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Entrevista a Edu Falaschi

O Brasil foi descoberto em 1500 por Pedro Álvares Cabral e o primeiro nome foi Vera Cruz ou Ilha da Vera Cruz. 
Sobre essa mesma descoberta, Edu Falaschi lançou “Vera Cruz”, através da MS Metal Records, no dia 31 de maio no Brasil e sairá a 15 de junho no resto do mundo. Um romance epopeia, sobre essa mesma descoberta, onde relata como o nascimento do Jorge, em Tomar, Portugal, ajudou na descoberta do Brasil, juntamente com Pedro Álvares Cabral.
Ídolo de uma geração, super carismático, afável, pronto para receber as pessoas de braços abertos, caraterísticas que lhe são bem conhecidas, tornou esta entrevista muito agradável.
Fala da parceria com Fábio Caldeira (cantor, poeta e grande letrista, da banda Maestrick), que o ajudou no conceito e história das letras, a Festa dos Tabuleiros, o Convento de Cristo, a escolha dos convidados, como o Max Cavalera e Elba Ramalho e as músicas para cantarem, músicos convidados e a equipa de “Cristianos Ronaldos”, que o ajudaram na conceção do álbum.
Atravessamos o Atlântico, de caravela, para “voarmos com as nossas próprias asas” e, sem dúvida, HABEMUS “VERA CRUZ”. 

M.I. - Boa noite, Edu. É com grande honra e orgulho que Portugal e a Metal Imperium te recebem de braços abertos. Como é que estás, a tua família e amigos, no meio desta crise mundial?

Bom, a gente está a fazer o possível para viver “normalmente”. É difícil viver “normalmente”, num momento destes, mas temo-nos aproximado bastante à família, para nos apoiarmos uns aos outros. Mas fico muito triste de ver quantas perdas houve de vidas importantes, de familiares, de amigos, de pessoas que não conhecemos, mas que sabemos que eram pessoas com sonhos, de vivências, de um presente, que estavam dentro da sua vida, a trabalhar, a correr atrás das suas coisas, a buscar os seus objetivos. E de repente veio uma doença mundial, que “cortou” tudo isso, não é? E interrompeu as expetativas dessas pessoas. Eu, como ser humano, fico muito triste de ver quantas perdas, nós tivemos em Portugal, no Brasil, na Europa, em todo o Mundo. 
Acho que os média, no Brasil, são muito confusos. Um canal televisivo fala uma coisa, outro fala outra coisa. Foi difícil e nós tivemos muitas perdas. Muitas dessas perdas, eu soube que eram fãs do meu trabalho, pessoas que estavam a sofrer com o Covid e mandavam mensagem: “Nossa! Estou a apoiar-me na tua música! A sua música dá-me força para isso! Para superar isso!”. Alguns conseguiram superar, outros infelizmente vieram a falecer. E isso para mim foi muito triste, mas o que eu posso contribuir para que não fique pior, é trazer e fazer música. 
Então, é a minha pequena contribuição para o mundo, através da arte, da música! (risos).


M.I. - Vera Cruz, ou Ilha da Vera Cruz, foi o primeiro nome dado pelos descobridores portugueses ao Novo Mundo, que atualmente corresponde à parte do Nordeste da costa brasileira, relatado na Carta de Pero Vaz de Caminha. Mas também é o nome do teu magnífico e brilhante álbum, em que o tema do mesmo se passa nessa mesma época. Este romance e o conceito das letras foi criado por ti, com a ajuda e participação especial do Fábio Caldeira (cantor da banda Maestrick). Foi difícil criar este conceito? Fala-nos um pouco dele e da história do álbum, por favor.

