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Entrevista aos Tribulation


A 7 de Abril, os Tribulation lançarão o seu próximo EP "Hamartia" através da Century Media Records. No ano passado, o quarteto lançou a faixa título "Hamartia" e, agora, estão de volta com outro single deste álbum: "Axis Mundi", que é a primeira composição de Joseph Tholl (guitarras), e oferece ao ouvinte um novo conjunto de sabores e nuances que representam na perfeição os Tribulation de 2023. 
Para promover este novo EP, o simpático guitarrista Adam Zaars esteve à conversa com a Metal Imperium e revelou que os Tribulation adoram tocar em Portugal e estão ansiosos por regressar!


M.I. - Olá Adam! Como estás? A banda formou-se em 2004, há 19 anos. Ainda eras muito jovem. O que aprendeste com os Tribulation nestas duas décadas?

Estou bem, obrigado! Essa é uma grande questão! Muito, diria! Obviamente, aprendi a seguir a minha intuição, a criar músicas de uma maneira melhor e, obviamente, a ser um artista melhor. Não é apenas com os Tribulation que isto acontece, mas os Tribulation têm sido a maior e principal parte de tudo... 


M.I. - Nos 3 primeiros álbuns, a banda parecia estar a tentar encontrar a sua identidade, daí a diferença de som entre eles e também mudaram o logotipo. Foi algo necessário? Por quê?

Sim, mudamos o logotipo umas quatro ou cinco vezes. Mas não foi nada difícil e não diria que estávamos a tentar encontrar o nosso som. Estávamos apenas a fazer o que queríamos e acho que a nossa música sempre refletiu quem éramos na época. Quando fizemos o primeiro álbum, éramos muito jovens, ainda na escola, obcecados por qualquer coisa de metal e, naquela época, era muito death e black metal que ouvíamos e englobava completamente todos os aspetos do nosso dia a dia. Portanto, quando escrevemos o primeiro álbum, era assim que queríamos soar com aquele álbum. E desde aí os álbuns sempre refletiram quem somos e onde estávamos nas nossas vidas.


M.I. - Sempre gostaste genuinamente de sons extremos ou também os ouvias para ser “cool”, sabes o que quero dizer?

Sim, sei! Absolutamente e é provavelmente parte disso. Existem muitos, muitos aspetos de uma subcultura, mas sempre fui absolutamente 100% genuíno em relação à música, foi a banda sonora de cada minuto meu.


M.I. - Quantos anos tinhas quando assististe ao primeiro concerto? Que bandas tocaram?

Bem, eu venho de uma pequena cidade na Suécia chamada Arvika e tínhamos um festival na cidade. Todos os anos havia um festival que começou por ser industrial, mas eventualmente tornou-se mais mainstream ao longo dos anos... isso foi durante os anos 90 e início dos anos 2000. Todos os anos tínhamos bandas como os Sisters of Mercy, Rammstein, Slayer, Depeche Mode e muitos grandes artistas, e foi provavelmente aí que vi as primeiras bandas ao vivo. Lembro-me de ver os Sisters of Mercy e não fiquei muito impressionado. Mas o primeiro concerto a que assisti mesmo, foi provavelmente os Iron Maiden, em Estocolmo, em 2003, com o Jacob, o antigo baterista da banda. Nós fomos e esperamos na fila desde as 10 da manhã para ficar na frente, não bebemos e não comemos o dia todo, mas ficamos na frente, por isso valeu a pena.


M.I. - “Hamartia” foi lançado como single em setembro de 2022. Agora será lançado como EP em abril. Por que parecem apreciar tanto EPs? Este EP é uma forma de manter os fãs entretidos enquanto esperam pelo próximo álbum? É uma estratégia promocional da editora?

