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Reportagem: Bad Religion, Suicidal Tendencies, Millencolin, Devil in Me e Blowfuse @ Sala Tejo, Lisboa – 14/05/2022


Sensivelmente três anos após a sua última visita ao nosso país, os Bad Religion regressaram para celebrar os seus 42 anos de carreira, ou se preferirem 40 + 2, visto que este concerto já deveria ter ocorrido há dois anos atrás. A acompanhá-los desta vez estiveram os ilustres Suicidal Tendencies, Millencolin e Blowfuse. Dificilmente o cartaz poderia ser melhor, não fosse o caso de a Hell Xis Agency incluir ainda os nacionais Devil in Me, ao mesmo.
Pontualmente às 18h30 e ainda com pouco público no interior da sala, os Blowfuse iniciaram a sua atuação. Vindos da Catalunha, este quarteto interpretou uma seleção de temas que visava mostrar um pouco de todos os seus trabalhos. A meia hora a que tiveram direito começou então com “Behind the Wall”, com o vocalista Oscar a pedir aos presentes que dessem um passo em frente a cada tema interpretado e assim se fossem aproximando do palco. Não só esse pedido foi atendido, como logo ao terceiro tema “Ripping Out”, teve início um circle pit, afinal, estávamos num concerto punk, não esqueçamos.
Se nos entristece, de certa forma, saber que muitos daqueles que compraram bilhete para este concerto optaram por não assistir à atuação dos Blowfuse, é também verdade que nos enche de orgulho saber que os Devil in Me não foram vítimas desse mesmo tratamento. Muitos interessados em assistir ao espetáculo hardcore “puro” destes Algarvios, o que comprova que a sua inclusão no cartaz desta noite foi uma aposta ganha. “War”, tema do seu mais recente álbum de originais, On the Grind, foi a malha escolhida para o início de uma atuação que ficou marcada pela habitual entrega de todos os músicos, mas também pela autêntica festa que estava a acontecer entre o público. “On My Own” e “Break the Chain”, foram alguns dos temas mais antigos que também não ficaram de fora, antes que fosse feito um merecido agradecimento ao promotor do evento, assim como a uma série de bandas portuguesas de qualidade. “A família está forte”, referiu Poli. A ponta final foi preenchida por “Knowledge is Power” - com toda a sala a ajudar a cantar- e pela inevitável “Soul Rebel”, que concluiu uma bem conseguida atuação de 35 minutos.
Os Millencolin estavam numa posição ingrata. Eles, que até se encontravam a substituir os Comeback Kid neste cartaz, não só antecediam os Suicidal Tendencies, uma das bandas mais aguardadas da noite, como tinham de pelo menos igualar a explosiva atuação dos Devil in Me. Embora também tivessem os seus fans entre a audiência, o punk/hardcore mais melódico destes suecos não soube dar continuidade ao ambiente que se vivera na sala momentos antes. Foi só quando nos encontrávamos a meio da sua atuação que o público pareceu despertar e responder aos apelos de Nikola e restantes elementos, deixando-se envolver novamente naquele ambiente festivo, tão comuns em concertos dentro deste estilo musical. “Sense & Sensibility” e “Twenty Two” foram alguns dos temas interpretados nesta noite que encerraria com “No Cigar”.
Os Suicidal Tendencies eram os senhores que se seguiam e um dos pesos pesados desta noite. Podemos dizer, sem nenhum exagero, que muitos dos que ali se encontravam compraram o seu bilhete devido a estes californianos, com a expetativa de reviver alguns dos clássicos que esta banda acumulou ao longo de 40 anos de existência. “You Can´t Bring Me Down” levou à loucura uma Sala Tejo muito bem composta, que ajudou os S.T. a cantar esta versão que se estendeu por uns bons 10 minutos. Com Tye Trujillo no baixo, o que pareceu apanhar de surpresa alguns dos presentes, a banda prosseguiu com “I Shot the Devil” e “Send Me Your Money”, tema onde o jovem Tye pode comprovar que é mais do que apenas filho de Robert Trujillo, ele é também um bom músico, apesar da sua juventude. Uma ligeira paragem forçada, devido a problema técnicos, não conseguiu quebrar o ritmo que se estava a viver nesta noite. “War Inside My Head” foi um dos momentos altos: stage diving, mosh pits a surgirem em zonas distintas da sala, ninguém parecia conseguir estar quieto enquanto ajudava Mike a cantar o tema. “Cyco Vision” não podia ficar de fora do setlist desta noite, nem “Pledge Your Allegiance”, música que encerraria os 50 minutos de atuação dos Suicidal Tendencies com todo o pavilhão a gritar ST, ST, ST…

Ninguém parecia estar cansado quando os Bad Religion subiram ao palco pelas 22h30. “Generator” foi apenas a primeira de muitas malhas que estes punks de Los Angeles tinham reservadas para esta noite e elas eram muitas. A banda também se encontrava “fresquinha”, afinal, a tournée tinha arrancado apenas no dia anterior, em Bilbao. Conhecidos pelos seus temas curtos e diretos, não houve tempo para muita conversa, apenas os habituais agradecimentos após “Recipe for Hate”, lembrando os tempos difíceis que estamos a viver, servindo de introdução a “New Dark Ages”. O alinhamento desta tour visa fazer uma retrospetiva à carreira da banda, que como dissemos celebra 42 anos de existência, porém, os álbuns mais antigos foram privilegiados. “Punk Rock Song” foi um exemplo disso mesmo, mas outros temas não ficaram esquecidos: “Fuck You”, “Anesthesia”, “Infected” e até aquela que parecia vir a encerrar a atuação desta noite, “21st Century (Digital Boy)”, uma verdadeira viagem no tempo. O tradicional encore existiu, quase obrigatoriamente, para que pudéssemos todos ouvir ainda: “American Jesus” e ainda um tema que, sem o qual, dificilmente os Bad Religion estariam ali esta noite, “Fuck Armageddon… This is Hell”. Palavras de Greg Graffin que nós subscrevemos. Foram 26 temas pujantes, descarregados em menos de uma hora e meia de espetáculo.
Uma tarde/noite que vai certamente ficar na memória de quem a presenciou. Os apreciadores de sonoridades punk/hardcore saíram da Sala Tejo muito satisfeitos, seguramente.


Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge - Pajodima Pics
Agradecimentos: HellXis