Olha, foi difícil, porque é um conceito complexo e é uma história longa. É uma ficção, mas com elementos da História real, como o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500. O próprio Pedro Álvares Cabral, faz parte da História. Na verdade, foi difícil pela complexidade para construir tudo, mas a história foi acontecendo muito naturalmente, porque o Fábio Caldeira é um grande escritor, compositor daqui do Brasil e cantor de Rock também. Foi como um presente de Deus, eu tê-lo conhecido, para me ajudar na construção desta história épica que é a História da nossa vida! 
Eu desenvolvi a história básica e passei o conceito para o Fábio Caldeira, que desenvolveu todos os detalhes: nomes das personagens, datas, lugares. Ele conseguiu ambientar todo o enredo. 
Existia uma profecia antiga numa ordem que dominava a Europa e que foi criada, por volta de 1200. Essa ordem era a Ordem da Cruz de Nero que dominou durante séculos a Europa. A profecia dizia que um descendente do criador dessa ordem ia nascer, com uma marca de nascença parecida com a Cruz de S. Jorge, crescer e voltar-se contra a ordem, que já estava a dominar a Europa. 
Por volta de 1482, nasceu uma criança assim em Portugal e, quando isso chegou aos ouvidos dos membros da ordem, o Bispo Negro disse que não podiam deixar a criança viver, para não cumprir a profecia. Portanto, mandou matá-la. 
A primeira música do disco, que se chama “Burden”, é quando a mãe descobre e lhe dizem para fugir, porque lhe querem matar o filho. Ela fugiu e colocou o seu filho na porta de um mosteiro. A criança foi resgatada pela Irmã Rosa que, ao ver a marca de nascença, em formato de cruz de S. Jorge, lhe deu o nome de Jorge. Ele ficou a morar no convento, e ela cuidou dele durante toda a sua infância. O chefe do convento, Dom Abelardo, conhecia muito bem a profecia e começou a desconfiar que o Jorge poderia ser o Escolhido e criou uma proteção para essa criança, porque sabia que iriam tentar matá-la, quando descobrissem que estava viva. Por isso, ele incumbiu Pedro Álvares Cabral, Cavaleiro da Ordem de Cristo, de cuidar e proteger o Jorge, enquanto crescia. O Jorge sofreu algumas tentativas de assassinato e decidiram enviá-lo numa viagem de caravela para a Índia.
Jorge embarcou naquela grande aventura, de ir para o alto-mar, em pleno ano de 1500, numa caravela de madeira. Eles foram para o Brasil de caravela e, quando lá chegaram, deslumbraram-se com aquela natureza e deram-lhe o nome de Ilha de Vera Cruz! Por isso é que o disco se chama “Vera Cruz”! A chegada Brasil é a música chamada “Land Ahoy”.


M.I. - É a minha preferida!

(Risos). A minha também. E aí ele deslumbra-se com aquela beleza natural do Brasil. Fica no Brasil, conhece a comunidade indígena, que o salva de um atentado, porque os infiltrados vieram no navio. Tentam matá-lo e ele é salvo pelos índios que matam os soldados da Cruz de Nero e salvam o Jorge. A tribo junta-se ao Jorge, e durante a passagem dele nessa tribo, descobre a sua missão, como descendente do Criador da Ordem da Cruz de Nero, daquela ordem do mal! E revolta-se contra aquilo, porque não quer esse peso! Começa a assimilar e a aceitar aquilo, para se tornar aquele cavaleiro que se vai rebelar e criar um exército, que se vai juntar aos Cavaleiros da Ordem de Cristo e aos indígenas, contra o exército da Ordem da Cruz de Nero. Entretanto, a Ordem da Cruz de Nero descobre que ele ainda está vivo no Brasil e mandam outra esquadra de exército para matá-lo! Mas eles não contavam que Cabral (da Ordem de Cristo) também tinha uma esquadra muito grande e estava a vir atrás da Ordem da Cruz de Nero, para defender e lutar na guerra. Quando chegam, o exército do mal não tem hipótese, porque está o exército do Jorge, montado no Brasil, com os indígenas e com a esquadra do Cabral, está a chegar para ajudar na guerra.
E há uma batalha, que é a música “Face Of The Storm”, que tem todo aquele conceito cinematográfico. É muito importante deixar claro que é um álbum cinematográfico, porque tem muitas passagens, que eu quis que o fã ouvisse a história e se sentisse dentro da história. No final, o exército da Ordem de Cristo, juntamente com o Jorge, ganhou a batalha e ele decidiu ficar no Brasil e casar-se com a filha do chefe da tribo indígena, a Janaína. 