Não desta vez, pelo menos! Pode haver, não diria pressão, mas pedidos da editora para lançarmos algo, com certeza, e já fizemos isso algumas vezes no passado. Mas este é o primeiro EP com músicas que não estão noutro lugar, que não estão em nenhum álbum que fizemos em quase 20 anos, e é bom fazer algo que queríamos fazer. Desta vez não houve pressão da editora para fazer nada. Fizemos isto por vários motivos... os dois principais foram que, quando lançámos o último álbum "Where the Gloom makes sound", a pandemia estourou, e a nossa tournée e os planos para aquele álbum fracassaram completamente e não queríamos começar a escrever um álbum quando tínhamos acabado de lançar um, por isso queríamos fazer outra coisa! O outro motivo é que temos um novo guitarrista, e queríamos experimentar com ele e ver aonde isso nos levaria em termos de som. Devido a estes dois fatores, fazia muito sentido fazer algo mais curto do que um álbum quando não podíamos tocar ao vivo e quando não queríamos escrever um novo álbum, e pareceu-nos a escolha óbvia.


M.I. - Mas correu bem com ele, certo? Porque o Joseph já contribuiu para a banda com a composição de “Axis Mundi”, o último single. É uma boa música. Quão felizes ou satisfeitos estão com ele?

Ah, muito! Quero dizer, nós conhecemo-nos desde crianças, tocamos em bandas antes, tocamos música desde os 13 anos, tivemos a nossa primeira banda juntos, e escrever e tocar música com ele não era novidade. Era novo no contexto dos Tribulation, mas correu muito bem. Sempre dissemos desde o início que queríamos que ele escrevesse, porque ouvimos músicas suas e descobrimos que existem elementos que poderiam encaixar muito bem no som dos Tribulation, mas de uma nova perspetiva e acho que foi isso que ele realmente fez. Outra coisa que ele faz muito bem é empurrar-nos em direções que não teríamos pensado por nós mesmos. Às vezes funciona e às vezes dizemos “Não!” mas é bom ter alguém que nos desafia, porque é fácil cair na rotina e fazer as coisas da mesma maneira.


M.I. - O EP está previsto para ser lançado na Sexta-Feira Santa, 7 de abril. Esta é apenas uma data aleatória ou foi cuidadosamente escolhida por algum motivo?

É uma data aleatória! Seria incrível se a tivéssemos escolhido, mas tenho que ser honesto e dizer que não! Talvez a editora tenha sido mais cuidadosa do que nós e a tenha escolhido por causa disso, mas nós não o fizemos.


M.I. - No EP “Hamartia” tem a cover de “Vengeance” dos Blue Oyster Cult. Por que optaram por fazer uma cover dessa música? Também já fizeram covers de bandas como The Offspring, The Cure, The Misfits... fazem covers de faixas que acham que poderiam melhorar ou de faixas que significam algo especial para vocês?

Nenhuma das duas! Eu não diria melhorar, mas fazer algo diferente de uma música que também gostamos. A seleção de músicas é bastante pequena para nós porque não achamos muito proveitoso fazer uma música regular de death metal, uma música dos Morbid Angel ou algo assim, porque está muito longe de onde nos encontramos musicalmente. Sempre tentamos encontrar músicas que sejam um meio termo... geralmente com vozes limpas e isso é difícil, porque se fizermos isto com uma banda de metal mais extremo, na minha opinião, vamos estragar a música. Portanto, temos que encontrar músicas em que não estraguemos completamente a música e possamos fazer algo diferente a partir dela! Obviamente, temos que encontrar músicas de que gostamos e, todas as músicas que mencionaste são músicas de que gostamos, mas há outras músicas dos Blue Oyster Cult que eu gosto mais, mas provavelmente iríamos arruiná-las se tentássemos fazer uma cover, portanto não vamos fazer isso. “Vengeance” é uma música incrível.


M.I. - Por causa da pandemia, toda a promoção do último álbum foi adiada. Isso também alterou todos os vossos planos em relação a futuros lançamentos e isso?

