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Entrevista aos Nachtblut



Os pioneiros alemães do Dark Metal, Nachtblut, lançaram o seu sexto álbum de estúdio “Vanitas” no dia 2 de outubro de 2020 pela Napalm Records. Três anos após o lançamento do álbum anterior, “Apostasie”, os Nachtblut regressam ainda com mais vigor e força. Com “Vanitas”, estes gigantes do Dark Metal criam uma obra de arte simbólica num lugar entre a transitoriedade e o infinito. Skol teve uma conversa interessante com a Metal Imperium. Leiam tudo aqui...

M.I. - Em primeiro lugar, muito obrigado por responderem às minhas perguntas! Parabéns pelo fabuloso novo álbum! 

Obrigado!


M.I. - O nome Nachtblut não é exatamente um nome incomum e, na verdade, foi escolhido por mais bandas... vocês sabiam da existência de outras bandas com o mesmo nome? Por que optaram por este nome? 

Não sabíamos que havia outras bandas. E também não tenho certeza se realmente existiam antes, mesmo que não conheças todas as bandas ainda “impopulares” que acabaram de se formar em algum lugar ao redor do globo. Existem vários rumores sobre o nosso nome e por que o escolhemos, e continuará assim. Se eu revelar a história por trás do nome, o significado, tiraria toda a diversão desses rumores. Algumas coisas não precisam ser explicadas. (laughts)


M.I. - O título do novo álbum “Vanitas” é latim para “Vaidade”. Acham que a vaidade é uma característica boa ou má da nossa personalidade? Vocês são vaidosos?

Não, não somos vaidosos e acho que da maneira como hoje as pessoas associam a “vaidade” é uma coisa má. Mas acho que, por exemplo, o “egoísmo” não é mau, quem não concordaria em cuidar dos seus interesses? Não é que a benevolência só pode existir ao lado do autocuidado? Então, egoísmo e altruísmo precisam um do outro.


M.I. - Além da vossa estreia em 2007 “Das erste Abendmahl”, todos os vossos outros lançamentos têm apenas uma palavra como título... por quê? Por ser mais fácil de lembrar? 

Não, acho que as pessoas também se lembram facilmente de mais de uma palavra. Todos os títulos dos álbuns têm em comum ser ou estar relacionados com palavras latinas ou gregas antigas.


M.I. - A maioria dos títulos são bastante "bíblicos", por assim dizer... qual é a razão? 

Nunca pensei sobre esse aspeto “bíblico”. Acho que é porque o latim costuma ser associado à religião, à Bíblia. Mas não temos a intenção de fazer qualquer referência à Bíblia.


M.I. - Por que é que “Vanitas” é o melhor título para este álbum? 

Porque resume os muitos aspetos que se encontram nas nossas letras. Além disso, desde o início de Nachtblut, queríamos que o ouvinte pensasse e refletisse sobre o seu ambiente e sua vida. Este é um dos principais aspetos de toda a arte Vanitas. Frequentemente, as pessoas apenas veem a morte e a mortalidade, mas é apenas uma ferramenta / veículo para o insight e a perceção.


M.I. - Qual é a principal diferença entre "Vanitas" e os vossos outros lançamentos? 

Acho que com o Vanitas demos um passo à frente no que diz respeito à variedade e facetas de um álbum. Claro, “Apostasie” também mostrou uma certa diversidade, mas com “Vanitas” conseguimos ter ainda muitas mais facetas, com um som homogéneo no álbum.


M.I. - O álbum foi lançado no dia 2 de outubro… as críticas foram incríveis, mas como é que os fãs reagiram? 

A reação dos fãs tem sido ótima. No geral, o álbum recebeu críticas realmente incríveis, também por parte dos fãs. Estamos mais do que satisfeitos com o resultado e feedback até agora.


M.I. - Segundo o comunicado de imprensa, os Nachtblut voltaram com mais vigor e poder… concordam? Por quê? 

Sim, concordo, são dois atributos positivos. Como disse, adoramos o nosso novo álbum, e gostamos dos anteriores, mas tentamos sempre tornar as coisas melhores. Muitas vezes, após um lançamento, reconheces coisas que poderias ter feito de outra maneira. Mas isso leva algum tempo e distância entre o trabalho real no disco e a reflexão sobre ele. Seria estranho se disséssemos que no nosso novo álbum as músicas têm menos atributos positivos. Não o lançaríamos, se não acreditássemos que é o melhor que poderíamos realizar naquele momento.


M.I. - Sendo as faixas todas em alemão, podem dizer-nos quais os tópicos que gostam de abordar nas vossas letras? O que vos inspira a escrever? 