M.I. - O que foi criado primeiro? A letra ou a melodia? E as letras eram passadas para o Fabio? Como foi feito o processo?

Sempre faço a música e a melodia antes. Desenvolvo a melodia e depois encaixo as letras, em cima do que desenvolvi (risos).
Na verdade, eu fiz as letras do disco. O Fábio Caldeira desenvolveu o conceito e os detalhes da história, como se fosse um livro e passou-mo para eu ler e eu desenvolvi as letras.


M.I. - O Convento de Cristo, em Tomar, foi o mote para que tudo acontecesse. O que te despertou o interesse por este monumento e não outro, que o incluiu na história? A arquitetura, por exemplo? E como conheceste o Convento? Ficaste a conhecer algo da Festa dos Tabuleiros, que te fez querer vir a Portugal conhecer a cidade?

Na verdade, essa foi a parte que o Fábio Caldeira desenvolveu. Precisávamos de elementos que tornassem a história interessante. Tínhamos a linha central, que era a questão da profecia, de que ia nascer o Descendente, de quem criou aquela ordem do mal, a Ordem de Cruz de Nero. Todo este contexto eu já tinha, que iriam tentar matá-lo depois e aí tinha uma aventura! Mas quem desenvolveu toda a ambientação foi o Fábio Caldeira! Através das pesquisas, nós percebemos que os melhores elementos para a história estavam em Tomar! Imaginamos que esse local poderia ser um mosteiro, onde vivesse a Irmã Rosa. Por isso, fomos contextualizando e seria interessante ter uma “mãe”, também para ter uma ligação emocional, do fã ao ler a história, sentir aquela ligação materna, dentro da história.
Com certeza a arquitetura medieval faz parte dessa ambientação e procuramos elementos que tivessem essa estrutura medieval. Tudo foi propositado! Tudo tem um porquê! (risos). Na verdade, eu e o meu empresário estamos a conversar sobre a possibilidade de criar um roteiro turístico, para quem quiser conhecer a história do Vera Cruz, numa viagem de verdade! Eu, pessoalmente, quero muito ir a Portugal, conhecer o ambiente da história do Vera Cruz. Estou a pensar na possibilidade de fazer isso com os fãs, de criar uma viagem em grupo, para todo o mundo que quiser conhecer de perto a história do Vera Cruz. É um grande sonho! Vamos ver se conseguimos realizar! 
Inclusive existe um passeio turístico, em Portugal, para se andar em caravela. Eu tenho vontade de fazer esse passeio mesmo (risos). 


M.I. - Esta história retrata várias personagens, como Pedro Álvares Cabral, e deram uma nova versão às mesmas. Que tipo de pesquisas fizeram para as letras e que personagens são reais? Quem é o Bispo Negro e está relacionado com a família do Jorge? As pesquisas foram difíceis?

Personagem real é o Pedro Álvares Cabral (Membro da Ordem de Cristo). Os outros personagens são todos fictícios. A personagem principal que nós usamos na verdade, é quem realmente veio e descobriu o Brasil. Ele foi a causa da vinda dos portugueses para o Brasil e a gente tem essa ligação até hoje, com Portugal, não é? Os outros personagens são todos fictícios!
O Bispo Negro é, na verdade, um título que é passado de geração em geração. O nome Bispo Negro é um título que foi passado, desde que foi criada a Ordem da Cruz de Nero, em 1200, pelo primeiro criador. Essa Ordem da Cruz de Nero, vai totalmente contra os preceitos de Cristo, é contra isso e de toda a história, que gira em torno da existência de Cristo! Esse título, Bispo Negro, vai sendo passado. 


M.I. - Este álbum tem até uma equipa de sonho, que deixa qualquer um roído de inveja e que conta também com 11 participações especiais. Max Cavalera e Elba Ramalho são os convidados em duas canções: “Face Of The Storm” e “Rainha Do Luar”, respetivamente.  Quais foram os critérios de escolha para as músicas e para os convidados?