Sim, mudou todos os planos, mas provavelmente escreveríamos e gravaríamos um álbum agora mesmo se a pandemia não tivesse acontecido. Neste momento, temos festivais durante o verão e podemos fazer outra coisa também, mas não faremos uma tournée extensa com estas novas músicas. Vamos escrever e gravar um novo álbum provavelmente em setembro/outubro. Os concertos ao vivo que vamos tendo são o nosso foco principal neste momento.


M.I. - Quando “Where the gloom becomes sound” foi lançado em janeiro de 2021, disseste que a banda já estava a reunir material novo. Em que estágio de todo o processo de composição/gravação estão atualmente? Já estão a trabalhar nisso? 

Estamos praticamente no mesmo ponto. Eu fui a Estocolmo há algumas semanas para experimentar algumas ideias, e temos pelo menos uma ideia da direção para onde queremos ir... podemos até não seguir esse caminho, mas pelo menos temos uma ideia. Normalmente temos a ideia mas acabamos noutro lugar! Isto é apenas uma parte do processo, e está tudo bem.


M.I. - No EP já toca o novo membro, Joseph Tholl. A dinâmica de trabalho nos Tribulation mudou de alguma forma por causa da entrada dele? É tua intenção que vocês dividam as tarefas de composição... como está a correr até agora?

Imagino que faremos mais ou menos da mesma maneira que fazíamos... Eu escreverei o meu material e o Joseph escreverá o dele, mas provavelmente passaremos mais tempo juntos também para experimentar ideias e tentar lançar algumas músicas, portanto será mais ou menos o mesmo. Isto é o que fizemos há algumas semanas. Eu tive umas ideias e ele construiu algo a partir disso, e nem tenho a certeza se isso vai estar no álbum, mas nunca se sabe. É claro que o Johannes e o Oscar também estarão envolvidos neste processo quando estivermos no estúdio a testar vozes e ideias diferentes.


M.I. - No outono passado, a banda fez uma tournée com os Watain, Bolzer e Abbath na “Chariots of Fire tour”... o que une estas bandas? Como surgiu a oportunidade de fazerem uma tournée juntos? Como correu?

Conhecemos os Watain desde sempre! Já fizemos tournées e tocamos com eles antes. Também conhecemos os tipos dos Bolzer há muito tempo, já tocámos com eles e eles aparecem nos nossos concertos e nós nos deles. Portanto, foi apenas uma questão de encontrar bandas que tivessem algum tipo de ligação e acho que funcionou bem. O público parecia gostar de tudo todas as noites, e, apesar de soarmos muito diferentes, há algo que liga todas as bandas. Acho que é porque nos conhecemos que funciona bem também, damo-nos bem e temos algo em comum, musical e esteticamente, e todos nós partilhamos uma atitude de “faça-você-mesmo” para estar numa banda. Acho que nos ligamos em níveis muito diferentes!


M.I. – Nessa tour, vocês tocaram em Lisboa. Lembras-te de alguma coisa desse concerto em particular?

Já tínhamos tido bons concertos em Lisboa antes, mas lembro-me que, durante o dia, fomos para a cidade, tentamos encontrar alguma comida, estava tudo fechado, acabamos por comer kebabs e falafels. Foi um daqueles dias em fomos conhecer e não pensamos muito sobre o concerto. Era um espaço grande, mas, quando o espaço é grande, às vezes é incrível, às vezes está vazio, e nunca se sabe! Mas voltamos para o local e, de repente, alguém no chat do grupo da tournée, enviou uma foto da fila enorme para entrar! E aí pensamos “Ok, isto vai ser incrível!” e descobrimos que estava esgotado também... e tivemos um concerto fantástico, um dos melhores da tournée!


M.I. - A banda já tem alguns concertos e festivais agendados para este ano. Os Tribulation são mais uma banda ao vivo ou uma banda de estúdio?

