma fazer. Nós pensamos que seria uma boa ideia pedir ao Magnus que fizesse a mistura, para que tivéssemos uma combinação do velho e do novo. E isso é algo muito significativo para os Dool. Tocamos com sons familiares, mas tentamos transformá-los em algo novo e acho que realmente se equilibra na produção também.


M.I. -  A capa do álbum mostra fumo rosa e uma pequena casa. De quem foi a ideia desta foto e ela representa alguma coisa?

(Risos) Quando decidimos que o nome do álbum seria “Summerland”, eu estava a pensar: “A quem devemos pedir para fazer a arte da capa?”. E pensei nas fotografias que a minha amiga, Nona Limmen, tira. Ela é uma artista muito talentosa, tira fotografias e cria todos os mundos diferentes com essas fotografias. De certa forma, o seu trabalho é muito onírico. Estava a pensar que realmente se encaixaria no nosso novo álbum. Então, perguntei-lhe e ela imediatamente disse: "Sim!". Falei-lhe sobre o tema e ela apareceu com esse fumo rosa e uma pequena casa (risos). É muito sonhador, é grande e pequeno, é atemporal e é a versão dela de "Summerland", na verdade. E combina muito bem com o álbum e as músicas.


M.I. -  Existe uma conexão e história entre as músicas? Se sim, poderias contar-nos, por favor?

Eu acho que a história das músicas, é que eu tento descrever como seria o céu para mim e tento desafiar o ouvinte para o que isso significa para ele. Tento compará-lo com experiências terrenas.


M.I. -  Com este álbum, vocês superaram-se. Foi esse o som que ambicionaste que a banda seguisse?

Eu acho que foi algo que aconteceu automática e organicamente, e nós estávamos a experimentar bastante e eu escrevi algumas músicas, levei-as para a sala de ensaios, toquei-as. Mesmo sem falar uma palavra, todos entenderam: “Oh! Nós podemos fazer isso, e nós podemos fazer aquilo!”. E é isso que eu quero dizer. Nós crescemos tanto como banda, nos últimos dois anos, ganhamos uma identidade; sabemos como confiar uns nos outros e o que esperar uns dos outros. Podemos dar espaço na música uns aos outros, para solo ou qualquer outra coisa. Nós somos com um organismo, enquanto banda. Acho que podes ouvir isso.


M.I. -  Isso mostra-nos claramente um som mais expansivo, mais variado em todas as frentes e mistura sons do Oriente Médio com metal, psicadélico e pós-rock. De que maneira o Médio Oriente teve impacto neste álbum?

Não sei. O nosso baixista, JB, tem alguns instrumentos do Oriente Médio e árabes em casa e nós só queríamos experimentar, se funcionariam no álbum, porque ele estava a tocar muito. Fiquei a imaginar se seria fixe usar isso e levar o ouvinte instantaneamente para uma atmosfera diferente, para algum tipo de halógeno de mundo dos sonhos, ou algo assim. Acho que realmente o conseguimos de certa maneira.


M.I. -  O romance de Richard Matheson, "What Dreams May Come", teve impacto neste álbum. Qual é o tema do romance e porque é que ele teve um impacto tão grande no álbum?

Acho que já te disse que todo o tema de “Summerland” saiu desse livro: “What Dreams May Come” e foi aí que comecei a procurar mais informações sobre o tema de “Summerland” e o seu conceito. É daí que vem a influência.


M.I. -  "Here Now, There Then" é o vosso primeiro álbum. Achas que evoluíram entre estes dois álbuns?

Sim! Muito! Quero dizer, tocamos em muitos concertos e arranjamos um novo baixista, depois de lançar o álbum, tivemos de crescer também. Nós fizemos isso como banda. Agora também temos um novo guitarrista, Omar, que faz parte da banda. Tantas coisas já mudaram nos últimos dois anos. Acho que todo o mundo está realmente a colocar os seus corações e mentes nos Dool. É realmente muito importante para todos nós. Acho que ficou ainda mais claro, quanto mais tocamos, mais ensaiamos, mais estamos juntos, mais importante se torna para todos. Todo o mundo realmente quer fazer algo com isso.


M.I. -  Vocês têm alguns convidados que trabalharam convosco: Per Wiberg (Opeth, Spiritual Beggars, Candlemass) no órgão Hammond, a vocalista Farida Lemouchi (The Devil's Blood) e Okoi Jones (Bölzer), que contribuiu com palavras faladas para 'The Well's Run Dry'. Como é que os escolheram, em termos de visão para este lançamento?