Bem, como disseste, temos uma equipa muito grande que trabalha neste projeto... desde a conceção da capa que é feita por um dos melhores, senão o melhor designer de capas de Heavy Metal que eu conheço, o Carlos Fides. Obviamente existem os músicos da banda, que estão comigo, há muitos anos já. Alguns deles tocaram comigo nos Angra. Tocaram comigo muitos anos: o Aquiles Priester (baterista), que também tocava nos Angra e o Fábio Laguna, que é o teclista, que também tocava nas tournées dos Angra. Na banda temos o Raphael Dafras, que é o baixista, Diogo Mafra, que é o guitarrista e o Roberto Barros, que também produziu o disco comigo, que me ajudou na formulação das músicas, do instrumental, das notas, das melodias e harmonias! Ele foi o produtor juntamente comigo. 
Eu tenho a participação de uma peça-chave, chamada Pablo Greg, que é a cereja do bolo, do “Vera Cruz”. Porquê? Por ser um disco conceitual e cinematográfico, o Greg foi responsável pela criação das orquestras para o disco. Ele tem muitas influências de John Williams, de orquestradores de bandas sonoras de filmes. Quando conheci o Greg, que também foi um presente de Deus, disse-lhe que queria um disco com música fantástica e épica, de música de cinema! Ele disse que o faria e contribuiu muito para trazer esses elementos. O Greg hoje em dia, no Brasil, é o maior e melhor arranjador e criador de orquestras Midi. Ele é o top do top. Por isso, eu tive uma equipa só de “Cristianos Ronaldos”, uma equipa muito forte, que eu juntei!
E, além dessas pessoas, tem os génios, que eu convidei para o meu disco, que é o Max Cavalera, ex-vocalista dos Sepultura, que é uma lenda mundial, dentro do Thrash Metal. E a Elba Ramalho, que é um grande ídolo meu, que é uma cantora do Brasil, muito famosa, de música brasileira, que é uma grande referência minha, de como um artista deve ser, musicalmente. Ela tem uma carreira maravilhosa, riquíssima em questão de harmonia de músicas, e um talento que não tem tamanho. Desde o início eu queria o Max Cavalera e a Elba Ramalho. Era um risco, por serem artistas muito importantes. Tive a sorte também de chamá-los e de conseguir a participação deles. Foi muito, muito bom. Esse disco conseguiu tudo muito naturalmente, pela energia positiva, pela união de todos dentro do projeto, fez com que a gente conseguisse um trabalho maravilhoso. Na minha opinião, é um disco muito bom, muito bem feito! Uma obra-prima, mesmo!


M.I. - O resto dos convidados conta com o teu irmão Tito, na guitarra a solo, Pablo Greg, na orquestração, Federico Puppi, no violoncelo, Tiago Mineiro, no piano, Maestro Adriano Machado, Rafael Meninão, sanfona e um coro. Como foi trabalhar com estes músicos? Também podemos ouvir um coro gregoriano. Quem são os responsáveis por esse coro?

Além desses convidados especiais, que foram o Max e a Elba, existem outros músicos que participaram. No caso do Tito Falaschi, o meu irmão, que fez o solo da “Bonfire of the Vanities”. Tem também o pianista, Tiago Mineiro, que é um grande pianista, aqui do Brasil, muito famoso, que gravou na “Land Ahoy” e na “Rainha do Luar”. Tem o percussionista, Marcus Cesar, que já tocou com todo o mundo, que podes imaginar, desde Ivan Lins até Phil Collins! É um percussionista muito importante no Brasil, que está no disco também. Existe um músico de sanfona, que se chama Rafael Meninão. Existe um cellista, que tocou cello maravilhosamente: o Federico Puppi, que é um grande cellista italiano. Acho que não me esqueci de ninguém. São vários convidados, que ajudaram a construir esta grande obra!
A ideia foi a seguinte: durante a chegada do Jorge, com a caravela e Pedro Álvares Cabral, sabe-se pela História (isso é verdade, é facto real), que parte da comitiva que veio junto de Portugal para o Brasil, era da Igreja Católica. Quando chegaram ao Brasil, existia uma influência muito forte da Igreja Católica, dentro da colonização. E, naquele período, durante a história, a maneira que eu encontrei de representar a igreja e a musicalidade, que traria essa atmosfera católica, foi através do canto gregoriano. Por isso usámos aquele canto gregoriano, durante a passagem de Jorge e as caravelas de Cabral, na música “Land Ahoy”. É por isso (risos). 


