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Reportagem: God Is An Astronaut e Oh Hiroshima @ LAV - Lisboa ao Vivo - 14/05/2022


Com uma tour inicialmente planeada para 2021, os God Is An Astronaut regressam finalmente a solo lusitano, acompanhados pelos Oh Hiroshima, prometendo uma noite em cheio com duas das bandas que lideram a cena do post-rock. Desta vez, a digressão “The Beginning of the End Tour” traz uma série de concertos que celebram não só o 20º aniversário da banda, mas também os 15 anos do álbum “All Is Violent, All Is Bright” e ainda o lançamento do novo disco “Ghost Tapes #10”.

Passava pouco depois das 21h, quando os fãs começaram a entrar para a nova sala de espetáculos do Lisboa ao Vivo - que é sem dúvida um grande melhoria comparativamente ao recinto anterior, localizado em Marvila – onde à primeira vista já se podia observar o conjunto impressionante de pedais que se estendia ao longo do palco, uma delícia para qualquer músico e colecionador. Sem demoras e tal como o previsto, às 22h os suecos Oh Hiroshima entram em cena com “Veil of Certainty”, um dos temas do novo álbum, estreado há cerca de 2 meses e que teve o buildup perfeito, dando tempo à plateia para se chegar à frente, ao som de uma encantadora melodia. 
A banda, formada por Jakob Hemström e Oskar Nilsson, encontrava-se a promover o novo álbum “Myriad”, com os seus temas a perfazer a maioria da setlist e que foram recebidos com muito sucesso, se o headbang constante for sinal de tal. No palco, Jakob fazia soar os primeiros acordes de “Holding Rivers”, envolvendo o recinto com a subtileza da sua voz gentil, um elemento sonoro que raramente se fez ouvir no catálogo apresentado pela banda, mas que também não ficou em falta, pois afinal de contas, é com os restantes instrumentos e as composições atmosféricas, que a banda pretende hipnotizar todos os presentes. Para isto, foi indispensável a presença do baixista/vocalista Jocke Liebgott, acentuando, melhor do que ninguém, as suaves melodias da guitarra, com as suas poderosas e vibrantes linhas de baixo, complementadas ainda pelo sintetizador de Jalle Furingsten, que ao longo do concerto foi alternando entre a guitarra e o teclado.

Perante uma sala mais composta e devidamente pronta para os receber, aterravam agora em palco os God Is An Astronaut, uma banda que ao longo dos seus 20 anos de carreira já dispensa apresentações, consagrados líderes no movimento do post-rock.
A setlist teve início com “Adrift”, que é também a faixa de abertura do novo disco, seguida por “Specters”, criando-se logo desde início uma atmosfera frenética. Verdade seja dita, apesar de isto não ser a clássica banda de heavy metal ou death metal, as secções mais pesadas deste quarteto irlandês, não ficam nada atrás de nomes mais pesados. Mas ao fim ao cabo, é exatamente por isto que são conhecidos, pela sua capacidade de criar camadas e camadas de sons texturados, que permitem ao ouvinte viajar pelas mais diversas sensações e emoções, tudo entre a felicidade, a angústia e puro caos.
Ainda sem aparentemente precisarem de nenhuma pausa, a banda segue para “In Flux”, com um início muito particular. Niels Kinsella utilizou o baixo, não como instrumento de cordas, mas como um amplificador muito orgânico e lo-fi, encostando o seu telemóvel aos pickups para estabelecer o ambiente inicial para uma faixa cheia de acordes que pingavam mistério e dissonância. Fazia-se sentir um crescente sentido de urgência, que enchia o Lisboa ao Vivo, que por breves momentos desaparecia e voltava a surgir, deixando o público a mexer-se cada vez mais.
Feitos os agradecimentos, é dada a palavra a Jamie Dean, que nos fala acerca da próxima música “Mortal Coil”, uma faixa pesada e muito emocional, mas com uma mensagem muito forte e que não deixou ninguém indiferente. A banda seguia agora a uma passagem por diversos temas do seu tão aclamado álbum “All is Violent, All is Bright”, sempre recebidos com muitos aplausos e entusiasmo, afinal de contas esta é uma obra essencial para qualquer fã de rock progressivo. Aproveitando a onda nostálgica pelas obras mais antigas, a banda revisita ainda “From Dust To Beyond”, do seu álbum de estreia. Durante a noite, grande parte dos olhares esteve posta em Jamie Dean, que se revelou sempre muito bem-disposto, demonstrando-se o elemento essencial de ligação entre o público e a banda, a quebrando por vezes as barreiras metálicas que os separavam.
E assim se passava uma noite fantástica, onde já avizinhava um encore, como é costume em quase todos os concertos, arrisco-me até a dizer todos… um momento que sempre me fez questionar o propósito atual de um encore, sabendo o público que a banda acaba sempre por retornar. Será para uma pausa? Pela diversão de brincar um pouco com o público? Bem… Jamie e Torsten deixaram as repostas as estas perguntas. Toda a gente sabe sempre que a banda acaba por voltar, Jamie e Torsten preferem assim ficar em palco, enquanto que Niels Kinsella e Lloyd Hanney preferem ainda sair por momentos. Mas sem querer tirar a magia do momento, Jamie e Torsten esconderam-se atrás dos amplificadores, pedindo aos fãs que se mostrassem surpreendidos quando estes regressassem. E assim foi, certificando-se os fãs de que a banda saía do palco hoje, a sentir-se tão bem-vinda e apreciada quanto possível.


Texto por Miguel Matinho
Fotografia por Joana Alexandra
Agradecimentos: Pinuts Music Agency