Tudo - nunca quisemos escrever apenas sobre um assunto. Em “Vanitas” encontrarás letras sobre “supremacia moral”, quem está a definir a tua perspetiva sobre felicidade, ditadura, morte, transitoriedade, só para citar alguns. Não apenas musicalmente, mas também liricamente, “Vanitas” oferece muitas facetas.


M.I. - As músicas são em alemão e não é uma linguagem fácil de entender, portanto qual é o ingrediente secreto de Nachtblut para atrair ouvintes de todo o mundo?

Essa é uma pergunta que deve ser feita às pessoas de todo o mundo, que ouvem Nachtblut. Eu acho que é a música, melodia e sentimento. Não precisas de entender todas as letras para saber qual o sentimento / humor que uma música tem. Uma boa música vai causar algo em ti, mesmo que não entendas a letra.


M.I. - Já existem vídeos oficiais de “Das Puppenhaus” e “Leierkinder”. Por que selecionaram estas faixas para apresentar o álbum? 

Uma crítica afirmou que existem “11 singles no álbum”. Poderíamos ter escolhido qualquer música para um vídeo, e escolhemos aquelas de que mais gostamos da ideia de um vídeo.


M.I. - No vídeo de “Leierkinder”, em alguns momentos, todos os membros da banda possuem corda a “controlar” os seus braços. É uma metáfora para os fantoches que todos somos? 

Sim, essa é a metáfora. O tocador de lira controla o que as pessoas sabem e como veem as coisas, até mesmo como definem a felicidade.


M.I. - A faixa “Schmerz & Leid” conta com Chris Harms, da banda Lord of the Lost. Por que é que ele foi uma boa escolha para essa música em particular? 

Existe uma certa ligação, além do interesse musical e, claro, já nos conhecíamos há muito tempo e passamos muito tempo juntos no estúdio, já que o Chris é o produtor do nosso álbum anterior Apostasie and Vanitas agora.


M.I. - “Das Puppenhaus” faz-me lembrar Rammstein. São fãs da música deles? Como está a atual cena do metal alemão? 

Sim, somos. Rammstein influenciaram-nos a todos. A Alemanha tem uma grande cena de metal. Além do ano de 2020, acho que temos a maioria dos festivais de metal, também alguns dos maiores, por exemplo, Wacken, Summer Breeze. Além disso, quando se trata de tournées, muitos concertos são feitos na Alemanha. Portanto, não temos nada do que reclamar.


M.I. - A capa apresenta 4 esqueletos em volta de uma mesa... são os membros de Nachtblut? Por que estão cobertos por teias de aranha? Do que estavam à espera? 

Somos quatro membros e são quatro esqueletos, pode ser uma ligação... eles têm teias de aranha porque, obviamente, morreram há muito tempo. Os esqueletos são uma grande parte da natureza morta de Vanitas, já que escolhemos a arte para adotar o estilo, foi uma conclusão óbvia colocar quatro esqueletos na capa.


M.I. - “Vanitas” está em 19º lugar nas tabelas oficiais alemãs. Como é que isso vos faz sentir? Tocando um estilo tão sombrio, imaginaram que veriam um dos vossos álbuns nessas tabelas? 

Ainda parece um pouco irreal para mim. Quer dizer - álbum top 20! Isso é algo incrível e deixa-me feliz. Talvez por causa da situação, COVID-19, sem concertos, que não muda muito. Talvez seja diferente, uma vez que possamos fazer concertos novamente. Claro, como músico, ficamos a imaginar como seria, mas nunca definimos isso como objetivo. Agora que aconteceu, é incrível.


M.I. - Num dos vossos posts no Facebook, pediram aos fãs que mencionassem as faixas favoritas,  eu li os comentários e não foi uma tarefa fácil para os ouvintes decidirem, porque todas as faixas são boas. As mais destacadas foram: Vanitas, Das Puppenhaus, Leierkinder, Nur in Der Nacht. Agora é vossa vez: qual é a faixa favorita e por quê? 

Acho que “Gegen Die Götter” por causa do riff e como não fizemos um vídeo para essa música, é como uma jóia no disco, todos a podem descobrir.


M.I. - Em "Apostasie", a Amelie juntou-se a vocês nos teclados, mas não está no "Vanitas"... por quê? Ainda não recuperou da lesão? 

Para resumir - ela já não faz parte da banda.


M.I. - A banda tem 3 membros antigos... como é o vosso relacionamento? Ficou mais forte com o passar dos anos? Entendem-se melhor?

O relacionamento é bom. Eu concordo com tudo que disseste: ficou mais forte e acho que nos entendemos melhor a cada ano que passa. Acho que é um processo natural... se passamos tanto tempo juntos, a união torna-se mais forte.