Porque é um som muito genérico. É a música mais comum do álbum. É como uma espécie de riff da velha escola. Queríamos criar algo especial com isso, gravar e colocar no álbum, pelo menos. Pensei que seria bom ter um solo de Hammond. Então, Martin, o produtor, concordou em ter alguém que pudesse tocar com o Hammond e disse: “Sim! Conheço o Per. Eu gravei com ele nos Opeth e Spiritual Beggars.” No dia seguinte, ele estava no estúdio, a criar esse incrível solo de Hammond. Foi muito fixe trabalhar com ele. E Farid é obviamente, uma amiga. Então, nós trabalhamos juntos algumas vezes nas gravações. É tipo de tradição que acabamos de fazer. O Okoi também é muito próximo da banda. Estávamos apenas à procura de alguém, com uma voz muito profunda, que pudesse fazer a voz de Deus. E ele queria fazer isso. 


M.I. -  "Sulphur & Starlight" saiu a 24 de janeiro. Porque é que vocês escolheram essa música para ser o primeiro single?

Porque parecia ser um novo ponto de partida para o álbum também. E também, pelo novo tipo de influência dos Dool, que queríamos mostrar às pessoas. É uma música muito diversa. E nem todo o mundo se encaixa na melhor música. Mas acho que é uma música muito representativa e diversificada, possui várias faces, mas a coisa mais importante para essa música é a tensão subjacente e o que vem com ela. Existe até algum tipo de refrão pop / folk, mas ainda há muita tensão inédita, que vem junto com essa música, que eu pensei que seria realmente uma boa abertura para o novo álbum.


M.I. -  “Wolf Moon” foi lançado no dia 6 de março e foi dirigido por Nina Spiering e filmado por Robijn Voshol. É tanto uma jornada como o vídeo e disseste sobre isso: “trata-se de realidades alternativas, criadas por escolha e chance”. De que tipo de realidade estás a falar?

Por exemplo, estou a falar sobre o tipo de realidade que estamos a viver agora, se não fosse pelo Covid, isso chocou o mundo inteiro à tua volta. Como estas experiências muito profundas, emocionais, sociais podem mudar totalmente a tua vida. A música é sobre o que aconteceria se pontos como este, causassem um dano simultâneo, no qual outra escolha ou outro evento continuasse a existir ao mesmo tempo. 


M.I. -  Sei também que os anos 90 tiveram um enorme impacto nas filmagens. Quais as bandas que gostas daquela década? Quais te inspiraram?

Obviamente os Type O Negative, os Sonic Youth, eu cresci com os Nirvana, todo esse tipo de banda, basicamente, tiveram um grande impacto em mim.


M.I. -  "God Particle" começa com um som do Médio Oriente e as guitarras são fenomenais. "And you relate to me" é uma frase muito cativante. Tem alguma referência bíblica?

Não. Isso não tem nada a ver com a Bíblia. Isso tem a ver com, talvez com conexão espiritual com as pessoas. Talvez algo como uma alma gémea ou algo assim.  Podes sentir a presença de alguém à tua volta. E eu tive uma experiência como essa. Talvez uma vez, isso ficará comigo para o resto da minha vida. Foi um momento realmente inspirador. Então sim. É disso que trata essa música. Uma interconexão, independentemente da localização ou hora, mesmo.


M.I. -  No ano passado, vocês tocaram num dos festivais mais importantes do mundo: o Hellfest. Gostaram da experiência? O que te lembras disso? Viste outras bandas a tocar? Quais?

Sim! Foi ótimo. Foi apenas o nosso terceiro concerto na França. Ficamos bastante surpreendidos, por eles nos estarem a convidar. Aparentemente, o agente viu-nos num concerto ao vivo, que fizemos, e gostou tanto de nós, que nos deu uma grande tenda no Hellfest. Ficamos surpreendidos, porque havia muitas pessoas. Estava lotado. Fizemos um ótimo concerto e foi realmente incrível. E depois, vi os Kiss pela primeira vez. E foi muito divertido.
Estava muito calor e vimos os Sisters Of Mercy a tocar, no mesmo palco logo depois de nós. Também foi uma experiência muito fixe, porque somos todos grandes fãs dos Sisters Of Mercy. Poder vê-los e dizer: "OH!" (risos)


M.I. -  A tournée europeia na primavera 2020 foi cancelada. Será que, por acaso, ainda poderá acontecer este ano? Talvez no outono?

Acho que não. Acho que estamos a olhar para o início de 2021, porque, sabes, ainda há muita incerteza sobre 2020. Acho que todo o mundo vai ficar muito chateado, se tivermos de cancelar a tournée novamente. Então, queremos jogar pelo seguro e esperar um pouco mais.


M.I. -  Muito obrigada pelo teu tempo. Alguma palavra final que gostarias de dizer sobre este álbum ou qualquer outra coisa?

Só quero desejar aos leitores em Portugal muita paciência e espero que todos possam passar para o outro lado, num bom lugar.

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Entrevista por Raquel Miranda