M.I. - O trabalho teve o início das gravações em novembro de 2020 no Rio de Janeiro e foi produzido por ti e pelo Roberto e co-produzido por Thiago Bianchi. Fala-nos das gravações.
Sem esquecer o renomado e lendário produtor, Dennis Ward, que foi o responsável pela mistura e masterização. Como foi trabalhar com ele novamente? Ele sabe o que gostas, por isso, o que é que fez de especial?

Thiago Bianchi é o principal produtor de gravações de Heavy Metal. Ele é o melhor do Brasil e ajudou-me muito na conceção do som do disco, como achar o som da bateria, o melhor som de guitarra, o melhor som de baixo, dos instrumentos para o “Vera Cruz”! Aquilo que eu queria para o “Vera Cruz”! Ele foi crucial! Nós gravamos no Rio de Janeiro, no estúdio do Liminha, que é uma lenda, um produtor lendário, aqui do Brasil! E tivemos a honra de poder gravar lá as baterias. 
E para conseguir manter a qualidade do disco, no nível que eu sempre quis, chamei o Dennis Ward, que foi o produtor dos Angra, nos discos “Rebirth”, “Temple Of Shadows”, “Aurora Consurgens”. É produtor de muitas e muitas outras bandas: já gravou Michael Kiske, já gravou muitas bandas dentro do Heavy Metal mundial. E, para mim, foi uma honra puder trabalhar com ele de novo. Eu e o Aquiles pudermos trabalhar com o Dennis de novo e resgatar aquela atmosfera, dos anos 2000, para o “Vera Cruz”, fechamos com chave de ouro a qualidade musical do “Vera Cruz”!


M.I. - O Power Metal, ou Metal Melódico europeu, é muito diferente do brasileiro e, com o “Vera Cruz”, conseguem-se notar essas mesmas diferenças. Gostaria que explicasses um pouco essas diferenças, com a ajuda deste novo registo.

Nós temos a conotação histórica das letras, do conceito, que é a união de Portugal com o Brasil. Precisamos de usar elementos brasileiros. Também existe a minha ideia de falar do meu próprio país. Trazer um pouco desse espírito, do orgulho de ser brasileiro, do orgulho das minhas origens portuguesas. Eu queria “puxar” isso ao máximo! Por isso existem muitos elementos brasileiros étnicos, dentro do conceito musical do “Vera Cruz”.
É um álbum especial para mim, porque estou a celebrar 30 anos de carreira. E quis resgatar tudo o que eu fiz durante esses 30 anos. É por isso que tem muitos elementos, que a diferença principal de Power Metal europeu e brasileiro, no meu caso, de ser um artista de Power Metal brasileiro, é o facto de ser nativo de uma cultura que não tem nada a ver com a Europa, nem com as raízes musicais europeias. Nós tivemos o auge da divulgação da cultura brasileira com a Bossa Nova. Eu toco Bossa Nova desde criança e esse estilo é muito brasileiro. Essa linguagem só o brasileiro tem. Por isso, é que quando fazemos Heavy Metal e deixamos fluir essa “brasilidade”, destoamos das bandas europeias, ficamos diferentes das bandas da Europa! (risos).