M.I. - Num post no Facebook vocês perguntaram aos fãs se estavam em forma o suficiente para enfrentar “Vanitas”, disseram-lhes para irem ao ginásio e apresentaram a T-shirt “Gain like Satan”. Também a usam quando treinam? O fitness é um hobby para vocês? 

Sim, todos nós treinamos, alguns mais, outros menos. Somos bastante clássicos, levantando heavy metal (laughts) Não o tempo todo, mas muitas vezes também usamos a T-shirt “Gain Like Satan”.


M.I. – Há alguns anos, as bandas de rock n 'roll “tinham” que usar drogas e álcool para serem fixes. Agora os tempos são diferentes. Na vossa opinião, de que é que uma banda precisa para ser considerada fixe? 

Realmente não sei. Nunca me importei com isso. Acho que ser autêntico é um passo para ser fixe.


M.I. - Agora que a banda existe há 15 anos, quais são as maiores diferenças entre Nachtblut agora e 2005? 

Experiência - parece chato, mas acho que essa é a principal diferença. Claro, estamos mais firmes no que fazemos. Mas para mim é difícil nomear as diferenças. Obviamente as coisas ficaram mais profissionais, mas... evoluímos naturalmente.


M.I. - Pensa nas bandas de metal hoje em dia… com quem é que os Nachtblut se identificam? Quais as bandas que têm estilo e filosofia semelhantes? 

Temos um som único, por isso é difícil comparar. Do ponto de vista do artista, não importa qual outra banda toca um estilo ou filosofia semelhante, isso não mudaria nada para nós. Claro, quando se trata de tournée, pensa-se no que poderia encaixar connosco. Nós identificamo-nos com nós próprios (laughts).


M.I. - O coronavírus e toda esta situação de pandemia inspiraram-vos a escrever alguma letra? 

Ainda não, as letras e canções de Vanitas foram escritas antes do início da pandemia. Vamos ver, talvez no futuro haja uma música sobre isso.


M.I. - Quais são os vossos planos para o álbum? Querem fazer uma tournée para o promover? Já têm algum plano ou já consideraram alguma alternativa? 

Existem muitos planos mas, devido à situação, vai demorar algum tempo até que possamos fazer a tournée. Mas estamos a trabalhar nisso e à espera que tudo corra conforme o planeado.


M.I. - Se pudessem escolher algumas bandas para fazer uma “tournée de sonho” com Nachtblut, que bandas convidariam e por quê? 

Claro, Rammstein ou Cradle Of Filth seria ótimo. Pessoalmente gosto muito dos Ghost, talvez não seja o ajuste perfeito, mas seria uma ótima experiência para mim. Fora isso, prefiro tournées com pessoas fixes e amigos do que com pessoas que não conheço ou não gosto.


M.I. - Quanto é que os Nachtblut “sofreram” com o coronavírus? Como é que isto mudou a indústria da música? 

Tivemos sorte em relação ao lançamento do álbum, mas no que se refere a festivais ou concertos, o COVID-19 teve um grande impacto em nós também. Tivemos que adiar a nossa tournée e vários festivais não aconteceram. Como disse, vamos torcer pelo melhor e esperar que 2021 seja melhor.


M.I. – Os Nachtblut assinaram contrato com a Napalm Records... a banda está exatamente onde vocês imaginavam que estariam agora? 

Sim, porque é o que é. Claro, houve sonhos ou realizações que gostariamos de ter, mas nunca tivemos um grande plano. Sabes, dizer “em 2020, precisamos de ter um álbum top 20” ou “em 2017, precisamos de fazer a primeira tournée como cabeças de cartaz na China”. Há mais coisas que agradeceríamos, mas não podemos forçar as coisas. Então, se acontecer, é porreiro, e nós agradecemos, senão, eu não o veria como um fracasso.


M.I. - Quanta ajuda e apoio é que a Napalm Records vos deu? Estão sempre de acordo ou nem por isso?

Estamos sempre bem uns com os outros, nunca contra. Todos os anos foram porreiros e a Napalm Records é um bom suporte para permitir que as nossas visões se tornem reais. Por isso, é um bom vínculo.


M.I. - Muito obrigado pelo vosso tempo! Espero que venham tocar a Portugal em breve! Por favor, partilhem uma mensagem final com os leitores da Metal Imperium. 

Deixo sempre a mesma última palavra em cada entrevista – ouçam o nosso novo álbum Vanitas e fiquem seguros, fiquem saudáveis e esperamos vê-los em 2021!

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Entrevista por Sónia Fonseca