Ambos! No passado, umas vezes éramos mais uma banda ao vivo, outras vezes mais uma banda de estúdio, mas definitivamente acho que somos os dois! Adoramos estar no estúdio, adoro trabalhar nas músicas com os outros membros da banda, construí-las, encontrar o caminho certo e fazer tudo como queremos! É um espaço muito libertador para mim, pelo menos, posso expressar tudo o que quero. Sempre nos focamos muito nos concertos ao vivo também porque foi por isso que começamos a banda, queríamos tocar ao vivo, queríamos tocar em grandes palcos e fazer grandes concertos. Estamos a fazer concertos, mas se tivermos a oportunidade de os tornar maiores no futuro, definitivamente o faremos!


M.I. - Os Tribulation são uma banda preocupada com a aparência geral e visual e os vossos concertos são muito intensos e visualmente atraentes! Tudo faz sentido! Qual a importância da imagem para a banda? É tudo feito de acordo com o vosso “gosto” ou têm um diretor artístico que vos orienta nisso?

Não temos! É bom ouvir isso, muito bom! Nós apenas fazemos o que nos apetece. Normalmente eu dou as minhas ideias e às vezes eles gostam, às vezes não! Se eles gostam, vamos em frente!


M.I. - Quando tocas ao vivo, entras numa “persona” de palco ou estás completamente ciente de tudo que te rodeia? Alguns artistas dizem que bloqueiam tudo e são apenas eles e a música!

Ambos definitivamente! Quero dizer, torna-se um ritual rico porque é algo que fazes repetidamente e é muito semelhante de cada vez que o fazes, é quase como uma tradição... todos os anos o Natal chega e tu entras no espírito de Natal. É algo que se faz repetidamente, e entra-se num certo espaço, mas isso não significa que eu não presto atenção ao que está a acontecer! E há tantas coisas no concerto que temos que cronometrar ao segundo, portanto não se pode ter uma experiência “fora do corpo”, mas definitivamente há uma mistura dos dois.


M.I. - Como te sentes por ser famoso? Gostas ou preferes ter a tua privacidade? Quão complicado é lidar com isso?

Eu nunca penso nisso nesse sentido, exceto quando estou em tournée, onde obviamente as pessoas sabem quem eu sou. Eu cuido da minha vida diária como qualquer outra pessoa, tenho a minha família, passeio o meu cão e tudo o mais. Sou introvertido, não costumo sair, não vou muito a festas, portanto raramente penso nisso, exceto quando estou em tournée e isso é num contexto muito específico onde as pessoas sabem quem eu sou porque é por isso que estamos lá. Portanto, sou uma pessoa reservada e raramente experimento algum tipo de fama.


M.I. - Como reages quando as pessoas vão ter contigo para pedir autógrafos ou fotos? Sentes-te confortável?

Sim, não é um problema! Eu já estive nessa situação de querer ter um autógrafo e uma foto com alguém e tento ser educado e faço isso.


M.I. - Tu ainda és jovem... tens um “ídolo” que admiras por algum motivo? Se sim, fala-nos sobre ele/ela.

Acho que quando se trata dos meus ídolos musicais, é mais sobre a música do que qualquer outra coisa. Eu sempre gostei muito do Adrian Smith dos Iron Maiden e do Ace Frehley dos Kiss também, mas é puramente estético, é sobre música e expressão e aparência e tudo isso, não é sobre quem eles são como pessoas.


M.I. – Adam, o que é que os fãs podem esperar dos Tribulation nos próximos meses e quando podem esperar um novo álbum?

Bem, temos alguns festivais de verão e depois um novo álbum que vamos gravar. Quando vai sair eu não tenho a certeza, provavelmente no ano que vem!


M.I. - Muito obrigado pelo teu tempo e excelente música, Adam. Tudo de bom para ti e para os Tribulation. Poderias deixar algumas palavras finais para os vossos fãs e os nossos leitores, por favor?

Se algum de vocês já foi a um dos nossos concertos, gostaria de agradecer, é isso que nos faz continuar! Sem isso não conseguiríamos! Espero voltar a Portugal muito em breve! Como disse antes, sempre temos ótimos concertos aí e o último foi o melhor até agora, por isso o próximo pode ser ainda melhor... portanto, por favor, venham ver-nos!

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Entrevista por Sónia Fonseca