M.I. - Tal como diz a capa: “Alis Volat Propriis”, podemos voar com as próprias asas, mas estas músicas são tão lindas que nos dão vontade de voar. Há detalhes que não passam despercebidos: de “Burden” até “Crosses”, que é quando a história ainda se passa em Portugal e na Europa, o estilo é totalmente Power Metal europeu. A “Land Ahoy”, já integra elementos musicais daquela época. A partir daí, até à “Rainha Do Luar”, aumenta a “brasilidade”. Como foi a composição das músicas e que instrumentos usaram para essas sonoridades? “Land Ahoy” foi a mais complexa, já que é a mais rica, em termos sonoros?

Bom, essa frase em latim, significa muito para mim, porque é um momento em que eu realmente vou “voar com as minhas próprias asas”. É uma carreira como artista a solo, na qual eu mesmo conduzo o meu próprio trabalho. Também é uma maneira de inspirar pessoas a acreditarem no seu próprio potencial. Eu tive muitos problemas de saúde, durante muitos anos, que quase acabaram com a minha carreira e, portanto, essa frase é muito importante para mim e usei-a como inspiração para os fãs.
É uma pergunta muito inteligente! Porquê? Existem sonoridades europeias e existem sonoridades brasileiras, claras no disco. Eu montei, propositalmente, de uma forma a que a primeira metade do disco, até à “Land Ahoy”, seja um disco europeu. Porquê? Porque eles estavam na Europa ainda. Tudo se passa na Europa! E aí, vem a chegada ao Brasil, que é a “Land Ahoy”. Por isso, é que se chama, “Land Ahoy”, que é um termo inglês, usado pelos marinheiros quando encontravam uma terra, que é “terra à vista!”. E, dali para a frente, da “Land Ahoy” para a frente, há mais “brasilidade” nas músicas, porque já estavam no Brasil! A única música que volta para a parte europeia, é a “Fire With Fire”, que é o momento, que o Jorge avisa o amigo dele, para voltar para Portugal e contar que estava vivo. Quando o amigo dele volta para Portugal, já está na Europa de novo. E a música já fica europeia de novo! Não tem mais brasilidade! Aí toma uma harmonia, que é uma harmonia de música erudita, de Beethoven, que tem essa conotação europeia. Quando eles voltam para o Brasil, depois de ele ter avisado que o Jorge estava vivo, começam as influências brasileiras novamente. É tudo propositado, tudo foi pensado (risos). E também a “Rainha do Luar”, que tem a Elba Ramalho, que canta em português, é uma bela música de encerramento, que representa o casamento da Janaína com o Jorge. É uma música de amor, de união, onde acaba a guerra, eles ficam juntos e ele fica no Brasil com ela!
Eu acho que sim! Um amigo meu e outro jornalista comentaram que “Land Ahoy” seria a minha “Bohemian Rhapsody” (risos). É uma música muito complexa, e uma parte muito importante da história, talvez a mais importante, passa-se nessa música: desde que eles chegam ao Brasil, quando é resgatado pelos índios, e eles lhe dão a poção e ele descobre que é aquela pessoa que tem aquela missão, que é o Escolhido. A aventura passa-se no Brasil. Por isso, é que a música é muito longa, é uma epopeia, é uma viagem muito grande! Não teria como fazer e contar esta história, como algo muito simples, uma música de dois, três minutos. Por isso que é uma música muito complexa. 


M.I. - És sem dúvida o rei das baladas e, com “Skies In Your Eyes”, tornaste-te no “Jon Bon Jovi” do Brasil. Como te sentes com tamanho elogio?

(Risos). Adorei. (Risos). Eu fiquei muito feliz, porque os Bon Jovi, para mim, são uma grande referência de compositor de baladas, principalmente. Eu gosto do Bon Jovi, da banda Bon Jovi. Mas realmente sou muito apaixonado por baladas. Compus desde: 
“Close your eyes 
What do you see?”
 
“Wishing Well”, dos Angra. Compus “Heroes of Sand”: 

“Sealing light 
Nothing to see 
Like a miracle life…”


M.I. - Vamos parar, senão vou chorar.

São muitas composições de baladas! “Bleeding Heart”! Gosto muito de baladas! E estou muito feliz com o elogio e com a comparação! Muito obrigado! 


M.I. - “Burden” foi lançado como prefácio, para o que poderemos ouvir no “Vera Cruz”. Como é que o vídeo foi feito e os efeitos utilizados? Qual será o próximo vídeo? Seguirá a onda do anterior ou aparecerás a cantar e os rapazes a tocar os respetivos instrumentos? Podes dar alguma dica?

Nós fizemos esse prefácio para mostrar aos fãs a complexidade da história. Como que a dar um gostinho a entender o que estava por vir. Por isso, fizemos só a introdução, para não revelar tudo também e criamos essa “graphic novel”, “graphic trailler” em forma de desenho, que foi feito por António César, que é um grande desenhador, aqui no Brasil. Criamos isso, como um primeiro lançamento visual, do “Vera Cruz”. 
Nós já estamos a trabalhar num videoclipe, também para o disco. Tivemos que parar a gravação do videoclipe, por causa do Covid, mas vamos voltar, em breve, para filmar e acredito que em julho, estaremos a lançar o primeiro videoclipe oficial do “Vera Cruz”. 
Não, não! É um videoclipe mesmo com a banda a tocar! O videoclipe é maravilhoso! Eu não posso revelar qual é a música ainda!


M.I. - Este será álbum será lançado através da Ms Metal Records. No dia 18 de maio foi o lançamento digital mundial, no dia 31 foi o lançamento físico no Brasil e a 15 de junho o lançamento físico mundial. Sei que o Japão tem um papel fundamental na tua carreira, mas porquê dividir os lançamentos em diferentes datas?

No meu caso, eu não tenho uma “major”, como editora. Não tenho assim uma “Sony Music”, uma “EMI Music”. As “majors” fazem o lançamento para todos os países. E no meu caso, que é o caso de todas as bandas em que eu participei, cada região, tem a sua própria editora. No Brasil é a MS Metal Record. Na Europa, vamos ter o lançamento feito por uma distribuidora local. No Japão é a King Records. Na Argentina é a Icarus Records. Estamos a conversar, com outras editoras, de outros lugares como o México. Na Coreia do Sul, também vai ser lançado por uma distribuidora local. E, temos editoras divididas pelo Mundo, que achamos que é o melhor caminho, para este estilo que fazemos e a melhor forma de ser lançado. Por serem editoras diferentes, cada uma tem a sua data, entendes? 


M.I. - No passado dia 12 de maio, ocorreu o lançamento do álbum no Japão e, nesse mesmo dia, ficaste em número um na Amazon japonesa. Os sinceros parabéns da Metal Imperium.  Queres falar-nos um pouco sobre isso, por favor?

Muito obrigado! Muito obrigado a vocês todos, que me apoiam sempre! Fiquei muito feliz de chegar ao primeiro lugar da maior loja de discos do Japão, e talvez do Mundo, que é a Amazon e ficar à frente de grandes ídolos meus e bandas que de que sou fã! Foi uma honra mesmo puder ter conquistado logo, muito rápido.
O lançamento foi no dia 12 e, 2 ou 3 dias depois, já estávamos em primeiro lugar nas vendas no Japão. Foi uma grande alegria! 
O lançamento no Japão foi através da King Records. Eles fizeram uma pré-venda, no Japão, de um CD em acrílico tradicional, que possui uma faixa bónus da “Skies in Your Eyes”, versão acústica. Eles fizeram um mês de divulgação desse disco, nas redes sociais do Japão, nas revistas e tal. Agora estamos a trabalhar na divulgação do disco que acabou de sair lá. Eu fiz uma entrevista para a maior revista de música do Japão, “Geki Rock”! “G-E-K-I Rock”! E saí na capa dessa revista! Um momento muito feliz para mim! Muito bom (risos)!


M.I. - Para o mercado brasileiro e os fãs foram lançadas várias versões do álbum: em Digibook, Digipack, LP duplo colorido e uma Box, que contém vários itens, que foram idealizados pelo grande “digital designer” Carlos Fides, tal como a capa do álbum. Como está a ser a produção dos mesmos e como foi a escolha dos objetos que os compõem?

Esse desenvolvimento do material foi feito pela MS Metal Records. Eles é que tiveram a ideia de fazer um Digibook. E o LP era um sonho meu, não é uma coisa nova, porque é uma coisa que muitas bandas já fizeram. Era um sonho meu puder ter um disco lançado em LP! Estou a realizar esse sonho também! A ideia da Box, de pré-venda, é aquela caixa estilizada, bonita, em que vem uma T-shirt dentro e uma caneca. Tem também o próprio Digibook, acho que é isso! Esse conceito da Box, fui eu e o meu empresário que tivemos a ideia, juntamente com uma empresa de distribuição de brindes, daqui do Brasil. Nós moldamos essa Box e resolvemos lançá-la.


M.I. - Como será a tournée em torno deste álbum? Por exemplo, a construção do palco. Virás a Portugal algum dia?

És muito inteligente! Se todos os jornalistas fizessem como tu, seria muito melhor! Estamos a preparar, como é um disco muito especial, um momento especial de 30 anos de carreira. Estamos a trabalhar numa tournée, que no Brasil, conseguiremos realizar num grande palco, com muitos elementos, uma grande produção! Também não posso falar ainda, como é essa produção! Mas vai ser um espetáculo audiovisual, que vai deixar os fãs muito felizes!
Vou tentar levar essa produção a outros países também! Não sei se será possível, mas vamos tentar! Mas para o Brasil, como moramos aqui, é tudo muito mais fácil, para mim, para eu administrar isso. No Brasil, já está bem encaminhado, para ser uma tournée especial!


M.I. - A Marcella Cronemberger Macedo e o Eduardo Macedo Cronemberger, da MS Metal Agency, o Bode, do Bode Metal Nacional, o Ederson Leao e o Juan Curral são os teus braços direitos. Como te sentes a trabalhar com pessoas que acreditam e apoiam o teu trabalho?

Olha, é difícil falar de todos eles assim, porque são grandes amigos! São pessoas que eu amo e que gostam da minha música e acreditam no meu potencial! Mais do que nunca, eles acreditaram em mim e, mesmo nos piores momentos da minha vida, ainda acreditavam em mim! E, isso para mim, tem um valor muito grande! Todos eles: o Eduardo, da MS Metal Records, a Marcella, o Juan, que é o meu empresário, que veio trabalhar comigo, no momento em que eu não estava no auge. E todos esses de que falaste, todos os outros, é uma equipa muito grande! Tenho de lhes agradecer eternamente! Sou um afortunado por puder ter estes anjos ao meu redor! É muito bom! 


M.I. - Bandas/cantores que mais te influenciaram, com quem gostasses de cantar.

Ah! Há tantas bandas! Gosto muito de música dos anos 80! Do Heavy Metal, gosto de Dio, Iron Maiden, Accept, Def Leppard, Black Sabbath! E também gosto de outros estilos como: A-ha, Tears For Fears, Supertramp, Yes, Rush, Marillion, Genesis, Gentle Giant, Emerson, Lake & Palmer, Pink Floyd. Amo Pink Floyd. Mas também gosto de bandas de música brasileira como: Djavan, Ivan Lins, Legião Urbana, Paralamas Do Sucesso, Ultraje a Rigor, Titãs. São as bandas com que eu cresci, os artistas que eu amo, aqui no Brasil. Eu gosto de tudo! Tudo o que eu acho bom, eu escuto (risos).


M.I. - Mais uma vez, é uma honra e orgulho ter feito esta entrevista contigo. Algumas palavras para os fãs portugueses?

A honra é minha! Primeiramente, muito obrigado pelo carinho dos que me acompanharam, durante estes 30 anos. Espero puder estar em Portugal o mais rápido possível! Espero puder levar o “Vera Cruz” para Portugal também. Especialmente para o Porto! Que eu possa ter a oportunidade de levar a minha música, mais uma vez, para a Europa! Uma tournée bacana, bonita. Eu, na verdade, só tenho a agradecer a todos pelo apoio!

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Entrevista por Raquel Miranda